Há exatamente uma década a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood tem apontado mais de cinco, porém menos de dez títulos entre os seus “melhores do ano” (sempre oito ou nove finalistas). Em apenas duas ocasiões anteriores – em 2010 e em 2011 – tivemos exatamente uma dezena de concorrentes na categoria principal (antes, por várias décadas o número de indicados era fechado em apenas cinco). Mas como mudar é preciso, estamos de volta com a quantidade de dez longas. Seriam eles, no entanto, exatamente os melhores? Essa resposta é controversa – tanto que, no final deste artigo, iremos apontar ao menos um esquecido que merecia ter aparecido na lista final. Mas, ao menos, serve como um belo cenário a respeito de muito que foi feito – e visto – na tela grande na última temporada. A seguir, confira as nossas apostas para cada um dos indicados, elencando suas chances, expectativas e probabilidades de levarem para casa o “ouro” hollywoodiano:
INDICADOS
- Belfast (Laura Berwick, Kenneth Branagh, Becca Kovacik, Tamar Thomas)
- No Ritmo do Coração (Philippe Rousselet, Fabrice Gianfermi, Patrick Wachsberger)
- Não Olhe para Cima (Adam McKay, Kevin Messick)
- Drive My Car (Teruhisa Yamamoto)
- Duna (Mary Parent, Denis Villeneuve, Cale Boyter)
- King Richard: Criando Campeãs (Tim White, Trevor White, Will Smith)
- Licorice Pizza (Sara Murphy, Adam Somner, Paul Thomas Anderson)
- O Beco do Pesadelo (Guillermo del Toro, J. Miles Dale, Bradley Cooper)
- Ataque dos Cães (Jane Campion, Tanya Seghatchian, Emile Sherman, Iain Canning, Roger Frappie)
- Amor, Sublime Amor (Steven Spielberg, Kristie Macosko Krieger)
FAVORITO
Ataque dos Cães
Só mesmo um desastre para impedir que Ataque dos Cães
não saia da festa dessa ano consagrado com o prêmio máximo da noite! Para se ter uma ideia, o longa de Jane Campion já foi premiado até o momento no Bafta, Critics Choice, Globo de Ouro e em dezenas de associações regionais de críticos por todos os Estados Unidos. É um dos finalistas também do PGA – Producers Guild of America Awards, o sindicato dos produtores, o mais importante precursor da temporada. E é, por fim, o campeão de indicações deste ano, tendo recebido 12 lembranças em 11 diferentes categorias. Ou seja, é aquele contra qual todos os demais seguem na luta. Um fator importante a ser considerado, com todos os prós e contras envolvidos, é ter sido distribuído pela Netflix (a exibição nos cinemas foi limitada). Estaria a Academia pronta para dar o seu primeiro “Melhor Filme” para a gigante do streaming, feito que outros títulos da casa, como Roma (2018), História de um Casamento (2019), O Irlandês (2019), Mank (2020) e Os 7 de Chicago (2020) tentaram e não conseguiram? Por outro lado, não está mais do que na hora de deixar esse viés ranzinza de lado e aceitar que esta é a nova realidade? Quem viver, verá.
Indicações: Filme, Direção, Ator (Benedict Cumberbatch), Atriz Coadjuvante (Kirsten Dunst), Ator Coadjuvante (Kodi Smit-McPhee), Ator Coadjuvante (Jesse Plemons), Roteiro Adaptado, Design de Produção, Som, Fotografia, Montagem e Trilha Sonora
Onde assistir? Netflix
MERECE
No Ritmo do Coração
Distribuído nos Estados Unidos pela AppleTV+ (porém, no Brasil, encontra-se no catálogo da Amazon Prime Video por uma questão de direitos autorais), esse remake do francês A Família Belier (2014) – que chegou a receber seis indicações ao César, o “Oscar” da França – é o que se convencionou chamar nos Estados Unidos como crowd-pleaser, ou seja, aquele título que é capaz de agradar a qualquer tipo de público, dos mais exigentes aos meros curiosos. A história de uma família de deficientes auditivos e a filha caçula, a única a ter perfeita audição, que curiosamente sonha em se tornar cantora, é capaz de envolver e emocionar em iguais proporções. Tanto é que ganhou o prêmio da Hollywood Critics Association e como Melhor Elenco no SAG – o Screen Actors Guild, o sindicato dos atores – um importante precursor nessa categoria, além de ter sido indicado também ao Critics Choice, Globo de Ouro, ao PGA e o troféu da audiência no Festival de Sundance, de onde saiu como o mais aplaudido de toda a seleção. Se ganhar, o que parece pouco provável, seria uma daqueles momentos que todos aplaudiriam com lágrimas nos olhos, tanto pela surpresa, como pelo merecimento.
