Crítica
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Sinopse
A linda e emocionante história de amor entre uma cocker spaniel mimada e um vira-lata cheio de ginga.
Crítica
Refilmar clássicos do próprio acervo de longas de animação, só que dessa vez adaptados ao formato live action – ou seja, com pessoas e cenários reais – tem se tornado uma verdadeira febre dentro dos Estúdios Disney. Sucessos recentes, como Aladdin (2019), Cinderela (2015) e, principalmente, A Bela e a Fera (2017), consagraram essa tendência com bilheterias gigantescas e boas recepções entre os críticos. Quando decidiu lançar sua própria plataforma de streaming, a Disney+, era certo que algo dentro desse subgênero seria oferecido aos novos assinantes. Porém, ainda antes da pandemia – e o consequente lançamento de Mulan (2020) apenas online – a opção escolhida foi por um título menos badalado, mas não menos adorado pelos fãs. O resultado é esse A Dama e o Vagabundo, que apesar de manter com eficiência o mesmo espírito do desenho animado original, persegue em sua realização o efeito alcançado não pelos filmes citados acima, mas por aquele que obteve os melhores números dentre eles: O Rei Leão (2019). Mais para o bem, no entanto, do que para o mal.
É importante ter isso em mente pois, apesar de ser alardeado como “a versão live action de A Dama e o Vagabundo (1955)”, e de fato contar com atores profissionais no elenco – como o casal formado por Thomas Mann (Eu, Você e a Garota que Vai Morrer, 2015) e Kiersey Clemons (O Mistério da Ilha, 2019), os proprietários da Dama, a tia antipática (Yvette Nicole Brown, da série Community, 2009-2015), que gera as piores dores de cabeça para a cadela, ou o oficial da carrocinha (Adrian Martinez, de Sexy por Acidente, 2018), além de participações pontuais de rostos mais conhecidos, como o cômico Ken Jeong ou o oscarizado F. Murray Abraham, eles todos não são mais do que coadjuvantes esporádicos. Os verdadeiros protagonistas – a Dama e o Vagabundo, é claro, além de seus amigos e inimigos – são recriações digitais, exatamente como visto também em Mogli: O Menino Lobo (2016), por exemplo.
Bom, deixando essas questões técnicas de lado, e estabelecendo como fato que essa releitura também é, em grande parte, uma animação – porém com as facilidades dos recursos digitais e através de uma técnica ultra realista – é certo que o novo A Dama e o Vagabundo é eficiente em manter muito da aura e da delicadeza do romance que vem conquistando milhares de admiradores há mais de meio século. Ainda que siga causando estranheza observar animais com expressões humanas – mesma reação observada nas tentativas anteriores (ambas citadas acima) – a perfeição de detalhes e movimentos é tamanha que a sensação de encantamento acaba perpassando toda a trama, desde os momentos mais singelos, em ambientes controlados, como dentro das casas ou pelos jardins da tranquila vizinhança de Dama (voz de Tessa Thompson), como na turbulência da cidade grande, entre um trânsito movimentado, fogos de artifício ou perseguições de vida ou morte (ou quase isso), registradas durante as andanças do Vagabundo (dublado por Justin Theroux).
Para quem precisa recordar a trama básica, é sobre uma delicada cocker spaniel, que é adotada pelos recém-casados Jim Querido (Jim Dear) e Querida (Darling). Ela se comporta como filha dos dois, e o pior – como a única “criança” da casa, é mimada ao extremo. Só que quando Querida engravida, mudanças começam a acontecer, e Dama logo descobre não estar mais no centro das atenções da família. Quando é deixada aos cuidados da tia Sarah durante um fim de semana estendido dos novos pais, Dama acaba fugindo dos maltratos da senhora que não simpatiza nem um pouco com ela. Sem saber como voltar para casa, conhece e se afeiçoa por Vagabundo, um vira-lata que há anos vive nas ruas, ambiente no qual se sente um rei. Malandro como só ele, consegue descolar para os dois uma boa refeição, um abrigo acolhedor e, no final da jornada, o caminho de volta ao lar. O que ambos não contavam seria com a insistência de Elliott, o homem responsável por caçar todos os cães abandonados e trancafiá-los até serem resgatados – ou destino pior.
Se no começo o tom estabelecido pelo diretor Charlie Bean (Lego Ninjago: O Filme, 2017) oferece à narrativa uma conotação quase fabular, o roteiro de Kari Granlund (Fada Madrinha, 2020) e Andrew Bujalski (Resultados, 2015) se encarrega de oferecer dinamismo ao conjunto, alternando sequências românticas – o vislumbre da cidade iluminada do alto da colina – com outras de pura adrenalina – a perseguição final é de elevar os ânimos de qualquer um – sem esquecer da recriação de algumas passagens icônicas – como o jantar com espaguete e almôndegas – que são capazes de levar lágrimas de contentamento até aos mais resistentes da audiência. Assim, esse A Dama e o Vagabundo cumpre com competência exatamente o que dele se espera, recriando o mesmo universo mágico de uma história que há gerações vem demonstrando seu efeito, na mesma medida em que consegue atualizar seu visual, mais de acordo com os olhares modernos. Um tiro certeiro!
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 7 |
Marcio Sallem | 5 |
Lorenna Montenegro | 7 |
Ticiano Osorio | 7 |
MÉDIA | 6.5 |
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