Se, por um lado, a sua categoria-irmã, Melhor Roteiro Adaptado, aponta para ser uma das maiores barbadas deste ano – afinal, dos cinco indicados apenas um concorre também a Melhor Filme – aqui a situação é a oposta: dos cinco concorrentes, somente um NÃO concorre na categoria principal! Ou seja, se quatro deles estão entre as melhores produções desta temporada, quem poderia dizer que não são também as melhores histórias? E esse “estranho no ninho”, que força possui para se colocar de igual aos seus colegas? No entanto, se formos analisar edições anteriores da premiação, precisamos voltar até 2012 para encontrar uma ocasião em que o vencedor de uma das categorias de Roteiro não foi reconhecido também na categoria principal (naquele ano, os vencedores foram Meia-Noite em Paris e Os Descendentes, enquanto que o melhor filme foi O Artista). Será que esse acontecimento insólito irá se repetir novamente? Confira nossa análise das chances de cada um dos indicados deste ano, e façam suas apostas!

 

Indicados

 

FAVORITO: Corra! (Jordan Peele)
Com três indicações ao Oscar, Jordan Peele é o primeiro artista negro a disputar tantas categorias em uma mesma edição do prêmio – ele concorre ainda a Filme e Direção. E é preciso concordar: é aqui em que ele tem mais chances. Assumiu a condição de favorito após ganhar o Writers Guild of America Award – o troféu do Sindicato dos Roteiristas de Hollywood, o mais confiável termômetro para o Oscar nesta categoria. Foi também premiado pelos críticos de Austin, Boston, Central Ohio, Chicago, Denver, Florida, Kansas, Los Angeles, Nova York, North Carolina, Oklahoma, Filadélfia, Phoenix, San Diego, São Francisco, Southeastern, Toronto, Utah, Vancouver, Washington, no Gotham Independent Film Award e, por fim, no Critics Choice Awards, colocando-se como o título mais premiado do ano nessa disputa.

 

MERECE: Lady Bird: A Hora de Voar (Greta Gerwig)
Num ano em que a representatividade das minorias se fez fundamental, Jordan Peele e Greta Gerwig são duas boas novidades em uma disputa acostumada a ter apenas homens brancos entre os concorrentes. E se nenhum dos dois parecem ter muitas chances de vitória como diretores, talvez seja aqui, na disputa de Melhor Roteiro Original, que ambos possam sonhar mais alto em colocar as mãos na estatueta dourada. Peele só está um pouco à frente por ter ganhado o WGA, mas Gerwig não pode ser descartada. Tanto que disputou o Globo de Ouro e foi premiada pelos críticos de Boston, Dallas-Fort Worth, Houston, Indiana, Phoenix, Seattle e pela Sociedade Nacional dos Críticos de Cinema dos EUA!

 

TORCIDA: A Forma da Água (Guillermo del Toro e Vanessa Taylor)
Favorito na disputa de Melhor Filme e campeão de indicações neste ano, estaria A Forma da Água em desvantagem nesta categoria? Talvez, se muitos acreditarem que sua vitória em disputas mais “importantes” é dada como certa, abrindo espaço para o reconhecimento de outros concorrentes que não podem ser esquecidos. No entanto, Del Toro – que já pode cantar vitória na disputa de Melhor Direção – não pode ser ignorado. Tanto que concorreu ao Globo de Ouro, ao BAFTA, e em várias premiações de críticos, tendo sido premiado, no entanto, somente pela associação de St. Louis. Se ganhar, muito em parte será pela força do filme e no caso do título se revelar um daqueles “arrasa-quarteirão”. E seria um resultado mais que justo. Mas é melhor não colocar todas as fichas nesta aposta.

 

AZARÃO: Três Anúncios Para um Crime (Martin McDonagh)
Como é possível que o grande favorito do ano, no intervalo de poucas semanas, tenha se tornado o azarão da temporada? Apesar das sete indicações e da vitória no Globo de Ouro, o longa do diretor Martin McDonagh tem sofrido fortes reveses nos últimos dias, como críticas pelo caráter de seus personagens – racistas, homofóbicos, violentos – e, também, pela ausência de McDonagh entre os cinco indicados a Melhor Direção. Seria essa sua chance de reconhecimento? Pouco provável, principalmente por ter sido ignorado justamente pelo Sindicato dos Roteiristas. Ainda assim, seu roteiro foi premiado ainda pelos críticos de Detroit, Las Vegas, Londres, Nevada, Phoenix e no Festival de Veneza.

 

SURPRESA: Doentes de Amor (Emily V. Gordon e Kumail Nanjiani)
Durante o período pré-premiações, o longa escrito e estrelado por Kumail Nanjiani, ao lado de sua esposa, Emily V. Gordon, e inspirado na vida real dos dois, era apontado como um provável concorrente em várias categorias, inclusive a Melhor Filme. No entanto, acabou selecionado em apenas uma – a de Melhor Roteiro Original. O sucesso dessa comédia romântica irreverente pode tê-la levado até aqui, mas além desse ponto suas chances são mínimas. Apontado pelo Critics Choice Awards como Melhor Comédia do ano, teve seu roteiro finalista em várias premiações de críticos (Austin, Central Ohio, Chicago, Detroit, Florida, Houston, Phoenix, San Diego, São Francisco, Seattle, St. Louis, Washington) e disputou o Independent Spirit e o WGA, mas não foi vitorioso em nenhum dos casos.

 

ESNOBADO: Eu, Tonya (Steven Rogers)
Dos cinco indicados ao Sindicato dos Roteiristas, apenas Três Anúncios para um Crime não ficou entre os finalistas – e, em seu lugar, quem apareceu foi Eu, Tonya, de Steven Rogers. Autor das tramas de filmes descartáveis como P.S. Eu Te Amo (2007) e O Natal dos Coopers (2015), ele tem aqui o ponto alto de sua carreira, tanto que, além do WGA, foi lembrado pelo BAFTA e pelos críticos de Denver. Outros títulos também mereciam essa indicação, como Dunkirk (finalista entre os críticos de San Diego e no Satellite), The Post: A Guerra Secreta (finalista no Critics Choice e junto aos críticos de Central Ohio, Detroit, Houston, North Carolina e Phoenix) e Trama Fantasma (finalista nos críticos de Chicago, Londres e pela Sociedade Nacional dos Críticos de Cinema dos EUA, além de ter sido premiado pelos críticos de Nova York) – todos, é bom lembrar, também indicados na categoria principal, a de Melhor Filme!

:: Confira aqui as nossas análises das demais categorias ::

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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