Indicações: Filme, Ator Coadjuvante (Troy Kotsur) e Roteiro Adaptado
Onde assistir? Amazon Prime Video
TORCIDA
Amor, Sublime Amor
O primeiro longa dirigido por Steven Spielberg a concorrer a Melhor Filme foi Tubarão (1975), há quase meio século. Desde então, outros onze trabalhos do cineasta já alcançaram esse reconhecimento máximo, no decorrer de cinco décadas. Um feito mais do que impressionante. E pensar que Amor, Sublime Amor é só o primeiro musical que o mestre dirige! Remake do clássico de 1961 – que, por sua vez, ganhou nada menos do que 10 Oscars – recebeu sete indicações e apareceu entre os finalistas de todas as principais premiações do ano, do Critics Choice ao PGA. Como “Melhor Filme”, no entanto, só os críticos de New Mexico e no Globo de Ouro – e, nesse, ainda na ‘subdivisão’ de Musical ou Comédia. Enfim, tem poucas chances de vitória, é certo. Mas isso não nos impede de torcer até o último minuto, pois mérito envolvido há – e com sobra!
Indicações: Filme, Direção, Atriz Coadjuvante (Ariana DeBose), Design de Produção, Som, Figurino e Fotografia
Onde assistir? Disney+
AZARÃO
Belfast
Eleito “Melhor Filme Britânico” no Bafta, Belfast é o trabalho mais confessional do diretor Kenneth Branagh – que, dessa vez, se manteve apenas atrás das câmeras. Aliás, Branagh alcançou nesse ano, pessoalmente, a impressionante marca de oito indicações ao Oscar em sete diferentes categorias! Ele já havia concorrido em anos anteriores como Melhor Ator, Curta de Ficção, Roteiro Adaptado, Ator Coadjuvante e Direção. Dessa vez, recebeu sua segunda indicação como diretor (com um intervalo de mais de três décadas entre as duas), além de Roteiro Original e como Produtor. Por tudo isso – e também, claro, por ser um membro bastante ativo na comunidade hollywoodiana – pode-se apostar que terá muita gente entre os votantes torcendo por ele. Mas será o suficiente para vitória? Improvável. É o que aponta, ao menos, as dezenas de indicações que recebeu nessa temporada, todas sem vitória. Os únicos a apontarem esse como o melhor filme do ano foram os críticos de Iowa, Phoenix , Washington e de Las Vegas, além do prêmio do público no Festival de Toronto. Ou seja, está na corrida. Mas não deve ir além disso.
Indicações: Filme, Direção, Ator Coadjuvante (Ciarán Hinds), Atriz Coadjuvante (Judi Dench), Roteiro Original, Canção Original e Som
Onde assistir? Cinemas
NEGAÇÃO
King Richard: Criando Campeãs
Desde que se aumentou de cinco para dez os indicados a Melhor Filme, no mínimo cinco dos finalistas ficaram em desvantagem, pois não estariam concorrendo na categoria de Melhor Direção (que seguiu com apenas cinco selecionados). Afinal, como ser o melhor de todos, se não possui, também, ao menos um dos melhores realizadores? King Richard: Criando Campeãs vai além: com seis indicações recebidas, é o franco favorito em apenas uma, na de Melhor Ator. Will Smith é um dos maiores astros do planeta, e a impressão é que seus colegas só estavam esperando por uma oportunidade minimamente adequada para, enfim, reconhecê-lo com a estatueta dourada. Eleito o melhor filme do ano apenas na premiação do Black Film Critics Circle e no Black Reel (voltadas apenas ao reconhecimento do cinema negro norte-americano), não conseguiu o mesmo destaque em outras agremiações similares, como na Associação dos Críticos Afro-Americanos (que reconheceu Vingança & Castigo no lugar). Enfim, sua presença é uma demonstração do poder e da popularidade do seu protagonista. E não mais do que isso.
