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“Se você não votar em (insira o nome de seu candidato de predileção aqui), o Brasil vai virar uma Venezuela”. Quantas vezes os brasileiros não escutaram esta frase, em tom de ameaça, durante o processo de polarização política dos últimos anos? No imaginário coletivo e nas páginas de certos veículos de imprensa, o país vizinho constitui um cenário pós-apocalíptico, sinal de fracasso de uma revolução popular.

Neste contexto, o documentário Era uma Vez na Venezuela (2020) participa à disputa de narrativas através do ponto de vista interno da cineasta venezuelana Anabel Rodríguez Rios. Exibido dentro da mostra competitiva do 30º Cine Ceará – Festival Ibero-Americano de Cinema, o projeto acompanha cinco anos da vida em Congo Mirador, vilarejo paupérrimo de onde, ironicamente, se extrai a maior quantidade de petróleo do país.

 

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Era uma Vez na Venezuela

 

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No local, ela encontra as contradições ideológicas no dia a dia de adultos e crianças, escutando tanto os adoradores de Hugo Chávez e Nicolás Maduro quanto os detratores do regime. O filme reúne poesia e política, leveza e gravidade, ao acompanhar a vida nas casas de palafitas, onde as pessoas alimentam sonhos para um futuro longe dali. Da gravidez na adolescência à perseguição ideológica, Rodríguez retrata as consequências da política nacional no cotidiano dos indivíduos. Leia a nossa crítica.

 

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A diretora Anabel Rodríguez Rios no 30º Cine Ceará. Foto: Chico Gadelha / Divulgação

 

Com a sessão do dia 7 de dezembro, o festival já passa da metade de sua competição 2020, que se apresenta até então como uma das mais fortes dos últimos anos. Foram exibidos quatro projetos com visões distintas da marginalidade: a exclusão das vidas à sarjeta em A Morte Habita à Noite (2020), a segregação de uma classe média boêmia em As Boas Intenções (2020), a luta de um cavaleiro solitário contra o sistema opressor em Última Cidade (2020), e o retrato da desigualdade social em Era uma Vez na Venezuela.

A curadoria se mostra coesa em termos de discurso e variada enquanto forma – o classicismo do filme argentino está a anos-luz da radicalidade do cearense Última Cidade, por exemplo. Na noite de 8 de dezembro, a mostra competitiva de longas-metragens segue com o brasileiro Nazinha Olhai por Nós (2020), de Belisário Franca, exibido simultaneamente no Cineteatro São Luiz, em Fortaleza, e através do Canal Brasil. Já a Mostra Olhar do Ceará de longas-metragens apresenta o documentário Swingueira (2020), de Bruno Xavier, Roger Pires, Yargo Gurjão e Felipe de Paula.

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Crítico de cinema desde 2004, membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema). Mestre em teoria de cinema pela Universidade Sorbonne Nouvelle - Paris III. Passagem por veículos como AdoroCinema, Le Monde Diplomatique Brasil e Rua - Revista Universitária do Audiovisual. Professor de cursos sobre o audiovisual e autor de artigos sobre o cinema. Editor do Papo de Cinema.
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