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Sinopse

Homem de Ferro, Thor, Hulk, Capitão América, Homem-Aranha, Viúva Negra, Feiticeira Escarlate, Visão, Doutor Estranho, Pantera Negra e os Guardiões da Galáxia se unem para combater seu inimigo mais poderoso, o maligno Thanos. Em uma missão para coletar todas as seis pedras infinitas, o vilão todo-poderoso planeja usá-las para infligir sua vontade maléfica sobre a realidade.

Crítica

Desde os primeiros minutos de Vingadores: Guerra Infinita, o décimo nono longa do Universo Cinematográfico Marvel – e o anunciado “maior crossover de heróis da história” – que chega exatamente após uma década explorando com cuidado cada um dos mais populares personagens da editora, fica claro que este filme, apesar de tudo isso, tem sua trama centrada em nenhum deles em particular – e nem mesmo num ou noutro grupo de benfeitores. Pela primeira vez, o estúdio resolveu concentrar suas atenções naquele que talvez seja o mais inusitado dos protagonistas: o vilão Thanos (defendido pela carismática voz de Josh Brolin). Enquanto os demais apenas reagem às suas intenções, é dele que vem os atos e as consequências que movem a história e com os quais os outros precisam descobrir como lidar do início ao fim. É uma escolha arriscada, sem sombra de dúvidas. Mas mais do que necessária diante o atual cenário que se desenha. E, só por isso, temos um bom passo em direção ao sucesso dessa – com o perdão do trocadilho – heroica empreitada.

Quem é, afinal, Thanos? Visto de relance em cenas pós-créditos (aliás, Guerra Infinita possui apenas uma sequência extra, e bem no final do expediente) de Guardiões da Galáxia (2014) e Vingadores: Era de Ultron (2015), ele é, literalmente, o ser mais poderoso do universo. Natural do planeta Titã, possui uma teoria muito simples: em uma realidade em que os recursos são finitos e a demanda das populações cresce em progressão geométrica, a única maneira de manter o equilíbrio é, sempre que a fome e a escassez forem vislumbradas, o único recurso seria eliminar, de forma aleatória, 50% de todos os seres vivos. Ruim para os que seriam assassinados, porém ideal para aqueles que permaneceriam vivos, pois voltariam a encontrar as condições ideais para suas sobrevivências. E é justamente isso que ele deseja fazer não neste ou naquele lugar em específico, mas em todos os mundos conhecidos. Para tanto, precisa reunir as Joias do Infinito. Tarefa essa que, obviamente, não será nada simples.

Também conhecidas como Pedras do Infinito, elas formam um conjunto de seis: Espaço (azul), Mente (amarela), Alma (laranja), Realidade (vermelha), Tempo (verde) e Poder (roxo). Cinco delas já foram apresentadas anteriormente no cinema: a joia do Espaço deu às caras em Thor (2011), Homem de Ferro 2 (2010), Capitão América: O Primeiro Vingador (2011) e Os Vingadores (2012). A da Realidade é vista em Thor: O Mundo Sombrio (2013), enquanto que a do Poder está no centro do enredo de Guardiões da Galáxia. Em Vingadores: Era de Ultron, descobrimos que o cetro que Loki (Tom Hiddleston) usa em Os Vingadores possui a pedra da Mente, enquanto que em Doutor Estranho (2016) o personagem-título ganha acesso à joia do Tempo. Cabe à Thanos, portanto, não só ir atrás de cada uma destas preciosidades, como descobrir ainda o paradeiro da restante, a da Mente. Pois, somente com as seis reunidas em uma manopla forjada nas mesmas minas que outrora elaborou o (quase) indestrutível mjolnir de Thor ele, enfim, poderá colocar seu plano em prática.

