Crítica


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Sinopse

Jon Snow, Deanerys Targaryen e Tyrion Lannister rumam ao Fosso dos Dragões para encontrarem Cersei e Jamie Lannister e, com eles, discutirem uma possível trégua. Com eles, levam um Caminhante Branco, que deverá provar a urgência de uma aliança. Ao mesmo tempo, no norte, Sansa Stark se vê dividida entre a possível ameaça que sua irmã, Arya, representa, e os conselhos nem sempre confiáveis de Mindinho. Por fim, o Exército dos Mortos chega à Grande Muralha, agora com uma arma que poderá dar fim a qualquer resistência que eles até então haviam encontrado para cruzarem rumo ao sul. O inverno, enfim, já chegou.

Crítica

Um dos maiores fenômenos da televisão moderna, com episódios que chegam a contabilizar mais de 10 milhões de espectadores nos Estados Unidos – e isso, para uma emissora de sinal fechado como a HBO, é um feito e tanto – Game of Thrones chega ao fim de sua sétima temporada com chave de ouro, assumindo como parte de sua engrenagem aquilo que muitos insistem em apontar como ‘erros’ – elipses temporais são recursos amplamente utilizados em técnicas de roteiro, por exemplo – e potencializando aquilo que sempre teve de melhor: estratégias engenhosas, cenários incríveis, reviravoltas de última hora e um grande apreço por seus personagens. The Dragon and the Wolf, o capítulo derradeiro deste penúltimo ano, elevou as expectativas dos fãs, admiradores e curiosos do programa a respeito dos rumos que a trama deverá assumir em sua jornada rumo à conclusão, ao mesmo tempo em que tratou de corrigir um que outro deslize percebido recentemente. Em resumo, veio com gana para ganhar o jogo, e assim o fez, tal qual prometido.

O Dragão e o Lobo. Daenerys Targaryen e Jon Snow. A Rainha dos Dragões e o Lobo do Norte. A aproximação dos dois, há muito prometida, enfim se concretizou. Mas o que isso significa, ainda mais a partir das confirmações recentes? Jon Snow, como se suspeitava, não é das neves e nem da areia. Na verdade, seu nome é Aegon Targaryen, e é, de fato, sobrinho legítimo de Daenerys, verdadeiro e único herdeiro do Trono de Ferro. Bran Stark, seu irmão de criação e atual Corvo dos Três Olhos, assim como Samwell Tarly, seu melhor amigo, já sabem da verdade. Quanto tempo levará para que a mesma seja compartilhada com todos? Dragão e Lobo seguirão dividindo a mesma cama, ou se voltarão um contra o outro, agora que estão ambos destinados ao mesmo fim?

Em um episódio que começou com uma conversa sobre pintos – que já haviam ganho destaque em Beyond the Wall (T07E06) – e terminou com tímidas visões da bundinha do galã e do peitinho da deusa platinada, a nudez que tanto foi explorada nas primeiras temporadas parece, enfim, ter assumido uma timidez que só parece fazer sentido pela busca de uma audiência cada vez maior. E se o sexo parece em baixa, é o ambiente familiar que ganha, definitivamente, mais espaço. Dessa vez, tivemos importantes encontros: Tyrion e Cersei, Cersei e Jamie, Tyrion e Jamie, Sansa e Arya, Euron e Theon, Jon e Theon, Montanha e Cão de Guarda... e, claro, os já citados Jon e Daenerys. Irmãos, tios, parentes ou não. Todos juntos, tentando, de um jeito ou de outro, alcançarem um denominador comum. Tyrion, aliás, conseguiu, enfim, oportunidades para dar vazão ao talento de Peter Dinklage, o melhor de todo o elenco da série. Sua conversa com a irmã, aliás, foi um dos pontos altos, com ela, aliás, sustentando no olhar uma impressionante miríade de sentimentos.

Aqui, aliás, temos algo que merece ser destacado: a importância que, enfim, a família Lannister voltou a receber. Ausentes dos últimos segmentos – Cersei nem chegou a dar as caras no episódio 06 – eles, agora, voltaram com tudo. A ardilosa enganadora, o nobre apaixonado, o visionário conselheiro: os três deixaram claro os laços que os unem, e mesmo seguindo em direções opostas – afinal, cada um está numa direção – pareceram mais unidos do que nunca. Dispostos a tudo pelo que acreditam, certamente irão responder pelos principais e mais aguardados momentos do próximo ano, que já se anuncia, como esperado, o mais apoteótico de todos.

Se aqui começamos sob a absurda tensão do encontro de todos os principais protagonistas – Daenerys, Jon, Cersei, Tyrion, Jamie – no Fosso dos Dragões para discutirem uma possível trégua, a presença do Exército dos Mortos, à princípio discreta com a aparição do zumbi capturado, no final revelou-se como o principal gatilho para o que está por vir. O dragão zumbi mostrou sua força, e as estruturas foram, definitivamente, abaladas – para não dizer que estão, irreversivelmente, destruídas. A Muralha não protege mais ninguém, e mesmo aqueles que ousarem buscar um refúgio nas ilhas não estarão protegidos – ou esquecem que os Outros resgataram das águas geladas o dragão submerso? Por isso que a busca de Theon, finalmente partindo para salvar a irmã, Yara, e, com isso, recuperar sua própria honra, pode ser abreviada.

Paralelo a isso tudo, observamos com imenso prazer a reunião dos legítimos irmãos Stark. Sansa e Arya estavam, como muitos torciam, unidas – com o conhecimento e apoio de Bran – contra o ardiloso Mindinho, aquele que desde o princípio tudo o que fez foi conspirar contra os mais poderosos que ele. Acuado em pleno desespero, só lhe restou o fio da adaga de Arya, impiedosa e decidida. Se em temporadas anteriores nunca pareceu ser problema a morte de personagens importantes, dessa vez estava soando estranho figuras como Jamie, Bronn, Theon e até mesmo Jon Snow estarem sendo poupados. Mindinho se viu, portanto, diante do seu fim, entregando aos fãs o adeus pelo qual muitos ansiavam. Mas além da certeza de que o perigo muito maior ainda está para acontecer, com o Norte à beira do caos e a insensibilidade da comandante do Porto Real quanto à ameaça que, agora mais do que nunca, ela sabe que está sob sua cabeça, o que esperar para a temporada final? Talvez nem mesmo o Corvo de Três Olhos saiba, e por isso mesmo este capítulo parece ter sido tão bem-sucedido: ainda há muitas lacunas, e ao invés de renegá-las, as emprega a seu favor, fortalecendo a necessária ponte que nos levará até o fim. Pois esse teve aqui apenas o seu início, e até seu desfecho, o caminho a ser percorrido será longo, tortuoso, e não desprovido de emoções. Quem viver, verá.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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