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Sinopse

Pouco depois de passar pela experiência da troca de corpos, ainda em processo de assimilação do inusitado episódio, Cláudio e Helena passam novamente por isso após decidirem pelo divórcio.

Crítica

Cinema é entretenimento, é diversão, é passatempo. Mas não é só isso. Ou melhor, é muito mais. É também ensino, cultura, arte. E o grande problema dos cineastas brasileiros é não saberem unir estes dois lados. E Se Eu Fosse Você 2 é mais um exemplo deste difícil casamento: fala direto com o público despreocupado, mas ignora completamente qualquer ambição mais elevada. Ou seja, é uma bobagem, exatamente como aquela vista dois anos antes. Não tem sentido, mas se a piada funcionou da primeira vez, por que não repeti-la? Talvez pelo simples fato de que, por melhor que ela seja, só o fato de ouvi-la outra vez é motivo de bocejos.

O roteiro de Se Eu Fosse Você 2, escrito por Rene Belmonte, cujos créditos incluem os problemáticos Entre LençóisSexo com Amor? e Show de Bola, Adriana Falcão, dos ótimos Chega de Saudade e O Ano em que meus Pais Saíram de Férias, e Euclydes Marinho, do frustrante Primo Basílio, mostra bem a confusão que esta união de tão distintos talentos poderia proporcionar. Os três, que estiveram juntos também no primeiro filme, não conseguem atingir o equilíbrio necessário, e se por um lado tudo parece por demais forçado e repetitivo, a trama em si busca novos ares, adicionando ao dilema óbvio do casal central – marido e mulher trocam de corpos inexplicavelmente – uma nova problemática: a filha adolescente está grávida do namorado, e os dois pretendem se casar! Daniel Filho, o diretor e um verdadeiro gênio da televisão brasileira, continua tropeçando em sua declarada paixão pelo cinema, tendo realizado apenas um único bom filme nesta sua retomada pessoal (A Dona da História, de 2004), mas segue sabendo se comunicar com grandes plateias. Ou seja, quem for assistir a este novo trabalho provavelmente irá se divertir, bastando para isso esquecer completamente do longa anterior – ou melhor, de qualquer outra produção do gênero, uma vez que a reciclagem é evidente e escancarada!

Até um dos principais trunfos de Se Eu Fosse Você, a dupla de protagonistas, parece ter se perdido nestes dois anos que separam o primeiro do segundo episódio – e um terceiro já está anunciado! Tony Ramos e Gloria Pires estão entre os melhores e maiores atores nacionais, mas será que quando o texto não colabora, os diálogos são pobres e a criatividade passou longe do enredo eles podem fazer milagres? Pelo jeito, não. E mesmo intérpretes veteranos como eles precisam de uma orientação vez que outra. Ramos, por exemplo, sabe muito bem atuar como um homem afeminado, mas estará ele interpretando a personagem da Gloria? Ela, por outro lado, consegue ir além do óbvio “mulher masculinizada”, procurando incorporar ao seu desempenho algum ou outro trejeito dele. Mas o resultado não é muito superior. Já os coadjuvantes são, por si só, um desastre. Poucos do primeiro filme retornaram – como Ary Fontoura e Maria Gladys – e em participações ainda menores. E as novas adições chegam a ser surpreendentes de tão constrangedoras. Chico Anysio simplesmente não atua, entregando mais do mesmo. Maria Luísa Mendonça, uma ótima atriz, está completamente perdida, assim como Cássio Gabus Mendes, um ator de potencial, mas desperdiçado. E o que Adriane Galisteu pensa estar fazendo? E a filha até mudou de atriz – se antes era interpretada por Lara Rodrigues, agora ganhou o rosto de Isabelle Drummond. Não que isso faça grande diferença, aliás.

Se Eu Fosse Você 2 é filme de verão, direcionado para aquele espectador que não tem mesmo costume ir ao cinema, muito menos em ver produções nacionais, mas que está de férias e cansado de ficar em casa assistindo às mesmas coisas na televisão. Assim, vai passear no shopping, e para passar o tempo resolve conferir esta palhaçada. Ele até irá dar duas ou três gargalhadas, mas não mais do que isso. E assim que a projeção acabar, tudo o que irá lhe preocupar será onde jantar, pois certamente terá esquecido tudo o que acabou de ser exibido. Se este é o caminho mais indicado para o futuro do cinema brasileiro, eu não sei. Mas que não me parece muito saudável, disso não há dúvidas.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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