Listar os melhores do ano é sempre uma tarefa ingrata: há filmes excelentes lançados no início do ano que são esquecidos ao longo do caminho, outros que saíram “lá fora” no ano passado e demoraram a chegar aqui, muitas vezes, em um número reduzido de salas. É claro que também há uma lembrança maior em relação aos títulos lançados no segundo semestre. Então, como ser justo? A equipe do Papo de Cinema resolveu listar, colaborador a colaborador, cada um dos seus dez melhores filmes do ano. O resultado desta votação chegou a uma média que aponta os dez mais lembrados de 2014. Quer saber quais são? Confira e aponte os seus também!

 

10 – Nebraska (2013)
Citar Nebraska entre os melhores lançamentos de 2014 é fazer justiça. Focado nas emoções e na dinâmica familiar como microcosmo das relações humanas, esse é um dos melhores filmes de Alexander Payne. Destoando de um mundo cada vez mais cínico, descrente – muitas vezes não sem razão, é verdade -, o idoso Woody (Bruce Dern) bota na cabeça que precisa atravessar os Estados Unidos em busca do prêmio de um milhão de dólares que sabemos ser artifício de marketing charlatão. O filho resolve ir junto, afinal não deixará o pai nessa empreitada sozinho. Logo, estrada afora, eles contemplam a beleza meio rudimentar e nostálgica da América interiorana, evocada, sobretudo, pelo preto e branco da imagem. É a passagem do tempo que se estabelece nessa interação muito particular entre pai e filho. A despeito da correria das grandes cidades, onde esse tempo corre e transforma a olhos vistos, à beira da estrada, nas paisagens campesinas norte-americanas, ele parece congelado. Nesse contato direto com suas raízes, com um tempo que se foi sem alardear o porvir, Woody ensinará ao filho, direta e indiretamente, a necessidade de valorizar momentos verdadeiramente essenciais, estes que muitas vezes nos escapam na pressa do dia a dia. – por Marcelo Müller

 

 

9 – O Passado (Le Passé, 2013)
O iraniano Asghar Farhadi foi capaz de um feito que poucos cineastas conseguem após lançarem um trabalho excepcional: entregar outro filme à altura do antecessor. Há três anos, a maioria apontava A Separação (2011) como o melhor filme do ano. Com este novo título, o burburinho foi bem menor, mesmo que o diretor firme seu pé como um dos mais interessantes realizadores do cinema atual. Farhadi transforma discussões domésticas em questões macro e que atingem o espectador da forma mais profunda possível. Quando alguns segredos são, aparentemente, revelados, pouco a pouco, O Passado mostra tudo que seu realizador quer dizer com a narrativa, mesmo que ela deixe mais dúvidas do que respostas. A questão principal permanece: temos direito de culpar alguém por revelar uma situação que nós mesmos não temos a coragem de expôr? O passado em si parece ter a resposta que nem Farhadi, seus personagens ou o público parecem conseguir responder. Algo que dimensiona a discussão sobre moral, ética e valores dos mais diversos que parecem ter se perdido no mundo contemporâneo. Se é que eles realmente já existiram. – por Matheus Bonez

 

 

8 – O Lobo Atrás da Porta (2014)
Não existe nada de errado com Hoje Eu Quero Voltar Sozinho (2014), porém se existia um filme capaz de nos levar mais longe na corrida do Oscar desse próximo ano, esse filme era O Lobo Atrás da Porta. Baseado em casos que espantaram a população do Rio de Janeiro, o diretor Fernando Coimbra apresenta um filme com momentos excepcionais que até mesmo brincam com Alfred Hitchcock para contar a história de uma menina sequestrada que coloca todos os envolvidos na situação como suspeitos. Conforme as reviravoltas acontecem e vários flashbacks são apresentados, a trama vai mudando e ganhando tons macabros. Leandra Leal entrega uma das mais impressionantes atuações de sua carreira ao lado de atores como Milhem Cortaz, Fabiula Nascimento e Karine Telles. Infelizmente, o longa não encontrou um grande público capaz de reconhecer isso. Ofuscado pela avalanche de blockbusters lançados de maio até julho, o filme foi desaparecendo rapidamente das telas. Uma injustiça das grandes a um dos melhores deste ano. – por Renato Cabral

 

 

