Muitos de vocês devem se perguntar: mas que raios é a mixagem de som? Bom, seus problemas acabaram, pelo menos parcialmente, pois vamos tentar esclarecer essa dúvida tão cruel para os interessados pela festa da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. A mixagem nada mais é que a atividade pela qual várias fontes sonoras são combinadas em um ou mais canais. Ficou ainda mais confuso? Vamos tentar novamente. Pensa na pessoa que seleciona todos os sons gravados no set de filmagem e os mistura com os demais âmbitos sonoros, sejam eles os captados, os criados artificialmente ou utilizados a partir de sons preexistentes. Ah, ainda tem a trilha sonora na jogada. A função do responsável pela mixagem de som é encontrar um fino equilíbrio entre todas essas instâncias sonoras, de fontes e magnitudes diversas. Sem uma boa mixagem de som, a linguagem do filme tende a empobrecer. Então, feito esse esclarecimento no estilo Telecurso 2000 (alerta de referência aos leitores mais velhos; a garotada tende a boiar), vamos analisar quem deve levar o Oscar para casa. Bora?

 

Indicados

 

FAVORITO:  Dunkirk (Mark Weingarten, Gregg Landaker e Gary A. Rizzo)
O longa-metragem de Christopher Nolan teve diversas de suas indicações nas categorias técnicas. E, realmente, o som é um dos elementos mais poderosos dessa reconstituição dos dias dramáticos de encurralamento na praia de Dunquerque, com soldados britânicos e franceses sendo alvos à pesada artilharia alemã. Mark Weingarten comemora sua quarta indicação ao Oscar; Gregg Landaker é mais que veterano, com nove nominações e três vitórias – em 1981, por Star Wars: Episódio V – O Império Contra-Ataca, em 1982, por Os Caçadores da Arca Perdida, e em 1995, por Velocidade Máxima –; enquanto Gary A. Rizzo vai para sua quinta disputa, tendo vencido a estatueta em 2011, por A Origem. Portanto, é um timaço de gente experiente até dizer chega. Dunkirk ganhou o BAFTA de Melhor Som e foi indicado a Melhor Mixagem no Cinema Audio Society, com pinta de favorito. É, realmente, grande a possibilidade de vencer a tão cobiçada estatueta da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.

 

AZARÃO: Blade Runner 2049 (Ron Bartlett, Doug Hemphill e Mac Ruth)
Blade Runner 2049 foi indicado a Melhor Som no BAFTA e venceu o Satellite Awards, prêmio bastante relevante, inclusive como termômetro do Oscar, nos quesitos edição e mixagem. Vamos ao histórico da relação de seu dourado time com a Academia. Ron Bartlett goza aqui de sua segunda indicação; Doug Hemphill tem bem mais tarimba, com suas nove nominações e uma vitória, em 1993, por O Último dos Moicanos; por fim, Mac Ruth está de boa, com suas três indicações no total. O longa-metragem de Denis Villeneuve foi preterido em boa parte das categorias – reflexo do mau desempenho nas bilheterias domésticas? – o que não ajuda a equipe na campanha pela estatueta dourada. No que tange ao som, o filme foi indicado, ainda aos prêmios da Association of Motion Picture Sound, da Cinema Audio Society e ao Gold Derby Awards, para citar os mais significativos. Tal retrospecto o coloca na briga, com reais chances.

