Se o quesito é indicações ao Oscar, ou mesmo vitórias, talvez não haja uma briga tão de “cachorro grande” como na categoria Melhor Trilha Sonora. Senão vejamos. Somando os cinco postulantes, são incríveis 73 indicações e sete vitórias. Definitivamente não é pouca coisa. Mas será que a relação entre lembranças da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas e as chances de êxito, desta vez, são diretamente proporcionais? É isso que analisaremos no artigo a seguir, pesando os sucessos nas chamadas premiações “termômetro”, bem como em outras cuja força simbólica é tamanha que pode funcionar como influência aos votantes. Afinal de contas, a trilha sonora é um elemento imprescindível – claro, quando a proposta é ter algum tipo de trilha, pois há excelentes produções que prescindem da música. Mas, pense bem, quantos filmes se tornaram inesquecíveis em virtude de sua trilha sonora? Ou, o que é ainda mais comum, quantas músicas foram eternizadas pela relação estabelecida com cenas importantes? Bom, sem mais delongas, vamos analisar o panorama da categoria Melhor Trilha Sonora.

 

Indicadas

 

FAVORITO (INCLUSIVE O NOSSO): A Forma da Água (Alexandre Desplat)
Como é bonita essa trilha do francês Alexander Desplat para A Forma da Água! E, para além dele ser o favorito do nosso coração, porque provavelmente Desplat levará sua segunda estatueta para casa? Primeiro de tudo, ele venceu o Globo de Ouro e o Critics Choice Award, além de garantir o troféu da categoria no tradicional Festival de Veneza. Está indicado ao BAFTA, com status de favorito. Não bastasse isso, a trilha de Desplat foi eleita a melhor do ano pelas associações dos críticos de Austin, Boston, Ohio, Dallas, Houston, Indiana, Las Vegas, Phoenix e Utah. Com esse retrospecto, somado ao prestígio que Desplat tem em Hollywood – suas nove indicações ocorreram de 2007 para cá, inclusive, claro, a vitória em 2015 por O Grande Hotel Budapeste –, dá para cravar seu amplo favoritismo. É bom seus concorrentes relaxarem, pois é muito difícil que a estatueta aqui escape de A Forma da Água.

 

AZARÃO: Dunkirk (Hans Zimmer)
Hans Zimmer é outro íntimo do Oscar. Com a deste ano, o alemão radicado nos Estados Unidos chegou à sua 10ª indicação – e ele venceu em 1995 pelo belíssimo trabalho em O Rei Leão. Especificamente pela trilha de Dunkirk, ele foi nominado ao Globo de Ouro, ao BAFTA, a diversos prêmios de associações de críticos, nesta seara garantindo a vitória entre os profissionais de Denver. É pouco, aliás, muito pouco para fazer frente ao franco favoritismo de Alexander Desplat. Mas, levando em consideração que a zebra pode sempre passear, não é tão absurdo, assim, acreditar que esse veterano possa surpreender e quebrar a banca de muito bolão por aí que, com razão, vai apostar as fichas no longa-metragem de Guillermo del Toro. Hans, entretanto, a gente te indica segurar a onda, aproveitar a noite, dar aquela risadinha protocolar quando anunciado o campeão, cuidando para não transparecer desapontamento. Curte a festa, jovem, toma umas biritas por nós!

 

QUE TIRO FOI ESSE?: Star Wars: Os Últimos Jedi (John Williams)
É assustador, a gente sabe. John Williams, SOZINHO, possui 51 indicações ao Oscar. Neste quesito, só perde para Walt Disney e suas 59 lembranças pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Mas, afora os reconhecimentos, Williams é, mesmo, um dos maiores profissionais de sua área. Senão vejamos. Sabem os temas de Star Wars, Tubarão (1975), Indiana Jones e o Templo da Perdição (1984), ET.: O Extraterrestre (1982), e Superman: O Filme (1978), só para citar os mais “chiclete”, que entraram para a história do cinema? Tudo obra de Williams. Mas, para a galera do “copo meio vazio”, dá para dizer que o maestro e compositor, também, é o maior perdedor dos noventa anos do Oscar, já que, das 51 nominações, ele transformou “apenas” 5 em vitória – por Um Violinista no Telhado, em 1972; Tubarão, em 1976; Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança, em 1978; ET.: O Extraterrestre, em 1983; e A Lista de Schindler, em 1994). Ele tem em 2018 pouca chance de ganhar sua sexta estatueta, vide o desempenho fraco em outros prêmios. Mas já tá bom, né?

 

IMAGINA A FELICIDADE DO “GAROTO”: Trama Fantasma (Jonny Greenwood)
Comparado aos concorrentes mais experientes, Jonny Greenwood é um garoto. Britânico nascido em 1971, ele colhe os louros por seu elogiado trabalho em Trama Fantasma, o que acarretou, inclusive, a sua primeira indicação ao Oscar. E olhem que não foi apenas para a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas que ele se saiu muito bem. Jonny foi indicado ao Globo de Ouro, ao BAFTA, ao Critics Choice Award e levou para casa os prêmios da associações dos críticos de Chicago, Los Angeles,  Seattle, St. Louis e Phoenix (na cidade há duas entidades de críticos, esta é a Phoenix Critic Circle). É realmente pouco provável que o britânico chegue a ganhar o Oscar em 2018, mas apenas o fato de competir ombro a ombro com gigantes do calibre de Alexander Desplat, Hans Zimmer e John Williams já deve deixar esse promissor profissional com a sensação de missão cumprida, com bastante razão.

 

NEM DEVERIA FIGURAR NA LISTA: Três Anúncios Para um Crime (Carter Burwell)
Esta é a segunda indicação de Carter Burwell ao Oscar – a primeira foi em 2016 por Carol. Embora tenha sido nominado, também, ao Globo de Ouro e tenha levado para casa o prêmio do British Independent Film Awards, faltam vitórias mais substanciais para que ele possa se colocar como um concorrente forte. Parece um daqueles casos clássicos em que a força do filme, neste caso Três Anúncios Para Um Crime, puxou uma série de profissionais com ele envolvidos a uma posição de destaque no Oscar. Isso porque muita gente, incluindo o autor deste artigo, acredita que Carter nem ao menos deveria concorrer, em virtude da forma como a trilha sonora se coloca, às vezes de maneira desajeitada, no longa-metragem dirigido por Martin McDonagh. Carter, ouve a gente aqui: pega um bom lugar na plateia, mas não se preocupa em ficar muito perto do palco, porque você não vai precisar subir nele. Foi mal.

 

ESNOBADO: John Williams, por The Post: A Guerra Secreta
Vocês vão achar que a gente tá de sacanagem em colocar John Williams como esnobado, mas é bom atentar para o trabalho em questão. Não seria melhor, ao invés dele concorrer por Star Wars: Os Últimos Jedi, entrar na briga pelo longa-metragem de Steven Spielberg? Afinal de contas, The Post: A Guerra Secreta foi indicado ao Globo de Ouro e ao Critics Choice Award na categoria Melhor Trilha Sonora. Questão quase matemática. Pelo filme dirigido por Ryan Johnson, Williams foi relativamente pouco lembrado. Já pelo de Spielberg veio a maior parte das indicações dele no ano, levando em consideração as diversas premiações ao redor do mundo. Então, porque cargas d’água ele não concorre por The Post: A Guerra Secreta? Mistérios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas cujos porquês não conseguimos entender.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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