Os votantes do Globo de Ouro já deixaram claro em mais de uma ocasião ao longo dos anos: eles não sabem de animação. E o pior: pouco se importam. Afinal, são desenhos animados: onde estão os astros de Hollywood? A inclusão dessa categoria se deu por uma questão meramente mercadológica, e não mais que isso. Sendo assim, eles costumam ser bastante óbvios – assumir riscos, afinal, não é com eles. E se dentre os cinco indicados temos um concorrente da monstruosa Pixar, é praticamente irresistível não o eleger, ainda que esteja longe de ser o melhor do ano. Muito mais sensível seria apostar na nova produção da companhia-mãe, a Disney, que realizou uma continuação verdadeiramente original, ou apostar naquele que muito provavelmente seja, de fato, a única produção do gênero deste ano digna de nota. Wes Anderson, com Ilha dos Cachorros, não fez apenas um ótimo longa de animação, realizou, também, um dos melhores trabalhos de toda a sua filmografia, que inclusive chegou a ser premiado como Melhor Direção no Festival de Berlim. Mas como estreou no início do ano, a impressão é que muitos já se esqueceram e preferem apostar em concorrentes mais recentes. Que lástima!
Indicadas
- Os Incríveis 2
- Ilha dos Cachorros
- Mirai no Mirai
- WiFi Ralph: Quebrando a Internet
- Homem-Aranha no Aranhaverso
FAVORITA
Os Incríveis 2
Eleito o melhor longa de animação do ano pelo National Board of Review e pelos críticos da Filadélfia, entrou nas listas de quase todas as associações, concorre ao Critics Choice e é o campeão de indicações ao Annie – o Oscar da animação – presente em 12 categorias. Sem falar que arrecadou mais de US$ 1,2 bilhão nas bilheterias de todo o mundo, se tornando o longa mais bem-sucedido de toda a história da Pixar, superando inclusive antigos campeões, como Toy Story 3 (2010) e Procurando Dory (2016). Os Incríveis 2 pode não ser a escolha mais original, mas possui sacadas interessantes – o desenvolvimento do bebê é hilário – e toca em temas pertinentes, como feminismo e novas organizações familiares. Sem falar que é repleto de ação, demonstrando uma técnica impressionante. Está longe de ser “o melhor”, mas não faz feio numa seleção desta temporada. E em se tratando de Globo de Ouro, muitas vezes isso já é mais do que suficiente.
AZARÃO
Homem-Aranha no Aranhaverso
Inacreditavelmente eleito o Melhor Filme – não apenas de animação, mas dentre todos os gêneros – do ano pelos críticos de Utah, Homem-Aranha no Aranhaverso é, muito provavelmente, a produção animada mais premiada de 2018. Ganhou em sua categoria específica junto aos críticos de Boston, Chicago, Detroit, Indiana, Kansas, Los Angeles, Phoenix, São Francisco, Seattle, St. Louis e Nova Iorque, além de estar concorrendo também ao Critics Choice e com sete indicações ao Annie. Portanto, se os votantes do Globo decidirem ir por um caminho não tão óbvio, mas ainda assim pop o bastante para os seus gostos – estamos falando do Homem-Aranha, gente! – e também seguro, com muito respaldo prévio, este é, de fato, o concorrente mais acertado. Não chega aos pés de Ilha dos Cachorros, por exemplo, mas consegue brincar com o universo dos super-herói – cada vez mais congestionado – com bastante eficiência, oferecendo um novo gás a um personagem cada vez mais próximo da superexposição. E se o objetivo for fazer um agrado à indústria hollywoodiana, o tiro aqui será certeiro.
SEM CHANCES
Mirai no Mirai
Parece ser de praxe nos Estados Unidos: nas seleções de melhores do ano no quesito animação, é fundamental incluir um título japonês no meio. Afinal, seguindo a linha tão bem delineada pelos mestres do Studio Ghibli, eles invariavelmente conseguem combinar tramas de imenso apuro visual com argumentos narrativos absurdamente emocionais, de deixar qualquer um de queixo caído pelo que se vê em cena e de coração apertado pelos sentimentos que transbordam em suas ações. No entanto, quando foi a última vez que um longa dessa origem foi premiado em Hollywood? A Viagem de Chihiro (2001), de Hayao Miyazaki, é, até hoje, a exceção que confirma a regra! Todos os que vieram depois, como O Castelo Animado (2004), Vidas ao Vento (2013), O Conto da Princesa Kaguya (2013), As Memórias de Marnie (2014) ou A Tartaruga Vermelha (2016), por exemplo, até chegaram perto – mas nenhum conseguiu levar o ouro para casa. E neste ano, pode ter certeza: não vai ser diferente.
ESQUECIDA
Tito e os Pássaros
Num ano que não foi dos melhores para a animação em Hollywood – até a aparentemente infalível Aardman decepcionou com o morno O Homem das Cavernas, enquanto que títulos como O Grinch, Hotel Transilvânia 3, Pé Pequeno e Os Jovens Titãs Em Ação! Nos Cinemas apenas cumpriram suas cotas de expectativas, sem ousar ir além do esperado, que tal torcer para o produto nacional? É o caso do sensível Tito e os Pássaros, que teve sua primeira exibição sob fortes aplausos no prestigioso Festival de Annecy, na França – o mais importante de todo o mundo voltado exclusivamente à animação – e desde então tem colhido elogios por onde tem passado, como no Festival de Toronto, no Canadá. Tanto é que está indicado ao Annie na categoria de Melhor Filme Independente. Esta foi a mesma categoria a que concorreu – e ganhou – o nosso O Menino e o Mundo (2013), que depois conseguiu uma vaga entre os cinco finalistas do Oscar. Será que temos chances mais uma vez? Se for contar apenas pelos méritos vistos em tela, a resposta é um SIM bem grande. Pena que os votantes do Globo de Ouro não se deram conta disso.
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