Crítica
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Sinopse
Ann Darrow, uma atriz de vaudeville, enfrenta dificuldades para se sustentar, como vários outros americanos durante a Grande Depressão. Ela é salva pelo cineasta Carl Denham, que oferece a ela o papel principal em sua próxima produção. Juntos, embarcam com a equipe e o elenco de seu filme no cargueiro fretado S.S. Venture. O objetivo da viagem é chegar na Ilha da Caveira, que tem a fama de abrigar uma raça perdida e várias criaturas consideradas extintas.
Crítica
Peter Jackson conseguiu outra vez! Após encantar milhares de espectadores com a arrebatadora saga O Senhor dos Anéis, ele entregou ao público uma nova obra espetacular, emocionante e digna de todo o seu talento: King Kong, refilmagem do clássico levado às telas pela primeira vez em 1933 por Merian C. Cooper e Edgar Wallace. Aliás, é bom pensar mesmo neste filme, e não na desastrosa refilmagem de John Guillermin feita em 1976 com Jessica Lange e Jeff Bridges nos papeis principais. Assim como no original, o filme de Jackson investe no psicológico dessa figura gigantesca como protagonista e se aprofunda na improvável história do amor absurdo que surge entre uma mulher e um gorila de sete metros de altura.
O cenário é a Nova York dos anos 1930. Um diretor à beira do fracasso, visionário e maluco, consegue arrastar uma trupe de filmagens em busca da Ilha da Caveira, o local ideal – segundo ele – para a realização do seu novo filme. Entre eles está uma atriz em busca de sua grande chance, que possibilite uma mudança radical de vida. Ela decide embarcar nesta aventura ao saber que o autor da história é um conceituado roteirista. Um bom texto e a chance de ser a protagonista de uma aventura fantástica? Parece bom demais, mas ela decide apostar para ver o que consegue. Porém, chegando no local, todas as expectativas se invertem. Na ilha, um lugar perdido no tempo, há uma grande muralha que serve para afastar os curiosos e impedir que aquele “elo perdido” avance contra os nativos, selvagens que acreditam em superstições e crendices. Entre suas tradições está sacrificar mulheres em busca de proteção. Afinal, por lá há monstros inimagináveis, como dinossauros, vermes assustadores e um gorila gigantesco.
King Kong é mais do que uma mera trama de ação e suspense. É um – literalmente – grande conto de amor, acima de tudo. E por mais antinatural e ilógico que possa parecer, dentro do contexto apresentado faz sentido perfeito. Kong é uma fera solitária, perdida e esquecida, que luta diariamente para permanecer viva. Quando encontra aquela mulher estranha, diferente de tudo que já vira, conhece alguém disposto a enfrentá-lo, e, principalmente, conhecê-lo. Antes, é claro, virá o susto, o desespero, o medo. Mas depois há também a razão, a inteligência e o raciocínio. As reações dos dois, tanto dele quanto dela, são compreensíveis. Ele não poderia ser mais ‘animal’, com todos os significados desta expressão. Ela, por sua vez, é cem por cento ‘humana’, no amor, na alucinação, na busca de afeto e de ser reconhecida. Algo que nunca tivera, e que por mais incrível que pareça vai encontrar no carinho oriundo deste macaco gigante.
Como a trama se desenvolve todo mundo sabe, ou imagina – os dois enfrentam riscos diversos na ilha, até que a moça é resgatada e monstro capturado, para em seguida ser levado para Nova York como atração da Broadway. Assim que recupera suas forças, consegue se libertar e invade as ruas, procurando por ela; quando se encontram, escalam o Empire State Building (o mais alto edifício do mundo na época), até serem abatidos – ele fisicamente, ela emocionalmente. Mas o que realmente faz diferença aqui não é o que, e sim como. São os porquês por trás do que acontece que fazem deste um filme completo.
O maior mérito pelo sucesso do projeto é de Jackson e de seus co-roteiristas, Fran Walsh (esposa dele) e Philippa Boyens – a mesma equipe, aliás, por trás de O Senhor dos Anéis. Com muita habilidade e sabedoria, eles conseguiram dosar as informações dispostas na tela com maestria, equilibrando cada emoção ao seu tempo. Se na primeira hora somos convidados a conhecer melhor cada personagem, identificando cada um, suas personalidades, razões e motivações, em seguida caímos numa rede intensa de perigos e adrenalina desenfreada, para então, no final, sermos presenteados com sequências vertiginosas de tirar o fôlego. Um programa completo, para cérebro, corpo e mente.
Com mais de 3 horas de duração, King Kong é gigantesco em todos os quesitos. Seu orçamento total foi de US$ 207 milhões – um valor ainda hoje astronômico – porém seu retorno nas bilheterias mundiais foi de mais do que o dobro deste montante! Além disso, constou em diversas listas dos “dez melhores do ano” por várias associações de críticos nos Estados Unidos, recebeu duas indicações ao Globo de Ouro, nas categorias de Direção e Trilha Sonora (que coube à James Newton Howard, o mesmo de Um Ato de Liberdade, 2008). No Oscar o efeito foi ainda de maior impacto, com três vitórias: Efeitos Visuais, Som e Edição de Som. Eficiente em todas as suas intenções, genial nos seus feitos e assombroso na técnica apresentada, é um trabalho que, mesmo encantando muitos e deixando outros tantos perplexos e sem saberem o que dizer, ainda não atingirá todo o seu potencial. Este King Kong é um filme que ainda está sendo descoberto e entendido. Seu todo, por completo, é feito para daqui a alguns anos, talvez décadas. Exatamente da mesma forma como aconteceu com o longa de 1933. E resultado melhor nem mesmo Peter Jackson poderia prever.
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