Crítica


7

Leitores


4 votos 9.6

Onde Assistir

Sinopse

Morador de uma cidade interiorana do Japão, Jiro Horikoshi  sonha em voar num avião em forma de pássaro. Para colocar isso em prática, ele está decidido a construir um protótipo e colocá-lo no ar.

Crítica

O pequeno Jiro alimenta desde cedo o sonho de trabalhar com aviação. Por ser míope, não pode pilotar, mas seu destino parece mesmo muito mais ligado à criação, ao ato de dar vida à imaginação. Seu ídolo é um designer italiano de aeronaves que surge como guia nos sonhos, inspiração na ordem do onírico para que ele realize na ordem do real esse desejo. O crescimento lhe fará dar de cara com um Japão fragilizado pela situação econômica complicada, assolado frequentemente por catástrofes naturais, como terremotos, por exemplo. A criação de aviões, seu querer infantil, se torna realidade, mas ao invés de planejar instrumentos de lazer, de alimentar esse fascínio humano pelo voo como instante de libertação e transcendência, ele desenhará instrumentos de guerra.

Vidas ao Vento é o mais recente filme do gênio Hayao Miyazaki, e, segundo o próprio, seu último. Num cenário em que impera certa tirania do CG, das construções visuais feitas a partir da frieza das máquinas, é bonito o trabalho do estúdio de Miyazaki, o famoso Ghibli, que se vale de determinados processos e instrumentos “antigos”, tais como o desenho à mão, para nos oferecer uma espécie de resistência estética e ideológica. Jiro, o protagonista dessa animação, vive o momento complicado anterior à Segunda Guerra Mundial, aliás, episódio este do qual a Terra do Sol Nascente sairia ainda mais devastada. As ambições criativas do garoto que sempre sonhou com um céu repleto de aviões esbarram nas dificuldades do país que tem pouco a oferecer aos seus em matéria de desenvolvimento, enquanto potências como a Alemanha deslancham do ponto de vista social e, infelizmente, bélico.

Eis que o garoto cheio de pretensões, um estudioso que cativa a todos no trabalho pela seriedade e paixão, reencontra uma mulher do passado e descobre o amor, incluindo ele entre suas prioridades. Miyazaki reafirma com Vidas ao Vento uma fé no humano, na capacidade que todos em tese teríamos de superar adversidades se voltados uns aos outros. O quesito técnico da animação é impressionante, aliás, como em todas as realizações desse artista comparado no oriente a Walt Disney. Tudo no quadro é orgânico, pois tem vida, se move. A trama envereda diversas vezes para um lado mais emocional, pois voltada aos projetos pessoais e dificuldades dos personagens, ainda que espelhe neles, vez ou outra, o próprio desenvolvimento da nação japonesa.

Embora seja muito bonito, Vidas ao Vento está aquém de algumas das obras mais celebradas de Miyazaki. Com a entrada definitiva de Naoko na vida de Jiro, o filme passa a flertar com um sentimentalismo que, ainda justificado, às vezes soa excessivo. A duração longa, 126 minutos, se deixa sentir, sobretudo a partir dessa guinada, quando o filme vacila entre a determinação profissional do jovem que, de alguma maneira, representa a tenacidade de um povo, e a nova disposição de abraçar plenamente o amor. Ainda assim, num cenário tomado por fórmulas e outros convencionalismos, é algo genuíno.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
avatar

Últimos artigos deMarcelo Müller (Ver Tudo)

Grade crítica

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *