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Sinopse

Paula e Roberto se conhecem numa boate. Ela está prestes a se casar e ele acaba de sair de uma longa relação. Os dois acabarão passando a noite toda num motel, onde - entre uma transa e outra - discutem sobre amor, desejo e inseguranças.

Crítica

Dois estranhos se conhecem, ao acaso, durante uma balada. Acabam ficando juntos, e decidem ir para um motel. Durante a noite, entre muito sexo, trocam confidências, fazem revelações e, inacreditavelmente, se apaixonam. E a vida deles nunca mais será igual. Este enredo pra lá de improvável é o de Entre Lençóis, filme tão absurdo que mais parece ficção científica. O diretor colombiano Gustavo Nieto Roa, estreando no Brasil, realmente quer nos fazer acreditar que estes dois personagens são tão carentes, infelizes e desesperados a ponto de se envolverem radicalmente com o primeiro estranho que encontram. Ainda mais sendo estes dois desconhecidos Reynaldo Gianecchini e Paolla Oliveira!

E o mais bizarro é que Nieto Roa não cometeu o erro apenas uma vez, mas duas, e pretende insistir! Afinal Entre Lençóis faz parte de um projeto do realizador de contar a mesma história em diferentes línguas. Primeiro foi em espanhol (Entre Sábanas, 2008), no seu país natal. Agora veio a brasileira, e ele ambiciosamente chegou a planejar uma terceira versão em inglês, com os latinos Antonio Banderas e Penélope Cruz como protagonistas - que, felizmente, não chegou a se concretizar.

O pior de Entre Lençóis é o amadorismo da produção. Na verdade estamos diante de um telefilme, um produto televisivo, com fotografia quadradinha, bastante convencional, narrativa bem tradicional e dois atores lindos, porém limitados em seus potenciais dramáticos. Mas nada supera a ingenuidade do roteiro, creditado a Renê Belmonte (o mesmo dos equivocados Sexo com Amor?, 2008). Os diálogos são risíveis, e nem o mais esforçado dos atores pode defendê-los de forma bem sucedida. Não há como acreditar no que os personagens estão dizendo, nas confissões que fazem e nos sentimentos que afirmam estar aflorando entre eles. Pára tudo! Eles se conhecem há duas ou três horas e já crêem ter encontrado a alma gêmea de suas vidas? Por favor, vamos nos respeitar!

Gianecchini e Paolla, ao menos, possuem química juntos, e parecem estar à vontade numa encenação em que passam 90% do tempo pelados. Ele, obviamente, mais acostumado, já que passou por situação semelhante em Primo Basílio (2007). Ela, por sua vez, estréia com bastante desenvoltura no cinema, após três novelas na Rede Globo. Foi uma aposta arriscada de ambos, porém tinham direito à veto nas cenas mais ousadas – tanto que ele acabou cortando uma que continha um nu frontal seu. Mas se a nudez dos dois não chega a ser ofensiva e obscena, o mesmo não pode ser dito do longa em si.

Entre Lençóis é constrangedor. E tudo o que merece é o esquecimento, por tão ridículo que é. Seu enredo é ingênuo, sua realização é primária, e sua conclusão provoca risos involuntários. Tudo é tão fantasioso que chega a provocar um sentimento de desrespeito. E entre mortos e feridos temos um cineasta que, pelo visto aqui, já deve ter aprontado muito na Colômbia e que agora está tentando a sorte por aqui. Tomara que desista logo e siga adiante. Banderas e Penélope, preparem-se!

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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