Crítica


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Sinopse

Cooptado pela misteriosa organização AVT (Autoridade da Variação do Tempo) depois de roubar o Tesseract, o Deus da Trapaça é enviado em missões através do tempo para alterar a história da humanidade, mas acaba preso numa espécie de thriller policial. Tudo isso ocorre logo após os eventos de Vingadores: Ultimato (2019).

Loki


Loki :: T02


Loki :: T01

Episódio Data de exibição
Loki :: T01 :: E06 14/07/2021
Loki :: T01 :: E05 7/07/2021
Loki :: T01 :: E04 30/06/2021
Loki :: T01 :: E03 23/06/2021
Loki :: T01 :: E02 16/06/2021
Loki :: T01 :: E01 9/06/2021

Crítica

À expansão do Universo Marvel, que passou a não ser audiovisualmente apenas cinematográfico desde WandaVision (2021), Loki parece apontar um caminho essencial já nos seus explicativos primeiros minutos. Tudo começa depois que Loki (Tom Hiddleston) rouba o Tesseract – em eventos de 2012 que reportam a ocasiões simultâneas ao que acontece em Os Vingadores, mas vistos apenas em Vingadores: Ultimato –, com isso quebrando a continuidade da Linha Sagrada do Tempo. Então, entra em cena o conceito das cronologias diversas, das infinitas possibilidades de existência, enfim, do chamado multiverso. Vale lembrar que o Deus da Mentira morreu em Vingadores: Guerra Infinita (2018), mas com esse recurso não é estranho ele “voltar à vida”. A série deve funcionar como ignição à utilização desse conjunto de universos para, basicamente, brincar à vontade. Perdas, eventos aparentemente definitivos, tudo fundamentalmente é relativo, como o tempo.

Chamado de Glorioso Propósito, o episódio inaugural de Loki preza pela elucidação, afinal de contas o público das desventuras fílmicas e serializadas dos personagens egressos das histórias em quadrinhos da Marvel se vê colocado diante de uma grande novidade. Quando o protagonista é escoltado à instituição estranha, sempre há alguém para situa-lo (bem como o espectador) sobre do que aquilo tudo se trata. Sendo assim, conhecemos à AVT (Autoridade da Variação do Tempo), agência responsável por manter as coisas fluindo, lugar parecido com uma repartição pública retrô, repleta de funcionários regidos estritamente pelos regulamentos. Quiçá existem os aspones? Talvez a continuidade da série possa oferecer a resposta. Mas, fato já identificado é que Loki nesse ambiente é um peixe fora d’água, pois um sujeito que tem como elemento essencial de personalidade violar regras, não orientado por códigos e afins. Porém, até essa noção é colocada em xeque.

Glorioso Propósito desenha um cenário auspicioso porque justamente insere uma figura avessa à autoridade num local em que parece quase impossível fugir completamente às normas. Aliás, um dos elementos mais intrigantes desse pontapé inicial de Loki é a entonação determinista do destino e, por conseguinte, o questionamento do conceito de liberdade/autonomia. Loki se mostra bastante desconfortável em certos instantes, especialmente ao ser confrontado pela ideia de que até seus atos atrozes estavam previstos no inefável plano dos Guardiões do Tempo. O diálogo com o agente Mobius (Owen Wilson) esclarece (já?) qual é seu propósito de existência e isso coloca o asgardiano em crise momentânea. Ele se achava predestinado à grandeza da governança, mas é informado de que sua função é bem outra. Um sortilégio do funcionário que precisa da ajuda do vilão para capturar alguém? Provavelmente a sequência dirá. Por ora, o incômodo vindo do excesso de explicação é em parte compensado pelo bom desempenho do elenco e pela curiosidade suscitada.

Loki permite a Tom Hiddleston renascer dentro do Universo Marvel. O ator oscila com a habilidade contumaz entre o sarcasmo, a soberba, a estupefação e a fragilidade insuspeita. Dentro da perspectiva prevalentemente expositiva de Glorioso Propósito, até a tristeza do Deus da Mentira aparece rapidamente, apenas para cumprir a tarefa de sinalizar existência – os roteiristas poderiam ter feito de seu momento choroso de reminiscências algo mais do que uma pontuação acelerada. Resta especular se a série será uma forma de aprofundar um dos personagens mais ambíguos da Casa das Ideias ou, assim como Falcão e o Soldado Invernal (2021), uma peça com altos e baixos existente fundamentalmente para permitir um acréscimo ao Universo Marvel. Ao que tudo indica, Wunmi Mosaku também terá papel imprescindível como a agente implicante. Já a interação entre Hiddleston e Owen Wilson deve fornecer a tônica cômica da série, especialmente a partir do personagem do segundo mostrando ao do primeiro como seus desejos são pequenos/ínfimos diante de uma teia muito maior.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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