 

FORÇANDO A BARRA, TALVEZ LEVE: Star Wars: Os Últimos Jedi (David Parker, Michael Semanick, Ren Klyce e Stuart Wilson)
Vamos pensar que as galeras de Dunkirk e Blade Runner 2049 não vençam. Então, o quarteto responsável pela mixagem de som de Star Wars: Os Últimos Jedi está só de tocaia, esperando para fazer a festa. David Parker comemora sua nona indicação – e ele venceu em 1997, por O Paciente Inglês, e em 2009, por O Ultimato Bourne; Michael Semanick tem incríveis 10 nominações e duas vitórias, em 2004, por O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei, e em 2006 por King Kong; já Ren Klyce e Stuart Wilson possuem, cada um, cinco indicações. É um grupo de muito respeito. Star Wars: Os Últimos Jedi foi indicado ao BAFTA de Melhor Som, ao prêmio de Melhor Mixagem no Cinema Audio Society, além de concorrer ao Gold Derby Awards. Não faça cara de surpresa se quanto à mixagem de som tivermos uma reviravolta, com Star Wars: Os Últimos Jedi triunfando. Não seria absurdo, afinal de contas, é um grande trabalho.

 

OLHA A GAROTADA COMENDO PELAS BEIRADAS:  Em Ritmo de Fuga (Julian Slater, Tim Cavagin e Mary H. Ellis)
Em Ritmo de Fuga tá na dele, quietinho, mas é arriscado demais coloca-lo fora do páreo. Quer um indício de sua força? Ele venceu o prêmio principal da Association of Motion Picture Sound (AMPS), como o melhor som do ano. Além disso, o filme de Edgar Wright foi indicado, nesta categoria, ao BAFTA, ao prêmio da Cinema Audio Society e ao Gold Derby Award. Não é pouca coisa. E sabem o que seria o mais legal de ver a trinca responsável por essa mixagem vencer? Julian Slater, Tim Cavagin e Mary H. Ellis nunca haviam sido nominados ao Oscar, ou seja, se conseguirem derrubar a concorrência, novatos empunharão orgulhosos o carequinha da Academia. E, convenhamos, o trabalho deles bem que merecia um reconhecimento desse porte, haja vista a qualidade do filme que certamente sobressaiu, inclusive, pela forma engenhosa como os sons se equilibram, especialmente nas perseguições empolgantes.

 

POUCO PROVÁVEL: A Forma da Água (Christian Cooke, Brad Zoern e Glen Gauthier)
Torcida organizada do Acadêmicos da A Forma da Água, podem baixar a empolgação, pois vai ser difícil o longa-metragem do mexicano Guillermo del Toro levar para casa esta estatueta. A trinca dos profissionais responsáveis é formada, também, por debutantes no Oscar. Christian Cooke, Brad Zoern e Glen Gauthier, embora sejam profissionais tarimbados, com diversas outras credenciais, nunca haviam tido a honra da indicação ao prêmio da Academia antes. A Forma da Água foi nominado a Melhor Som no BAFTA, ao prêmio da Association of Motion Picture Sound (perdeu para Em Ritmo de Fuga), à láurea da Cinema Audio Society e ao Gold Derby Award. No quesito lembranças, está emparelhado com outros concorrentes, mas é difícil imaginar que ele possa deixar para trás oponentes mais fortalecidos por fatores que não lhe favorecem. É bom esse time se conformar, pois, estar na festa será o prêmio deles.

 

ESNOBADO: Mulher-Maravilha (Gilbert Lake, Paul Munro e Chris Burdon)
Sim, sabemos que muita gente conserva aquele ranço de filmes de super-heróis. Mas, justiça seja feita, para além de qualquer preconceito, se há um trabalho que merecia estar entre os cinco na categoria Mixagem de Som é o de Mulher-Maravilha. Ele concorre ao prêmio do Cinema Audio Society, um dos grandes termômetros e, embora não tenha vencido outras disputas substanciais, poderia figurar fácil no quinteto que disputa a tão cobiçada estatueta da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Enquanto os votantes e a própria instituição ainda considerarem a lembrança dos filmes baseados em HQ’s apenas como prêmio de consolação, teremos distorções como essa que deixou o longa de Patty Jenkins de fora. Ninguém está fazendo aqui campanha ostensiva para blockbuster, estamos apenas dando a César o que é de César, ou seja, aplaudindo quem merece, independentemente do escopo da produção.

:: Confira aqui as nossas análises das demais categorias ::

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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