Indicações: Filme, Ator (Will Smith), Atriz Coadjuvante (Aunjanue Ellis), Montagem, Roteiro Original, Canção Original
Onde assistir? HBO Max
POLÍTICO
Não Olhe Para Cima
Assim como nos dois últimos anos, a Netflix conseguiu mais uma vez emplacar dois finalistas na categoria principal do Oscar. E se por um lado o grande favorito é da casa, esse aqui parece ter conseguido uma vaga muito em parte pela polêmica que gerou nas redes sociais ao ser lançado pela plataforma, evidenciando um forte apelo popular motivado pela divisão no discurso político entre direita e esquerda, algo que tem se acentuado radicalmente nos últimos anos. Estrelado por um elenco impressionante, que conta com nomes como Leonardo DiCaprio, Jennifer Lawrence, Meryl Streep, Cate Blanchet e Timothee Chalamet, foi indicado ao Bafta, Critics Choice, Globo de Ouro e PGA, e durante a temporada inteira, das quase noventa indicações que recebeu nas mais diversas premiações e categorias, ganhou apenas em 13 delas – e nenhuma, aliás, como ‘melhor filme’. Ou seja, é um filme que todo mundo falou a respeito. Mas que não foi além do óbvio, dividindo opiniões: quem gostou, amou, e quem não curtiu, detestou. E era isso, sem mudar ninguém de ideia.
Indicações: Filme, Montagem, Trilha Sonora e Roteiro Original
Onde assistir? Netflix
SURPRESA
Drive My Car
A Academia tem se esforçado nos últimos anos a tornar sua premiação cada vez mais representativa não apenas nos Estados Unidos, mas no mundo inteiro. Um bom exemplo disso foi a impressionante vitória do sul-coreano Parasita (2019) há dois anos. Porém, o japonês Drive My Car não é Parasita, com tudo de bom – e de ruim – que tal conclusão acarreta. Se por um lado trata-se de um longa muito mais profundo, intimista e reflexivo, por outro causa espanto o quão forte acabou ressonando junto aos votantes internacionais. Grande vencedor da Academia Japonesa de Cinema e do Asia Pacific Screen Awards, no Ocidente se firmou como o grande favorito na categoria de Melhor Filme Internacional, mas conseguirá ir além dela? Como “Melhor Filme” foi indicado pelos críticos de Atlanta, Chicago, Denver, Indiana, Londres, Carolina do Norte, Phoenix, São Francisco e Southeastern, e ganhou junto aos prestigiados críticos de Los Angeles, Nova York e Seattle, além da Sociedade Nacional dos Críticos de Cinema dos EUA. Como se percebe, é o favorito da crítica especializada. Mas terá essa mesma penetração junto à indústria?
Indicações: Filme, Direção, Roteiro Adaptado e Filme Internacional
Onde assistir? Cinemas e na MUBI (a partir de 01/04)
CONTROVERSO
O Beco do Pesadelo
Esse é um convidado de luxo na festa deste ano. O mais recente longa-metragem dirigido por Guillermo Del Toro não tem grandes chances em nenhuma das quatro categorias a que foi indicado, essa é a grande verdade. Por outro lado, trata-se do novo trabalho de um cineasta muito respeitado, recém saído de uma vitória impressionante no Oscar – seu longa anterior foi A Forma da Água (2017), que ganhou quatro estatuetas, inclusive a de Melhor Filme, há alguns anos. Esse filme de agora, no entanto, tem dividido opiniões. Por um lado, há os que aplaudem os aspectos técnicos – devidamente reconhecidos pelas indicações – e o elenco, que inclui nomes de destaque, como Bradley Cooper, Cate Blanchett, Rooney Mara e Willem Dafoe. Agora, há também os que viraram o nariz para esse remake de O Beco das Almas Perdidas (1947), thriller estrelado por Tyrone Power, afirmando que o original era mais sutil e menos explícito em suas intenções. Enfim, é um título interessante, que merece ser conhecido. Mas está longe de figurar nas primeiras posições dessa corrida.
