O ano de 2020 pegou todo mundo de surpresa. A pandemia do covid-19 e o processo de adaptação que o planeta inteiro teve pela frente gerou mudanças em todas as áreas, e no cinema não foi diferente. Com a maioria dos eventos cinematográficos presenciais cancelados, muitos tentaram sobreviver através de edições virtuais, com os resultados mais diversos. Mas, se por um lado faltaram blockbusters, aqueles grandes lançamentos que “fale bem ou fale mal” tá todo mundo falando a respeito, sobraram bons filmes brasileiros e estrangeiros, de drama e comédia, suspense e terror, documentários e ficção. A ideia com essa matéria é justamente compartilhar com você, nosso leitor, um pouco do que já vimos – e que deverá ser distribuído no circuito comercial, seja nos cinemas (ao menos naqueles abertos, é claro) ou pelas plataformas de streaming, nas próximas semanas (ou meses, em alguns casos). Em comum, apenas o fato de que já foram exibidos em sessões especiais – festivais e premières – e que possuem previsão de estreia ainda para 2021! Ficaram animados? Então, confiram a seguir as nossas dicas daquilo que a gente garante que é imperdível nessa nova temporada!
A Mulher que Fugiu
(Domangchin Yeoja, Coréia do Sul, 2020)
O cinema sul-coreano segue em alto. Após Parasita (2019), vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes e do Oscar de Melhor Filme, a aposta para a próxima “pérola” local a ser descoberta é esse A Mulher que Fugiu, de Hong Sang-soo, cineasta premiado em Cannes por Hahaha (2010), em Roterdã por O Dia em que o Porco caiu no Poço (1997) e em Locarno por Certo Agora, Errado Antes (2015), entre outros. Por esse filme mais recente, vem conquistando novos troféus, como o de Melhor Direção no Festival de Berlim, o da crítica pela Associação de Críticos de Cinema Coreanos e uma menção especial em San Sebastian, além de ter sido apontado como um dos dez melhores filmes do ano pela prestigiosa revista Cahiers du Cinema.
O que nós achamos: “O diretor prefere os dias como quaisquer outros, de tempos mortos, céus nublados, jantares nem bons nem ruins. É fácil se identificar com as protagonistas desse filme feminino, e reconhecer esta visão tragicômica da arte – a sala de cinema vazia, a performance artística nunca desempenhada de fato. O humor se sobressai em cada cena por sublinhar elementos que, na maioria dos filmes, não virariam cinema. Esta é uma experiência de generosa humanidade e empatia”. Confira na íntegra a crítica de Bruno Carmelo
Previsão de estreia: 21 de janeiro
A Boa Esposa
(La Bonne Épouse, França/Bélgica, 2020)
Exibido pela primeira vez no Brasil como parte da programação do Festival Varilux de Cinema Francês, essa divertida comédia romântica passou por um circuito de festivais internacionais ao longo do último ano, como os de Istambul, Londres e Tapis Rouge, na Holanda, entre outros. Estrelado pela sempre incrível Juliette Binoche, conta a história de uma mulher que descobre a si mesma apenas após à morte do marido, assumindo para si a tarefa de cuidar da escola que o casal fundou tantos anos antes. Na direção está o cineasta Martin Provost, de outras histórias assumidamente femininas, como O Reencontro (2017) e Violette (2013). Ainda no elenco, nomes de destaque do cinema francês atual, como Edouard Baer e Noemie Lvovsky.
O que nós achamos: “Chegando aos dez minutos finais da projeção, ainda restam diversos conflitos a finalizar, inúmeras promessas a concretizar. Como o roteiro resolveria tantas ações, em tão pouco tempo? O diretor aposta no gesto mais grandioso e rebelde de todos: um número musical. Nada preparava o espectador para este desfecho colorido, coreografado, lúdico.” Confira na íntegra a crítica de Bruno Carmelo
Previsão de estreia: 21 de janeiro
Verão de 85
(Été 85, França/Bélgica, 2020)
Outro destaque da última edição do Festival Varilux de Cinema Francês, o mais recente longa do cineasta François Ozon (que mantém um ritmo impressionante de um novo filme por ano) é uma história de amor com toques de suspense, inspirado em clássicos do cinema hollywoodiano, como Festim Diabólico (1948), de Alfred Hitchcock, e De Repente, No Último Verão (1959), de Joseph L. Mankiewicz. Alexis (Félix Lefebvre) e David (Benjamin Voisin) se conhecem e se apaixonam em um dia quente de verão, mas desde o início o espectador sabe que o romance não dará certo, pois antes do fim da estação, o último estará morto. Qual a parcela de culpa do primeiro no triste fim do seu amante? E o que a mãe do falecido tem a ver com a história dos dois? Exibido no Festival de San Sebastian e indicado ao European Film Awards, também foi selecionado para o Festival Mix Brasil!
O que nós achamos: “O filme se demonstra uma atividade prazerosa não pela rigidez do cineasta, que segue a fórmula proposta em todos os âmbitos, mas também rica em detalhes ao perceber como o condutor dessa nova história é eficiente em recriar elementos consagrados e tornar a oferecer os mesmos ao público de uma maneira revigorada e enriquecedora”. Confira na íntegra a crítica de Robledo Milani
Previsão de estreia: 04 de fevereiro
O Silêncio da Chuva
(Brasil, 2020)
Exibido hors concours na sessão de encerramento do 30º Cine Ceará, um dos únicos festivais nacionais a ter realizado sessões presenciais em 2020, o mais recente longa do veterano diretor Daniel Filho é baseado no livro de Luiz Alfredo Garcia-Roza, mesmo autor de romances que foram adaptados para o cinema em Achados e Perdidos (2007) e Berenice Procura (2017). Lázaro Ramos assume o papel do detetive Espinosa (que foi do saudoso Domingos Montagner na série Romance Policial: Espinosa, 2015) e fica responsável pela investigação de um crime ocorrido em pleno centro do Rio de Janeiro: o assassinato de um poderoso empresário, encontrado morto dentro do próprio carro, em uma noite chuvosa. Claudia Abreu, Mayana Neiva, Otavio Müller, Pedro Nercessian, Bruno Gissoni, Guilherme Fontes e uma ótima Thalita Carauta também estão no elenco repleto de rostos conhecidos.
O que nós achamos: “Este suspense tenta reconciliar televisão e cinema, aproximando o audiovisual brasileiro das convenções do cinema de gênero, em resultado às vezes desengonçado, porém com ritmo eficaz e distribuição funcional de conflitos entre uma dúzia de personagens”. Confira na íntegra a crítica de Bruno Carmelo
Previsão de estreia: 08 de abril
O Livro dos Prazeres
(Brasil, 2020)
Baseado no romance homônimo de Clarice Lispector, o filme da diretora Marcela Lordy foi um dos destaques da última edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. No elenco, destaque para os protagonistas, interpretados pela brasileira Simone Spoladore e pelo argentino Javier Drolas, que se tornou conhecido por aqui ao estrelar Medianeras: Buenos Aires na Era do Amor Virtual (2011), em seu segundo trabalho com cineastas brasileiros – após Severina (2017), de Felipe Hirsch. Ela aparece como Lóri, uma mulher melancólica que nunca conseguiu se apegar a ninguém. Isso começa a mudar ao conhecer Ulysses, um professor de Filosofia. Felipe Rocha, Martha Nowill e Leandra Leal também marcam presença.
O que nós achamos: “O resultado é um drama adulto, nos vários sentidos do termo: maduro em suas escolhas estéticas, capaz de abordar sentimentos com a devida complexidade (sem transformar pessoas apaixonadas em adolescentes, a exemplo de tantos filmes românticos), privilegiando a contemplação à ação. O drama investe numa duração dos planos e uma temporalidade dos personagens muito saudável para o cinema brasileiro.” Confira na íntegra a crítica de Bruno Carmelo
Previsão de estreia: 26 de agosto
Ema
(Chile, 2019)
Cineasta chileno indicado ao Oscar (No, 2012), Pablo Larraín, depois de sua primeira experiência no cinema norte-americano (Jackie, 2016), decidiu voltar ao seu país de origem e mais uma vez trabalhar com seu ator favorito, Gael Garcia Bernal. O resultado é esse Ema, uma história de amor de forte impacto visual. Premiado no Festival de Veneza e exibido em San Sebastian, o drama teve uma sessão especial de apenas um dia pelo serviço de streaming Mubi, e agora está previsto para chegar aos cinemas pela Imovision. No centro da ação, como um casal deve lidar após um processo de adoção que acaba saindo bem diferente do imaginado? Mariana Di Girolamo, como a personagem-título, e Santiago Cabrera são outros destaques do elenco.
O que nós achamos: “A dinâmica da dança se encarrega de ditar o caráter performático da narrativa, algo que confere às questões íntimas uma natureza bem próxima ao transcendente. Ema é uma dançarina. Sua inquietude surge tanto no estabelecimento dos elos afetivos quanto nas ocasiões de expressão puramente física. Esse corpo é análogo ao astro-rei no fundo da apresentação, cujas tempestades solares funcionam como metáforas dos rompantes de aparente insensatez que tornam essa protagonista volátil, mas muito magnética”. Confira na íntegra a crítica de Marcelo Müller
Previsão de estreia: 2021
Um Animal Amarelo
(Brasil/Portugal/Moçambique, 2020)
O cineasta brasileiro Felipe Bragança foi a Portugal e Moçambique para filmar esse épico experimental sobre um homem em busca das suas raízes. Alternando nomes conhecidos, como Isabel Zuáa, Sophie Charlotte, Thiago Lacerda e Herson Capri, com novos talentos, como Higor Campagnaro, Tainá Medina, Matamba Joaquim e Lucília Raimundo no elenco, o filme é uma grande viagem psicodélica entre passado e futuro, destacando as origens do nosso país e como a sua formação segue sendo um processo ativo até hoje. Exibido pela primeira vez no Festival de Roterdã, foi destaque no Festival de Gramado, de onde saiu com os kikitos de Melhor Atriz (Zuáa), Direção de Arte, Roteiro, Júri da Crítica e uma menção especial para o protagonista (Campagnaro).
O que nós achamos: “É um filme poroso, que evita se prender a lógicas cartesianas nesse processo de organização do mundo a partir dos estilhaços de um passado lancinante. O diretor cria camadas entre o fato consumado e a representação, atribuindo às fontes narrativas um papel indiscutivelmente importante. Tudo é farsa, verdade e inventado nesse filme arrojado que evita interditar o elo entre imaginação e fabulação”. Confira na íntegra a crítica de Marcelo Müller
Previsão de estreia: 2021
Ana. Sem Título
(Brasil, 2020)
A veteraníssima cineasta Lúcia Murat, já premiada em todos os principais festivais de cinema brasileiros – Brasília, Gramado, Rio de Janeiro, Paulínia – e também no exterior – Huelva, Mar Del Plata, Moscou, Paris – está de volta com mais uma história fortemente feminina. Stela, a protagonista, é uma jovem atriz que decide montar um espetáculo a partir da leitura de cartas trocadas entre artistas latino-americanos nos anos 1970 e 1980. A jovem Stella Rabello interpreta a protagonista desse drama que foi recebido com entusiasmo na última edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Felipe Rocha e a argentina Mirta Busnelli são outros destaques do elenco desse bem-sucedido misto de documentário com ficção.
O que nós achamos: “A diretora acrescenta camadas à narrativa demarcada por jogo cênico que mistura fatos e criação. Ela própria se coloca na trama, deixando-se ser inquirida, refletindo acerca da busca pelos fragmentos da feminilidade latina em tempos de repressão, inclusive cedendo-se como peça ao inspirador quebra-cabeças. O filme costura experiências heterogêneas, não esclarecendo no decurso quais são verdadeiras e as que eventualmente foram fabricadas de acordo com uma aspiração previamente organizada. Há bons indícios aos que estiverem excessivamente atrás de respostas, mas estas virão apenas no encerramento, quando o método é escancarado e as motivações idem”. Confira na íntegra a crítica de Marcelo Müller
Previsão de estreia: 2021
Mosquito
(Portugal/Brasil/Moçambique, 2020)
Um verdadeiro épico do cinema português. Assim pode ser descrito o novo longa do diretor João Nuno Pinto, que levou nada menos do que 10 anos para ficar pronto. Baseado nas histórias reais vividas pelo próprio avô, ele reconstrói a trajetória de um jovem soldado enviado à África em 1917. Exibido com sucesso no Festival de Roterdã, ganhou o prêmio da crítica durante sua passagem pela Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. No elenco, destaque para o novato João Nunes Monteiro, como o protagonista, e para o veterano João Lagarto (Terra Estrangeira, 1995).
O que nós achamos: “Se tecnicamente se mostra um deslumbre para os sentidos, de imagens placidamente inebriantes a uma trilha sonora capaz de provocar arrepios mesmo nos mais desconfiados, passando por um elenco bastante coeso, o filme não apenas consegue validar os esforços para sua realização com bastante tranquilidade, sem exageros nem excessos, como também é eficiente em direcionar seu olhar ao indivíduo que reflete os temores e expectativas de toda uma nação. Uma obra de forte impacto, ciente das responsabilidades que carrega e do alcance que seu discurso pode exercer”. Confira na íntegra a crítica de Robledo Milani
Previsão de estreia: 2021
Valentina
(Brasil, 2020)
Esta talvez seja a produção brasileira mais aguardada dessa temporada. Para se ter uma ideia, sua estreia foi em Los Angeles, de onde saiu com o prêmio de melhor interpretação (para a protagonista Thiessa Woinbackk) no L.A. Outfest. De lá para cá, passou por festivais em Montreal, Minneapolis, Varsóvia e Rochester, entre outros. No Brasil, foi eleito o melhor filme brasileiro (pelo júri popular), menção honrosa e prêmio especial do júri de melhor atriz na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, e Melhor Filme, Interpretação, Roteiro e Júri Popular no Mix Brasil Festival da Diversidade. Como a personagem-título, a jovem Woinbackk surge como uma adolescente que se muda com a mãe para uma cidade do interior e começa a sofrer transfobia na escola. Um trabalho de forte impacto e de grande urgência!
O que nós achamos: “Um filme sobre a dura realidade e a dor que essa é capaz de impor, assertivo em seu discurso e preciso em sua abordagem. Ao partir para o formato extenso, o diretor demonstra maturidade nesse passo, entregando uma obra adulta, ciente das suas responsabilidades, que emociona sem ser piegas, e ensina sem ser didática. Um resultado que muitos almejam, mas são poucos os que alcançam”. Confira na íntegra a crítica de Robledo Milani
Previsão de estreia: 2021
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