7 mar

Oscar 2022 :: Apostas para Melhor Design de Produção

Até o nome da categoria é polêmico. Conhecida tradicionalmente como “Direção de Arte”, a alguns anos a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood passou a chamá-la de “Design de Produção” (Production Design). Este é um conceito, no entanto, que inexiste no Brasil – por aqui, segue sendo chamado de “Direção de Arte” o trabalho responsável pela recriação de cenários, ambientações, detalhes e locações. Nesse sentido, o mais importante precursor do Oscar é o ADG – Art Directors Guild, ou Sindicato dos Diretores de Arte – que possui quatro categorias específicas para Cinema. A precisão deles é tamanha que, nos últimos cinco anos, os vencedores do Oscar também haviam ganhado o ADG semanas antes. Como se percebe, eles entendem, mesmo, do assunto. Dito isso, confira as nossas apostas!

INDICADOS

 

FAVORITO
Duna, de Patrick Vermette, Zsuzsanna Sipos
Dois dos vencedores do ADG estão, também, indicados ao Oscar. E a nossa aposta para vitória na categoria vai para o trabalho verificado em Duna. Além de se tratar de um dos campeões de indicações deste ano – com 10 delas, não deverá sair de mãos abanando da festa – responde também por um dos trabalhos mais minuciosos, pois encarregado de criar não apenas um ambiente específico, mas mundos inteiros, com todas as suas complexidades e diferenciações. Premiado no ADG como “Melhor Direção de Arte em Filme de Fantasia”, superou concorrentes como Cruella, Ghostbusters: Mais Além, Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis e A Lenda do Cavaleiro Verde. Além disso, Patrice Vermette (indicado anteriormente por A Jovem Rainha Vitória, 2009, e por A Chegada, 2016) e Zsuzsanna Sipos (estreante na premiação) estão concorrendo ainda ao Bafta e ao Critics Choice, e foram premiados pelos críticos da Georgia, Portland, Washington e do Havaí.

AZARÃO
O Beco do Pesadelo, de Tamara Deverell, Shane Vieau
O longa dirigido por Guillermo Del Toro ganhou o ADG vencendo concorrentes de peso, como Licorice Pizza, A Crônica Francesa e os também indicados ao Oscar A Tragédia de Macbeth e Amor, Sublime Amor, todos na disputa pela “Melhor Direção de Arte em Filme de Época”. Se superou, na opinião dos especialistas, dois dos seus concorrentes por aqui, porque não aparece como favorito? Pelo simples fato de que O Beco do Pesadelo recebeu apenas quatro indicações ao Oscar, ter recebido críticas mistas (alguns adoraram, muitos acharam o resultado bastante problemático) e não parece haver tanta vontade de oferecer este tipo de reconhecimento ao projeto, independente de qual categoria for – é o caso de que as indicações já foram as vitórias. Shane Vieau é um antigo colaborador de Del Toro, e já possui um Oscar em casa – por A Forma da Água (2017). Ou seja, está longe de ser um desconhecido. E como, em casos como esses, conhecer as pessoas certas muitas vezes é tudo o que importa, quem sabe não teremos por aqui uma surpresa?

NEGAÇÃO
Ataque dos Cães, de Grant Major, Amber Richards
Ataque dos Cães é o único dos cinco concorrentes que não entrou na disputa do ADG – mesmo que lá nada menos do que 20 longas tenham sido lembrados (quatro categorias, cinco finalistas em cada uma). Como veio parar no Oscar, então? Muito em parte se deve à força do filme – afinal, é o campeão de indicações desse ano, com 12 ao todo. E Grant Major é um veterano no assunto, já estando em sua quinta indicação – ganhou por O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei (2003). Pelo trabalho realizado em parceria com Amber Richards no longa dirigido por Jane Campion chegou a ser indicado em algumas associações regionais de críticos e foi premiado apenas pela Sociedade dos Decoradores de Set, uma agremiação de menor expressão dentro da área. O suficiente para ser lembrado, como de fato aconteceu, mas pouco para impulsioná-los até a vitória.

ESQUECIDO
007: Sem Tempo Para Morrer, de Mark Tildesley e Véronique Melery
As outras duas categorias do ADG não reconhecidas pelo Oscar foram “Melhor Direção de Arte em Longa de Animação” (o vencedor foi Encanto) e “Melhor Direção de Arte em Longa Contemporâneo”, no qual 007: Sem Tempo para Morrer ganhou uma disputa acirrada, ao lado de concorrentes como Não Olhe Para Cima, A Filha Perdida e Em Um Bairro de Nova York. Tanto Mark Tildesley quanto Véronique Melery ainda estão no aguardo de suas primeiras indicações ao Oscar, mas o talento de ambos já pode ser conferido em filmes como Dois Papas (2019) e Trama Fantasma (2017). E o que fazem na última aventura desse James Bond é igualmente impressionante, em uma volta ao mundo muito bem marcada por diferentes tonalidades, reconstruções e detalhes, contribuindo decisivamente na narrativa. Uma pena não terem sido lembrados pelos votantes da Academia.
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Robledo Milani

é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.

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