Crítica


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Sinopse

Claire exerce a profissão de parteira com muita paixão. Mas preocupada com sua maternidade, vê sua vida virada de cabeça para baixo pelo retorno de Beatrice, a extravagante ex-mulher de seu falecido pai.

Crítica

Duas mulheres de temperamentos quase contrários passam a conviver, o que traz benefícios a ambas, mas especialmente à de comportamento mais introspectivo. Já vimos esse filme diversas vezes. E a sensação de déja vu se amplia quando descobrimos a doença terminal de uma das personagens, então um agente condicionador. Mas, O Reencontro, a despeito disso e das outras fragilidades, tem seus bons momentos, especialmente aqueles proporcionados pela maneira como as Catherines, a Frot e a Deneuve, dão vida, respectivamente, a Claire, obstetra fechada para tudo que não o trabalho, e Béatrice, senhora decidida a consertar certas coisas ao descobrir ser vítima de um câncer bastante agressivo. Em princípio, mais que propriamente o passado de convivência, o que as liga é uma tragédia. O pai de Claire cometeu suicídio ao ser abandonado por Béatrice, metendo uma bala no próprio coração. Portanto, não é de se estranhar que haja animosidade na reaproximação delas após tantos anos de distância.

O Reencontro possui um tom sóbrio, propício para acompanharmos com curiosidade os desdobramentos da presença de Béatrice no cotidiano de Claire que, apesar da enorme resistência oferecida em princípio, gradativamente se abre às novas possibilidades oferecidas naturalmente pela ex-madrasta de atitudes positivas. A primeira metade do filme é dedicada ao desenho desse forte contraste, instância nem sempre deflagrada sutilmente. O diretor Martin Provost opõe insistentemente a vida desregrada de Béatrice, seu consumo diário de vinho e a alimentação totalmente inadequada, inclusive durante o período de tratamento, à predileção de Claire por comida integral e abstenção de álcool. É evidente que a porra-louquice alheia apresenta à protagonista a necessidade de relaxar ocasionalmente, de não se ater demasiadamente às fórmulas de felicidade e bem-estar. Nenhum problema, desde que tal transformação não se desse tão abruptamente, como vemos aqui, infelizmente.

É como se Claire, repentinamente, sem mais aquela, descobrisse ser possível levar as coisas com mais leveza, permitindo, por exemplo, a Paul (Olivier Gourmet), vizinho de jardim, obviamente interessado nela, uma proximidade até então absolutamente rechaçada. Os demais personagens funcionam como meros auxiliares dessas mudanças, pois não têm uma jornada a cumprir como Claire. Ela, sim, experimenta a novidade de ser avó, de encarar a falta de interesse do filho na medicina, de se ver diante de uma pessoa antes odiada, agora dependente de sua boa vontade e carinho, entre outras coisas mais ou menos representativas. Grande fragilidade do roteiro, responsável pelo caráter súbito das transições, a utilização trôpega de elipses – elemento narrativo com vasto potencial, mas de difícil utilização – provoca supressões temporais contraproducentes, pois negam a liga que poderia tornar orgânicas as reviravoltas, ainda que não digam respeito a períodos consideráveis.

Martin Provost trabalha alguns ingredientes a fim de amparar as trajetórias da protagonista e de sua coadjuvante mais imediata. O principal deles, o mais óbvio, é o valor da vida, evidenciado tanto nas cenas de nascimento quanto no avanço da doença de Béatrice. Outro componente relevante é o oposto, ou seja, a morte e suas marcas. Mesmo transitando por caminhos reconhecíveis e tropeçando em obstáculos mais formais que de conteúdo, O Reencontro é uma celebração agridoce dos pequenos instantes de felicidade, das relações reatadas, da urgência dos encontros, dos antídotos à angústia diante da finitude. Mais que suscitar as nossas lágrimas, o bonito encerramento do longa-metragem ressignifica determinadas ações anteriormente vistas e/ou mencionadas, mostrando que até as atitudes radicais podem ser lidas como tentativas de fazer justiça à importância dos dias felizes, de evitar que as coisas pesarosas, como as doenças e seus efeitos colaterais, maculem a memória.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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Grade crítica

CríticoNota
Marcelo Müller
6
Francisco Russo
6
MÉDIA
6

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