7 – Mommy (2014)
Meu primeiro contato com Mommy (não a minha!) foi no Festival de Cannes 2014 quando ele foi exibido pela primeira vez e mexeu com a plateia. Motivos? Vários. Mas o principal, sem dúvida, está na maneira interessante que o jovem cineasta canadense Xavier Dolan, de 25 anos, encontrou para provocar e fazer você mergulhar naquela história de amor, quase sem limites, entre uma mãezona (uma ótima Anne Dorval) e um filho problemático. Encarnando o rebento rebelde, Dolan saiu de lá com um prêmio (quase) de consolação (Grande Prêmio do Júri), absurdamente divido com o superestimado Adeus à Linguagem 3D, de Jean-Luc Godard, concorde você ou não com a opinião do escriba. De volta ao filme em questão, ele merece figurar no Top 10 pela trama envolvente, com bons personagens, ótima trilha sonora ilustrando imagens ora singelas, ora fortes, e sequências de arrepiar como as que brincam com o tamanho da tela e aumentam a sua percepção em relação ao que o protagonista está sentindo. A duração (140 minutos) é o ponto fraco. Fosse mais enxuto, seu ritmo e capacidade de aprisionar o espectador tornariam essa obra ainda mais arrebatadora. – por Roberto Cunha

 

 

6 – Sob a Pele (Under the Skin, 2014)
Jonathan Glazer se vale dos atributos sedutores de Scarlett Johansson para dar corpo e muita pele a uma criatura de outro planeta que busca na Terra os alimentos para sua espécie. Suas presas são homens, geralmente andarilhos, que ela seduz em sua van nas noites frias da Escócia para levar até sua casa, que serve como uma espécie de abatedouro. Baseado em um intrigante romance de Michel Faber, Sob a Pele tem também inspirações admiráveis no cinema de Stanley Kubrick – a atmosfera original de 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968) e o erotismo incômodo de De Olhos Bem Fechados (1999) preenchem importantes sequências da obra de Glazer. A trilha de Mika Levy e a fotografia de Daniel Landin são irretocáveis, o que amplifica as intenções de um cineasta que já havia atestado seu domínio na criação de recursos visuais e apelos instintivos no subestimado Reencarnação. Em Sob a Pele, Glazer vai mais longe e concebe uma fábula aterrorizante que conta com Scarlett Johansson em uma performance inesquecível e quase surreal.  Narrado num subtexto que deixa muito para a interpretação – e o subconsciente – de seu espectador, Sob a Pele é uma das obras mais surpreendentes dos últimos anos, intuitivo e nada didático ou previsível. Mais do que isso, ele é obrigatório. – por Conrado Heoli

 

5 – O Lobo de Wall Street (The Wolf of Wall Street, 2013)
Leonardo DiCaprio foi o grande injustiçado do Oscar deste ano. Por mais que 2014 tenha sido o ano de Matthew McConaughey, a atuação de DiCaprio em O Lobo de Wall Street é transcendental. Jordan Belfort muito provavelmente será o papel da vida do ator, que não se fez de rogado, enfiando o pé na jaca e entregando uma atuação sem amarras, sem medos. Isso chama-se entrega. Felizmente, não são só os louros da Academia que importam. O ator foi reverenciado por boa parte do público e da crítica pela sua performance neste belíssimo longa-metragem de Martin Scorsese. Com estreia no começo do ano no Brasil, O Lobo de Wall Street poderia muito bem ter perdido espaço na lista dos melhores pela nossa curta memória. O esquecimento não aconteceu pela qualidade da trama, cheia de exageros, pela história muito bem amarrada, pela dobradinha perfeita entre Di Caprio e Jonah Hill, pelas cenas roubadas por Rob Reiner, pela beleza estonteante da revelação Margot Robbie, pela tonelada de cenas engraçadíssimas. Os predicados do filme são inúmeros. Nem a longa duração atrapalha neste incontestável destaque de 2014. Como é bom ver o cinema de um diretor veterano e nada acomodado como Martin Scorsese. – por Rodrigo de Oliveira

 

4 – O Grande Hotel Budapeste (The Grand Budapest Hotel, 2014)
A capital da Hungria é um lugar mágico, encantador e misterioso. O primeiro filme a levar seu nome no título foi Um Romance em Budapeste (1933), há quase um século, e depois de passar até por uma produção brasileira – Budapeste (2009) – chegou a vez de Hollywood também ceder aos seus encantos – e reproduzir estas mesmas qualidades em um longa impecável. Este longa, no qual fica evidente com imensa precisão o gênio criativo de Wes Anderson, foi exibido pela primeira vez no começo do ano, durante o Festival de Berlim, em fevereiro, de onde saiu com o Grande Prêmio do Júri. Pois estes onze meses não foram suficientes para que o impacto provocado em sua audiência se apagasse da memória. Afinal, a jornada percorrida pelo concierge M. Gustave (um inspirado Ralph Fiennes) é tão inesperada e envolvente que é quase impossível não se deixar levar ao seu lado. Como resultado, temos quatro indicações ao Globo de Ouro, onze ao Critics Choice Award e prêmios sendo colecionados ao redor do mundo, o que o coloca desde já como um dos favoritos ao próximo Oscar. Mais do que merecido, não? – por Robledo Milani