Bom, tendo isso em mente, como ficam nossos heróis? Sem dar tempo para nenhum respiro, os irmãos Anthony e Joe Russo – responsáveis pelo melhor capítulo do UCM até agora, Capitão América 2: O Soldado Invernal (2014) – começam já nos arredores de Asgard, com Thanos recuperando a joia do Espaço que estava no Loki – e, com isso, dando fim à sua existência. Pois é exatamente isso o que acontece – e se você está lendo este texto, saiba que é quase impossível falar sobre esse filme sem revelar um ou outro spoiler, e apenas para não sermos tão ‘estraga-prazeres’ é que aqui mencionamos um que acontece nos primeiros dez minutos do roteiro – o Deus da Mentira morre, e ele é só o primeiro de uma série de personagens que terão fim nas próximas duas horas e meia. Se nos dezoito filmes anteriores apenas a morte de Mercúrio (Aaron Taylon-Johnson) havia sido relevante – e muitos reclamavam da falta de coragem dos próprios Russo em não terem vitimado o Máquina de Combate (Don Cheadle) durante o acidente que sofre em Capitão América: Guerra Civil (2016) – desta vez os realizadores não poupam absolutamente ninguém – e poucas vezes essa expressão foi levada tão ao pé da letra.

A partir deste ponto, desenvolvem-se três núcleos narrativos. Bruce Banner (Mark Ruffalo) é mandado de volta à Terra. Lá ele consegue avisar colegas como Capitão América (Chris Evans), Viúva Negra (Scarlett Johansson) e Pantera Negra (Chadwick Boseman) sobre a ameaça que está por vir, e juntos organizam uma força de resistência em Wakanda, ao mesmo tempo em que tentam descobrir como salvar o Visão (Paul Bettany), androide que só existe graças à força da joia da Mente. Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch), Homem de Ferro (Robert Downey Jr) e Homem-Aranha (Tom Holland) acabam se unindo ao Senhor das Estrelas (Chris Pratt) e Drax (Dave Bautista), e juntos decidem enfrentar Thanos o mais distante possível da Terra – imaginando que, com essa estratégia, conseguiriam salvar o nosso planeta. Agora, o plano mais insano parece ser o de Thor (Chris Hemsworth), que, contando apenas com a ajuda de Rocket (Bradley Cooper) e Groot (Vin Diesel), parte para o único lugar onde é possível encontrar uma arma capaz de por fim ao perigo que se aproxima: um novo martelo para chamar de seu!

Após uma década desde o primeiro lançamento dos Estúdios Marvel, a presença de super-heróis nos cinemas se tornou tão regular que gerou, praticamente, um novo perfil de entretenimento. Porém, tudo que é demais, um dia, se depara com a saturação. É natural, portanto, o temor de que este momento esteja próximo. O fracasso retumbante da concorrente DC em criar um universo próprio só serviu para mostrar que a engenharia por trás do que vem sendo feito desde a estreia de Homem de Ferro (2008) não é algo simples de ser copiado. E se Os Vingadores continua sendo o longa mais bem-sucedido financeiramente da Casa das Ideias – nem sua sequência, Era de Ultron, ou mesmo o fenômeno Pantera Negra (2018), conseguiram superá-lo – é quase uma obrigação que Guerra Infinita ultrapasse estes números com folga. Qualquer resultado abaixo dos US$ 2 bilhões nas bilheterias mundiais será visto com ressalvas. E quando as exigências são altas, nada melhor do que fazer apostas que, ainda que arriscadas, prometam retornos à altura destes esforços.

Com humor bem dosado – muito melhor do que o histrionismo visto em Thor: Ragnarok (2017) – e um impressionante equilíbrio entre o que a narrativa exige e os fãs esperam, tem-se ainda como bônus a construção de um dos melhores antagonistas do gênero, tão trágico e inesperado quanto o Coringa de Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008) ou o Magneto da saga X-Men. É em Thanos e por sua presença que Vingadores: Guerra Infinita encontra seu propósito e justificativa, e mesmo com um enredo absolutamente linear, consegue evitar a previsibilidade e o mero clichê do ‘todos contra um’. As escalas, agora, são maiores – assim como as expectativas envolvidas. E a controvérsia gerada pelo final agridoce é, enfim, tão necessária quanto pontual. Afinal, somente quem viver poderá testemunhar um novo mundo que está prestes a surgir.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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