Crítica


7

Leitores


Onde Assistir

Sinopse

Robin, Ciborgue, Ravena, Mutano e Estelar percebem que os principais super-heróis que existem por aí estão estrelando seus próprios filmes, exceto os Jovens Titãs. Porém, Robin está determinado a resolver a situação e ser visto como um astro, ao invés de um fiel escudeiro. Com algumas ideias malucas e uma música no coração, o grupo parte para Tinsel Town, determinados a realizar seu sonho. Entretanto, tudo dá errado quando o grupo é enganado por um supervilão e seu plano insano para conquistar o planeta.

Crítica

No último mês de novembro, chegou aos cinemas Liga da Justiça (2017), filme que, supostamente, seria um fenômeno de bilheteria por reunir os maiores heróis da DC Comics. O público se dividiu, e os resultados foram bem aquém do esperado. Porém, a discussão sobre a qualidade dos longas estrelados pelos personagens da principal concorrente da Marvel não vem de hoje. Se Lanterna Verde (2011) foi um fracasso (inclusive sendo desconsiderado do universo que veio posterior a partir de O Homem de Aço, 2013), a DC patinou entre sucessos e desapontamentos – talvez tendo Mulher-Maravilha (2017) como seu único real êxito. Não é de se estranhar, então, que Os Jovens Titãs Em Ação! Nos Cinemas seja uma tentativa de tirar sarro de toda esta situação, como um olhar crítico do próprio estúdio sobre seus trabalhos. E não é que a animação alcança o objetivo sem precisar de muito esforço?

Pra quem não está familiarizado, Os Jovens Titãs Em Ação é uma série de sucesso da TV a cabo, que retoma – de uma forma mais infantilizada – outra animação dos anos 2000 que, por sua vez, é inspirada na clássica equipe de novatos, composta por alguns sidekicks famosos, como Robin, Kid Flash e Moça Maravilha. Estes dois últimos não se encontram nestas versões dos últimos 20 anos, mas fazem parte do grupo original que chegou a rivalizar em popularidade com os X-Men nas HQs dos anos 80 e 90. Completam o time aqui a extraterrestre Estelar, a blasé Ravena, o palhaço Mutano e Ciborgue (sim, o mesmo do filme da Liga). Sua missão no longa é clara: tornar os Jovens Titãs em heróis de respeito que possam ter seu próprio filme. Tarefa que pode ser complicada, já que os membros da Liga da Justiça nem dão bola para eles e até Os Desafiadores do Desconhecido (uma obscura HQ que pouca gente leu nos últimos 30 anos) parecem ter mais créditos que os adolescentes.

Com um roteiro que utiliza da metalinguagem para seguir em frente, a equipe liderada por Robin precisa encontrar um arqui-inimigo para rivalizar e garantir um longa-metragem dirigido por Jade Wilson, famosa cineasta de produções de super-heróis. O vilão, no caso, é Slade (mais conhecido com Exterminador), que consegue tapear os meninos com suas provocações colegiais. O mais divertido é que a narrativa escrita por Aaron Horvath (também diretor do longa) e Michael Jelenic (experiente roteirista de animações recentes da DC) não perde um momento sequer para cutucar o dedo na ferida da própria DC, da Warner (o estúdio responsável), dos fãs mais ferrenhos e do público em geral. A começar pelo dublador original do Superman. Ninguém menos que Nicolas Cage, ator que se tornou especialista em filmes de ação descartáveis, mas que 20 anos atrás tinha como meta ser o próprio Clark Kent das telonas.

O deboche, no entanto, não para por aí. Já nos primeiros minutos, os Titãs enfrentam um monstro que é composto por nada menos que balões. Da piada nada original (e nem por isso menos engraçada) do furo na bunda do gigante, que começa a "soltar ar por trás" (sem meias palavras, "soltando pum", como esclarece a própria Ravena), a equipe quase consegue deter o adversário. Porém, o ego – e imaturidade juvenil – fala mais alto quando o "balãozão" diz não conhecer os jovens heróis, que preferem perder tempo cantando músicas-tema do que terminar logo o serviço. Quando a Liga da Justiça enfim chega, os diálogos ficam ainda melhores, com a própria Mulher-Maravilha falando que demorou para ter um filme próprio ou o Lanterna Verde John Stewart preferindo esquecer que houve uma produção do também Lanterna Hal Jordan.

Para conter o fiapo de história, as gags vão surgindo uma atrás da outra, seja na pré-estreia de mais um filme do Batman (com o mais que apropriado subtítulo "Again"), onde surgem trailers de longas sobre Alfred, O Batmóvel e até o Bat-cinto (mas nada de Robin), até aparições de heróis menos conhecidos do grande público, como o Homem-Animal e o Monstro do Pântano – inclusive com uma participação especial de ninguém menos do que um certo senhor que aparece em todos os filmes da editora concorrente. Ainda sobra espaço para números musicais e referências diretas aos anos 1980, seja pela trilha sonora (quando toca "aquela" clássica do A-Ha, já se sente o clima), efeitos gráficos recheados de tons do arco-íris (inclusive um que parece emular a abertura de Ursinhos Carinhosos, 1985) e muitos, mas muitos motivos para altas gargalhadas.

O melhor é que pode parecer um amontoado de bobagens, um atrás do outro, mas Os Jovens Titãs Em Ação! Nos Cinemas consegue estabelecer diálogo tanto com os pequenos, que ficam deslumbrados com a profusão de personagens e cores, quanto os mais grandinhos – inclusive com mais de 30 anos – que captam as referências, sejam das HQs ou do mundo pop/geek em geral. Mais ainda: consegue desmistificar a imagem de que a Warner/DC é um estúdio que só sabe produzir filmes sombrios e não consegue rir de si. Aqui, a história é completamente oposta. Talvez, por isso mesmo, o que a empresa espera não seja uma imensa bilheteria para uma animação tão comum (se comparada aos efeitos gráficos da Pixar, Disney, Dreamworks e afins). Quem sabe seja apenas uma forma de dizer "ei, nós sabemos pegar leve também, ok?". Com os trailers divulgados de Aquaman (2018) e Shazam! (2019), parece ser isso mesmo o que estão tentando dizer. Se não for o caso, ao menos este longa serve para soltar boas gargalhadas e sair com a alma lavada após a sessão.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
avatar

Últimos artigos deMatheus Bonez (Ver Tudo)

Grade crítica

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *