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Sinopse

Loki retorna à Terra enviado pelos chitauri, uma raça alienígena que pretende dominar os humanos. Com a promessa de que será o soberano do planeta, ele rouba o cubo mágico dentro de instalações da S.H.I.E.L.D. e, com isso, adquire grandes poderes. Loki os usa para controlar o dr. Erik Selvig e Clint Barton/Gavião Arqueiro, que passam a trabalhar para ele. No intuito de contê-los, Nick Fury convoca um grupo de pessoas com grandes habilidades, mas que jamais haviam trabalhado juntas: Tony Stark/Homem de Ferro, Steve Rogers/Capitão América, Thor, Bruce Banner/Hulk e Natasha Romanoff/Viúva Negra. Só que, apesar do grande perigo que a Terra corre, não é tão simples assim conter o ego e os interesses de cada um deles para que possam agir em grupo.

Crítica

Não estamos nem na metade de 2012, mas uma coisa é certa: Os Vingadores é e será, sem sombra de dúvidas, um dos melhores filmes do ano! O que a Marvel Studios, os produtores Kevin Feige e Avi Arad e o diretor e roteirista Joss Whedon conseguiram, juntos, realizar, é algo simplesmente inacreditável. O Projeto Vingadores começou há cinco anos e chega agora ao seu ápice com um filme muito bem elaborado, inteligente, que consegue magistralmente distribuir espaço em cena para todos os seus protagonistas e ainda equilibrar cenas de ação de tirar o fôlego com momentos de muito humor, tensão, ternura, emoção e até romance. Ao lado de X-Men 2 (2003) e de Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008) temos a trinca de ouro dos longas baseados em histórias em quadrinhos. Cinema é fantasia, e foram poucas as vezes em que essa premissa esteve tão bem retratada como agora. A impressão que se tem é de estar diante de um gibi animado, em que todos os empecilhos de qualquer eventual adaptação foram superados e a magia e o fantástico tomaram conta plenamente, numa transposição absurdamente fiel, atendendo aos pedidos tanto dos fãs inveterados como mesmo dos mais simples curiosos. É um produto para todos os públicos, que entretém e diverte ao mesmo tempo em que fecha arestas anteriores e abre oportunidades para novos caminhos futuros.

Para quem não sabe, um pouco de história. Antes de se assumir como um estúdio independente, a Marvel se consolidou como uma das gigantes no mercado editorial de histórias em quadrinhos (comparada apenas à DC Comics, responsável pelos míticos Batman e Superman). Para começar a se aventurar no cinema, teve que testar alguns dos seus personagens mais clássicos, vendendo-os a outros estúdios, como o Homem-Aranha (para a Sony) e os X-Men (para a Fox). Os sucessos indiscutíveis destes e de outros filmes (como os do Quarteto Fantástico, do Demolidor e do Blade) pavimentaram o caminho para o início das atividades da Marvel Studios, que estreou em 2008 com dois longas: Homem de Ferro (de Jon Favreau) e O Incrível Hulk (de Louis Leterrier). Ambos foram bem de público e de crítica (o primeiro muito mais do que o segundo), e abriram espaço para Homem de Ferro 2 (2010), Thor (2011) e Capitão América: O Primeiro Vingador (2011). Cada um tinha uma missão muito simples e igual em todos os casos: apresentar as origens de cada personagem – Homem de Ferro, Hulk, Thor e Capitão América – para que fosse possível reuni-los posteriormente em um projeto muito mais ambicioso e arriscado: Os Vingadores! Ao lado destes quatro estão também a Viúva Negra (vista pela primeira vez em Homem de Ferro 2), o Gavião Arqueiro (visto em Thor) e Nick Fury (que teve pequenas participações não-creditadas em todos os filmes anteriores). Fury é responsável por unir e formar esta equipe, que tem como principal objetivo defender a Terra em casos de perigo extremo. E é exatamente o que acontece agora.

Grandes poderes geram grandes responsabilidades”, já dizia o Tio Ben em Homem-Aranha (2002). Pois a mesma lógica se aplica mais uma vez em Os Vingadores. Um grupo como este só estaria junto caso a situação exigisse, e ela se faz presente quando Loki, o irmão adotado de Thor, vem à Terra com a intenção de abrir um portal intergaláctico que possibilite uma invasão extraterrestre. Como já vimos antes, Loki não irá medir esforços e nem pesar as consequências das suas eventuais parcerias em sua busca desesperada por poder. A Terra, portanto, será o campo de treinamento ideal para ele testas suas forças e dar início a uma trajetória de conquistas e destruições. O embate se dá em torno de um artefato alienígena, uma fonte de energia inesgotável. Sua função depende das mãos que a carrega, e é isso que Loki busca. Quando a leva, domina também o Gavião Arqueiro, que fica sob o seu comando. Thor, Capitão América e Homem de Ferro são chamados para encontrá-los, enquanto que será responsabilidade da Viúva Negra recrutar o Dr. Bruce Banner (a forma humana do Hulk). O interessante é que eles não desaparecem diante o símbolo “Vingadores”. Até porque este nome, até este ponto, não passa de uma ideia na mente de Nick Fury. Os heróis não só precisam ser convencidos a se unirem como também aprender a lidar em equipe, algo que, definitivamente, não estão acostumados. As personalidades de cada um são tão fortes que serão inevitáveis conflitos entre eles, e episódios como a luta na floresta entre Thor, Homem de Ferro e o Capitão América responde por uma das sequências mais divertidas e bem elaboradas do longa.

O terço final de Os Vingadores se dá em plena Nova York, quando a invasão de fato tem vez e os seis heróis precisam aprender a agir em conjunto. O melhor disso é que, mesmo sendo o Capitão América um líder natural, as ações são completamente bem divididas e nenhum deles tem mais destaque do que o outro. Mesmo o Hulk, geralmente apresentado como uma besta descontrolada, tem num breve diálogo (com participação especial de Harry Dean Stanton, de clássicos como Alien: O Oitavo Passageiro, 1979, e Paris, Texas, 1984) a explicação de como fazer uso da razão quando na forma de monstro e como empregar sua força descomunal num objetivo único. Thor enfrenta Loki, o Capitão cria as melhores estratégias, o Gavião (já de posse dos seus sentidos originais) derruba o maior número possível de inimigos, a Viúva faz acrobacias inacreditáveis para chegar ao topo da Torre Stark e descobrir como fechar o portal, Hulk esmaga o que vier pela frente e o Homem de Ferro usa toda a sua energia neste mundo e em outros. E nós, espectadores, enquanto isso, ignoramos o tempo passar, prendemos a respiração até o último minuto e deixamos a boca aberta o maior tempo possível, não acreditando no que nossos olhos presenciam.

Os Vingadores e os filmes individuais dos heróis não seriam nada caso os elencos não fossem absolutamente perfeitos. Robert Downey Jr. nasceu para interpretar o Homem de Ferro, com malícia, inteligência e muita ironia. Ao seu lado, numa participação especialíssima, está Gwyneth Paltrow, conferindo mais charme ao filme. Scarlett Johansson talvez não fosse a escolha mais óbvia para dar vida à Viúva Negra, mas corresponde às expectativas mais elevadas sem desapontar, assim como Mark Ruffalo, o novato, que substitui com vontade Edward Norton (do filme de 2008) e Eric Bana (Hulk, 2003) como o gigante verde! Jeremy Renner, dono de duas indicações ao Oscar, ganha mais espaço como o Gavião Arqueiro e mostra uma virilidade e uma entrega de tirar o fôlego. Chris Evans, após ser o Tocha Humana nas aventuras do Quarteto Fantástico (2005 e 2007), está ainda mais à vontade como Capitão América, compenetrado, dedicado e nitidamente um militar em serviço. E por fim temos Chris Hemsworth, que tem corpo, voz e postura divina, e por isso que ninguém melhor do que ele poderia ser Thor, o deus do trovão. Ainda temos Tom Hiddleston, que após marcar presença em projetos tão diversos quanto Meia-noite em Paris e Cavalo de Guerra, cria com prazer o vilão Loki, oferecendo insanidade e perigo sem medo do exagero. Samuel L. Jackson está competente como sempre, e mesmo intérpretes de menor destaque, como Clark Gregg, Cobie Smulders e o nórdico Stellan Skarsgard estão exatamente de acordo com o esperado.

Após dirigir diversos seriados de televisão, como Firefly (2002), Buffy: A Caça-Vampiros (1996-2003), The Office (2007), Dollhouse (2009) e Glee (2010), Joss Whedon faz uma estreia de peso na tela grande. Este é, de fato, seu segundo longa-metragem, mas o anterior (Serenity, 2005) teve uma exibição tímida nos Estados Unidos, e nos demais países (como no Brasil) foi lançado direto em DVD. Ou seja, Os Vingadores é que conta de verdade, e pelo que se vê ele chegou para ficar. Este é um filme que deverá arrecadar mais de um bilhão nas bilheterias de todo o mundo e que a partir de agora será referência quando o assunto for sobre boas adaptações cinematográficas de histórias em quadrinhos. Os personagens estão exatamente como os conhecemos, cada um com o seu espaço e com suas características fundamentais; as ameaças são verdadeiras e fundamentadas; a ação é contínua; o humor é natural; e o desenvolvimento da trama é tão bem encaixado que pouco se questiona. Não há fios soltos além daqueles propositais, que servem apenas para aumentar o interesse e a curiosidade pelos gibis e pelos próximos filmes. Sim, pois essa é uma história que, felizmente, está recém começando, e ainda nos dará muitos e estimulantes frutos.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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