Crítica


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Sinopse

O Deus da Mentira se encontra no Vazio, cercado de outras variantes Loki, e diante de uma ameaça enorme.

Loki


Loki :: T02


Loki :: T01

Episódio Data de exibição
Loki :: T01 :: E06 14/07/2021
Loki :: T01 :: E05 7/07/2021
Loki :: T01 :: E04 30/06/2021
Loki :: T01 :: E03 23/06/2021
Loki :: T01 :: E02 16/06/2021
Loki :: T01 :: E01 9/06/2021

Crítica

Até aqui, Loki é uma baita decepção. Celebrada previamente como ponto imprescindível à nova fase do Universo Marvel, a minissérie tem desperdiçado um personagem dos mais interessantes da constelação de superpoderosos em constante embate. Loki (Tom Hiddleston), irmão preterido, filho adotado indigno de ocupar o trono por ter inveja e ego demais, é intrigante e tende à complexidade. Em suas participações nos filmes protagonizados pelo irmão Thor ou naqueles em que ocupa espaço de destaque em meio aos Vingadores, as entrelinhas entregam o jogo: o Deus da Mentira se sente sozinho, é um sujeito sem espaço confortável num mundo que frequentemente lhe enjeita. É multifacetado, contraditório, imprevisível e charmoso, como convém aos trapaceiros contumazes. No programa criado por Michael Waldron, ele está sendo reduzido a alguém rumo ao heroísmo, sujeito que tem suas características essenciais sufocadas justamente por um desejo escancarado de ser amado. Esse deslocamento – das frestas das ações para a superfície delas – faz do filho de Asgard previsível. O conjunto é um espremedor que o torna comum.

Em Journey Into Mystery, quinto episódio de Loki, o mundo da AVT, como o conhecemos, acabou de ser colocado em xeque. Guardiões sagrados são destronados e o colapso parece iminente. Mas os criadores do programa resolveram novamente explicar o apocalipse, pouco investindo na intensidade dele. Nos primeiros minutos é escancarada essa falta de sensibilidade para tornar os percursos de Loki e Sylvie (Sophia Di Martino) dramaticamente convergentes. Numa realidade nova, o Deus da Mentira que entendemos como protagonista é recepcionado por vários outros Loki, incluindo uma versão jacaré, o que garante o clima leve de comédia. E mais uma vez o roteiro enxerga o forasteiro como desculpa para ser basicamente expositivo. Por um lado, aquele literalmente fim de mundo tem regras, configurações e habitantes desconhecidos do espectador. Por outro, não há tempo hábil à apresentação consistente. Então, qual a solução encontrada pelos roteiristas? Exatamente o mesmo que vinham utilizando como regra até então: colocar figuras devidamente habituadas a tudo para oferecer ao recém-chegado o panorama resumido, criando pequenas visitas guiadas.

Loki chegando ao Vazio e ganhando uma palestra sobre o lugar não é muito diferente (aliás, é igual) de quando ele desembarca na AVT e recebe explicações de como as coisas andam por lá. E essa característica torna tudo bastante esquemático, inclusive com os personagens entregando de bandeja sensações, tais como espanto, incredulidade e dúvida. Desse modo, não deixam espaço para o espectador, por exemplo, tirar as próprias conclusões. Enquanto o personagem de Tom Hiddleston é detalhadamente ambientado àquele espaço que deveria soar tétrico, a de Sophia Di Martino conversa longamente com quem possa lhe explicar (esse é o verbo predominante na minissérie) o que diabos está por trás da farsa que sustenta tudo na repartição incumbida de manter íntegra a sagrada linha do tempo. E dá-lhe gente explanando sobre saberes e ignorâncias, elucidando os próprios sentimentos, conduzindo as coisas por um caminho carente de intensidade dramática. São raros os momentos em que é permitido temer pelos personagens e imaginar o que eles experienciam num instante supostamente limítrofe. Tudo isso nos é dado de bandeja, como se a audiência fosse incapaz de pensar por si.

A pressa é inimiga da perfeição, conforme o jargão. Aqui, definitivamente, a afobação para passar de uma constatação a outra é boa parte responsável pela frustração até agora predominante. Cresce e se solidifica a impressão de que a minissérie é simplesmente um tijolinho caro e pirotécnico colocado no Universo Marvel. Sua função é apresentar aos fãs o conceito de multiverso que provavelmente será a tônica da próxima onda dos produtos audiovisuais baseados em histórias em quadrinhos. E, convenhamos, isso pode tornar as coisas ainda menos emocionantes. Por que chorar diante da morte de um paladino querido ou da partida precoce de um anti-herói que conquistou nossa simpatia, se adiante eles podem simplesmente reaparecer por um portal dizendo serem as versões de outra realidade? Corre-se o risco da “novidade” abrandar o impacto de sacrifícios apoteóticos, renúncias nobres e tudo o que, capacidades excepcionais à parte, transforma gente comum em heróis. Por enquanto, o resultado de Loki é alarmante. Pegaram um personagem rico, carismático, importante, e o transformaram num curioso meio bobo que precisa ser guiado como um incapaz rumo à provável redenção.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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