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Sinopse

A praia de Amity é aterrorizada pelo ataque de um descomunal tubarão branco. A prefeitura não quer alarmar os banhistas por medo de perder dinheiro com o movimento turístico. O xerife local pede ajuda a um especialista e a um pescador veterano para caçar o animal.

Crítica

Poucos blockbusters são memoráveis o bastante para se tornarem clássicos do cinema, por conta não apenas de sua grandiosidade, mas também da riqueza artística e técnica. Pois este título não poderia ser mais perfeito neste sentido. Primeiro, porque foi com Tubarão que as grandes produções do chamado cinemão hollywoodiano começaram a ter a alcunha de blockbuster, em virtude de sua bilheteria devastadora. Segundo, pois esta é uma obra que mistura suspense, drama e ação na medida certa, numa dosagem que vai muito além da boa qualidade e atinge parâmetros que poucos outros títulos do gênero conseguiram até hoje.

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Uma das obras-primas de Steven Spielberg e também uma de suas primeiras produções, Tubarão tem um mote simples: numa temporada em que turistas tomam conta da cidade litorânea de Amity, o novo chefe de polícia local, Martin Brody (Roy Scheider), se depara com a ameaça de um tubarão branco que começa a atacar os veranistas numa região fora de sua área. O prefeito, Larry Vaugh (Murray Hamilton), não dá bola para os avisos do oficial e tampouco interrompe a programação turística, o que leva a mais vítimas. Quando a situação se torna insustentável, Brody busca o auxílio do pescador de tubarões Quint (Robert Shaw) e do oceanógrafo Matt Hooper (Richard Dreyfuss) para caçar o animal e frear o veraneio sangrento.

Spielberg demonstra muito cedo sua habilidade com as câmeras ao entender que não é apenas o tubarão que causa medo, mas sim a sua presença. Não à toa demoramos a enxergá-lo em toda sua magnitude. Bom aprendiz de mestres do suspense, como Alfred Hitchcock, o cineasta prefere ao longo da narrativa sugerir a ameaça, mas sem dar formato físico a ela. Nos primeiros cinco minutos de filme, acompanhamos uma turista feliz nas águas aproveitando suas férias até que, com a ajuda imprescindível da trilha sonora de John Williams, começamos a notar algo errado. A câmera do diretor se torna os olhos do tubarão e, assim, aprendemos como ele funciona, como faz suas vítimas. Há sangue, mas não membros decepados. Há uma mulher horrorizada com aquilo que está à sua frente e logo a captura, deixando o espectador aflito pelo desenlace esperado, mas não menos perturbador.

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E é justamente o trabalho conjunto de som e trilha sonora que eleva o medo da criatura. Nunca houve tanto terror sob as águas como o proporcionado por Spielberg neste filme. Em todas as sequências de vislumbre do mar o pavor toma conta. Afinal, de onde o tubarão vai surgir? Quem ele vai atacar? Será que veremos sua face? O cineasta solta as migalhas aos poucos numa construção narrativa de difícil, mas eficiente manipulação. Até que o animal apareça para seu antagonista, a única coisa que conseguimos imaginar com o que ouvimos é que todos precisam pisar em ovos e entender onde estão se metendo. Quando ele surge com toda sua ferocidade, a perturbação se torna ainda mais crescente. Afinal, se já sabíamos do que ele era capaz, o que pensar agora que tomamos ciência de seu tamanho e intuímos ser praticamente impossível escapar?

Ambientalistas e apoiadores da causa reclamaram por muito tempo do retrato do tubarão branco, como animal carnívoro e impiedoso, já que, na realidade, ele apenas ataca quando precisa se defender. A maior parte das críticas tem seu fundamento, já que as caçadas ao espécime aumentaram vertiginosamente desde que o filme foi lançado. Afinal, a arma do cinema, ainda que ficção, é seu reflexo na realidade. No caso, o medo deste bicho. Ainda assim, o valor do longa não deve ser menosprezado, pois a situação vai muito além do homem contra a natureza e vice-versa.

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Tubarão é um obra que causa muito mais terror do que qualquer produção meia-boca de fantasmas e afins que foi lançada desde então. Mesmo 40 anos depois de sua estreia é um título que se tornou atemporal por conta de sua qualidade. Como Spielberg ainda era um astro buscando seu lugar no meio da nata de diretores consagrados, poucos levaram a sério seu projeto na época. Acharam arriscado, quase ninguém quis investir. O resultado foi um bilheteria estratosférica e três Oscar na bagagem (Som, Trilha Sonora e Edição), além de diversos outros prêmios. Acima de tudo, o reconhecimento de um cineasta que já demonstrara ter um talento para alçar voos cada mais altos, o que só se comprovou com o passar do tempo.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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