Indicações: Filme, Design de Produção, Figurino e Fotografia
Onde assistir? Star +
INDIE
Licorice Pizza
Esse é um dos concorrentes com o menor número de indicações: concorre em apenas três categorias (assim como No Ritmo do Coração). Porém, são todas de respeito – afinal, é um dos finalistas em Direção, também. E o condutor por trás da obra é o conceituado Paul Thomas Anderson, que chegou, nesse ano, ao total de 11 indicações – sem nunca ter ganhado, ao menos até agora. Será que sua sorte irá mudar? Muitos torcem por isso, afinal, ele tem histórico – e talento – de sobra para merecer essa honra. Seu mais recente longa, Licorice Pizza, foi eleito o melhor do ano apenas no National Board of Review e pelos críticos de Atlanta, Georgia, St. Louis e de Oklahoma, mas foi indicado a praticamente tudo, do Globo de Ouro ao Bafta, do Critics Choice ao PGA. Sempre muito lembrado, mas também independente demais para ser alçado a posição do grande escolhido.
Indicações: Filme, Direção e Roteiro Original
Onde assistir? Cinemas
BLOCKBUSTER
Duna
De todos os dez indicados deste ano, esse foi o que se saiu melhor nas bilheterias: foram mais de US$ 400 milhões arrecadados no mundo todo. Se levar em conta de que nos Estados Unidos – o maior mercado exibidor – sua estreia no streaming foi simultânea ao lançamento nos cinemas, esse número pode mais do que dobrar. Afinal, os cenários são deslumbrantes, os efeitos fundamentais para o desenrolar da trama, e o elenco é de deixar qualquer um com inveja: Timothée Chalamet, Zendaya, Oscar Isaac, Rebecca Ferguson, Jason Momoa, Josh Brolin, Javier Bardem, Dave Bautista, Charlotte Rampling e Stellan Skarsgard! Não por acaso, é o filme com o segundo maior número de indicações dessa edição (concorre em dez categorias), e foi indicado a Melhor Filme em quase todas as premiações da temporada, do Bafta ao PGA, do Globo de Ouro ao Critics Choice. A vitória, porém, foi um resultado que absolutamente nenhuma agremiação lhe concedeu, nem mesmo a mais obscura associação regional de críticos. Ou seja, não vai ser diferente no Oscar. Vai fazer a festa nas categorias técnicas, pode apostar – tem chances, inclusive, de ser o filme mais premiado do ano, em número de estatuetas – mas, por aqui, a probabilidade de ser chamado ao abrirem o envelope é praticamente zero!
Indicações: Filme, Roteiro Adaptado, Efeitos Visuais, Design de Produção, Montagem, Figurino, Fotografia, Trilha Sonora, Maquiagem & Cabelos e Som
Onde assistir? HBO Max
ESQUECIDO
A Filha Perdida
A lógica apontaria para Apresentando os Ricardos ou tick, tick…BOOM! como os dois grandes “esquecidos” deste ano na categoria de Melhor Filme. Isso porque ambos estão entre os finalistas ao prêmio do Sindicato dos Produtores – ocupando as vagas de Drive My Car e de O Beco do Pesadelo. Mas nem Ricardos, nem BOOM! parecem carregar consigo uma aura de “o grande longa da temporada”, não é mesmo? São bacanas, possuem suas qualidades, mas não mais do que isso. Bem diferente de A Filha Perdida, trabalho de estreia de Maggie Gyllenhaal como cineasta. A partir do livro homônimo de Elena Ferrante, a diretora novata construiu uma história envolvente e perturbadora, mostrando habilidade não apenas em elaborar uma narrativa, mas também em manejar os elementos fílmicos a seu dispor, como cenário, sons e, claro, no trato com os atores – tanto Olivia Colman quanto Jessie Buckley foram indicadas. Eleito – veja só! – o melhor título da temporada tanto no Film Independent Spirit como no Gotham Awards (as duas mais importantes premiações do cinema independente norte-americano), junto aos votantes da Academia teve um impacto menor, tendo que se contentar com apenas três indicações. O que não diminui, em nada, os seus diversos méritos.
Indicações: Atriz (Olivia Colman), Atriz Coadjuvante (Jessie Buckley) e Roteiro Adaptado
Onde assistir? Netflix
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