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Sinopse

Pequeno bebê encontrado num tronco de bambu brilhante, Kaguya se transforma numa bela jovem cobiçada por cinco nobres, entre eles o Imperador. Mas, ela não deseja casar-se com quem não ama.

Crítica

Animações orientais não costumam conquistar tanto o público internacional, a não ser que seja um longa de Hayao Miyazaki ou algum anime conhecido (Cavaleiros do Zodíaco, Pokemón, Dragon Ball, etc). O Conto da Princesa Kaguya se encontra no limite do blockbuster e do cinema de arte, ainda que penda mais para este segundo por conta da técnica tradicional utilizada. Os traços remetem às gravuras orientais do século XVII e que respingaram no impressionismo europeu, dando um ar mais classudo a esta que é a última produção do gênero do diretor Isao Takahata.

Baseado no Conto do Cortador de Bambu, clássica fábula do Japão, aqui é narrada a história de um minúsculo bebê encontrado dentro de um tronco de bambu brilhante. Os anos passam, seus pais adotivos enriquecem por conta de presentes enviados misteriosamente dos céus (ou de bambus) e a menina, chamada de Princesa, se torna alvo de cinco nobres, além do próprio imperador. Para saber quem realmente a ama (e fugir do casamento, especialmente), a garota envia seus pretendentes em busca de tarefas impossíveis.

Antes de mais nada, o conto é uma bela e triste visão sobre o poder da escolha e a rejeição de que todos estamos destinados a algo. Se Kaguya vive como uma princesa (assim como seu próprio nome já sugere), o que ela mais gostaria era viver em liberdade, como nos seus primeiros anos de vida, onde ela tinha amigos de verdade, uma paixão latente e morava com os pais num simples vilarejo rodeado de árvores. Como enviada de um mundo diferente, ela aos poucos começa a lembrar de sua verdadeira missão, ainda que não a queira cumprir. É também uma voz feminina forte dentro de um contexto extremamente machista e que não valoriza a mulher, o que é bem representado pela rebeldia de Kaguya quanto aos trajes, maquiagem e trejeitos que deve adotar quando se torna uma princesa cobiçada por todos.

Takahata investe em humor em muitas cenas e sequências, pois sabe que lida com um tema muito mais profundo do que a, aparentemente, simples indecisão de uma garota. Na verdade, Kaguya sabe bem o que quer: poder escolher. Algo que vai se tornando cada vez mais limitado à medida que cresce. Nisto pode parecer que o filme é lento demais, o que pode realmente ser para plateias desavisadas. Afinal, são duas horas e quinze minutos de duração para uma história que, feita aos moldes hollywoodianos tradicionais, poderia ter até uma hora menos. Porém, tudo aqui é tratado com cuidado, com poesia, desde a técnica empregada (tudo foi pintado e desenhado em papel) à trilha sonora, brilhantemente executada num casamento perfeito com a montagem.

O Conto da Princesa Kaguya foi indicado ao Oscar, mas está longe de ser o favorito da Academia. Independente disso, é uma boa forma de levar o grande público a conhecer mais sobre as tradições orientais, fugir um pouco das animações gráficas e engraçadinhas e, acima de tudo, refletir sobre o amadurecimento perante a vida. Se o final pode parecer triste, ele é nada menos que humano, a despeito de toda a fantasia que está na tela. E uma animação tão próxima da realidade sobre o crescimento de cada um, sem cair no clichê, é algo raro de se encontrar.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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