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Sinopse

Mogli é um menino órfão criado por uma alcateia de lobos, uma pantera negra e um urso. Hábil em se movimentar pela floresta e bastante adaptado aos animais de lá, vai enfrentar um grande desafio com a chegada de Shere Khan, um tigre que não suporta a presença de humanos.

Crítica

É pouco provável que o cinema ofereça algo mais visualmente deslumbrante em 2016 do que a nova versão de Mogli: O Menino Lobo. O feito do diretor Jon Favreau é tão impressionante a ponto de deixar qualquer um na audiência boquiaberto, comprovando de uma vez por todas que, em se tratando de Hollywood, tudo é possível – isso para aqueles que não se convenceram com Avatar (2009), que fique claro. Fazendo uso das maravilhas da tecnologia digital, o filme foi realizado por completo dentro de um estúdio, tendo como única participação real a presença do menino Neel Sethi, que interage o tempo todo com lobos, tigres, panteras, ursos, macacos, cobras, elefantes e com uma floresta inteira, nos seus mínimos detalhes, recriados por computador. E se os olhos se encantam pela genialidade e competência, o mesmo se pode dizer da trama – ainda que essa não apresente muitas novidades em relação aos já familiarizados com o clássico de 1967.

A tendência não é nova – 101 Dálmatas, com Glenn Close, é de 1996, ou seja, de vinte anos atrás – e nem mesmo este caso é original – o texto de Rudyard Kipling já havia sido encenado com atores em O Livro da Selva (1994). No entanto, desde o sucesso absurdo de Alice no País das Maravilhas (2010), que faturou mais de US$ 1 bilhão nas bilheterias de todo o mundo, transformar os contos de fada Disney em projetos de primeira linha com atores de verdade se tornou lei no estúdio. É por isso que nos últimos anos nos deparamos com títulos como Malévola (2014) – revisão de A Bela Adormecida (1959) – e Cinderela (2015). E isso não vai parar por aqui: nos próximos meses já estão confirmados Alice Através do Espelho (2016, novamente com Johnny Depp e Mia Wasikowska) e A Bela e a Fera (2017, com Emma Watson e Dan Stevens). Este Mogli: O Menino Lobo, no entanto, se surge para representar mais um passo nesse processo, termina por funcionar tão bem que o que consegue, acima de tudo, é aumentar as expectativas em relação ao que vem por aí.

A Disney é conhecida por investir em terrenos seguros e ousar pouco, sempre privilegiando a excelência dos seus produtos, com olhar controlado a respeito da criatividade dos seus talentos. É por isso, por exemplo, que Tim Burton teve que sair da companhia no início de sua carreira, e que levou tanto tempo para a Pixar se unir à casa de Mickey Mouse. Tudo que é muito novo pode ser entendido também como arriscado, e até que sua eficiência seja comprovada, a regra da casa é observar a uma distância segura. Mas assim que a aposta se revela certeira, investe-se nela com afinco, cuidando sempre para não esgotar seus recursos – como exemplos recentes, temos a franquia Star Wars e o Universo Marvel. É por isso, portanto, que ao encontrarmos o pequeno Mogli, o garoto que foi abandonado ainda bebê no meio da selva, e seus companheiros, como a pantera Bagheera e o urso Baloo, o encanto ressurge quase que de forma automática, deixando pouco espaço, no entanto, para qualquer surpresa além daquelas já previstas.

Neel Sethi, aqui em sua primeira experiência à frente das câmeras, se sai relativamente bem como o protagonista – ele não tem a desenvoltura de um Jacob Tremblay, mas dá um baile no pequeno Jake Lloyd como Anakin Skywalker de Star Wars: Episódio I – A Ameaça Fantasma (1999). Resgatado por Bagheera, é entregue aos lobos, que o criam como um dos seus filhotes – principalmente Raksha, incapaz de reconhecer nele qualquer tipo de diferença. Só que o bebê cresce, e com ele vem a lembrança de seu pai, que morreu em confronto com o tigre Shere Khan, que prometeu se vingar – e guarda uma cicatriz na face para lembrá-lo. A fera quer a morte da criança, e para impedir que isso aconteça, Bagheera decide escoltá-la até a vila de homens mais próxima, contando para isso com a ajuda de Baloo e evitando os demais perigos do caminho, como a cobra Kaa e o orangotango gigante Rei Louie.

Enfim, a trama é praticamente a mesma do longa animado. E as poucas mudanças que ocorrem, se concentram praticamente na sua conclusão, o que conta em seu demérito – o final original, maduro e audacioso, é substituído por um mais conservador, que possibilita uma eventual sequência (olha a Disney, novamente, pensando mais no bolso do que na lógica). Por outro lado, a impressionante competência técnica apresentada é um deslumbre à parte, desde os cenários trazidos à vida – como o reino de Louie, que tem algo de King Kong (2005) em sua grandiosidade – ou nos talentos vocais, que incluem entre os dubladores originais os excepcionais Bill Murray (incrível como Baloo), Idris Elba (compondo um Shere Khan assustador) e Christopher Walken (Rei Louie canta e dança tal qual o astro de Hairspray, 2007), além dos ótimos – e oscarizados – Ben Kingsley (Bagheera) e Lupita Nyong’o (Raksha). Enfim, com um conjunto em que as partes se destacam mais do que o todo, esse Mogli: O Menino Lobo revela-se eficiente além de qualquer dúvida, mesmo que toda a sua inventividade esteja restrita à forma, e não ao conteúdo.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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