 

3 – Boyhood: Da Infância à Juventude (Boyhood, 2014)
Gravar um filme durante vários anos para mostrar o crescimento dos personagens da história (ou de pessoas reais mesmo) é algo que não acontece o tempo todo no cinema. Talvez por ser uma espécie de exercício de paciência para seus envolvidos, talvez por não ser possível juntar uma equipe para filmar sempre que necessário. Mas nesse sentido o talentoso Richard Linklater foi maravilhosamente bem sucedido em Boyhood. Ao explorar a evolução de um garoto, assim como a de sua família, desde sua infância até a juventude através de períodos específicos ao longo dos anos, Linklater criou um trabalho sensível com o qual o público tem facilidade de se identificar por tratar de dramas cotidianos. Boyhood mostra como os momentos que podemos considerar pequenos em nossas vidas são tão essenciais quanto àqueles mais importantes quando o assunto é a formação de nosso caráter. Acompanhar Mason (vivido por Ellar Coltrane) passando por tudo isso e o impacto que o tempo causa nas pessoas ao seu redor acaba sendo uma experiência tocante, nostálgica e inesquecível. – por Thomás Boeira

 

2 – Ela (Her, 2013)
A solidão une. Em Encontros e Desencontros (2003), a contemplação da solidão aproxima a dupla improvável vivida por Scarlett Johansson e Bill Muray. Em Ela, é a vez do escritor Theodore Twombly (Joaquin Phoenix). Mais de dez anos separam os dois filmes. O cenário deixou de ser a megalópole oriental e a topografia de estranhos para ser o futuro tecnológico e asséptico desenhado por Spike Jonze. Nele, Theodore escreve cartas não para, mas pelas pessoas. Remunerado para preencher a lacuna de humanidade dos outros, o personagem de Ela é um rascunho sintomático do que temos desenhado. Solitário após a separação, Twombly apaixona-se pelo sistema operacional que o acompanha. A medida que o personagem de Phoenix (em grande atuação) se envolve cada vez mais com o computador, nossos questionamentos e juízos se tornam irrelevantes. Perto da felicidade alheia, nos percebemos irrelevantes. À direção irretocável de Jonze coube transformar a ideia inicialmente improvável e ridícula em realidade palpável, possibilitando que a arquitetura visual e a densidade psicológica do solitário Twombly se transformasse em um dos registros mais belos e melancólicos da condição moderna. – por Willian Silveira

 

1 – Garota Exemplar (Gone Girl, 2014)
No que você está pensando? O que fizemos um ao outro? O que ainda vamos fazer?” são as indagações com que o nunca menos do que admirável David Fincher inicia e termina este projeto. Girando em torno do desaparecimento de Amy e da investigação em volta do principal suspeito, seu marido, Nick, a autora Gillian Fynn adapta aqui o seu próprio livro de forma fiel, trazendo para Fincher exatamente o tipo de filme que o cineasta domina com maestria: suspenses. Porém, o longa procura desnudar não só o mistério que apresenta, mas junto com isso, o cerne da natureza dos relacionamentos e do desfile de aparências que cerca qualquer interação humana. O desacreditado Ben Affleck encarna Nick com facilidade e é divertido como, mesmo cada vez mais incriminado, nos recusamos a acreditar que Nick é de fato o culpado, já que ele é a nossa âncora dentro daquela trama sombria. Enquanto isso, a pouco conhecida Rosamund Pike surge com uma performance digna do Oscar de Melhor Atriz, desenvolvendo no espectador uma curiosidade mórbida e doentia por sua personagem, que se torna mais cativante a cada aspecto seu que nos é revelado. E aquele final? Garota Exemplar é não um estudo de personagem, porém o estudo de um casal e, através dele, um estudo humano instigante e complexo. Uma produção que mexe onde ninguém nunca ousa e manda o espectador para fora da tela olhando com suspeita não só para a pessoa do lado, mas também para si mesmo. E justamente por conseguir este efeito, não se deve suspeitar disto: é o grande filme do ano. – por Yuri Correa

 

Confira também as listas de dez melhores do ano de cada um dos colaboradores:

 

Conrado Heoli

10 – Relatos Selvagens
9 – Uma Família em Tóquio
8 – Ventos de Agosto
7 – Alabama Monroe
6 – Quando Eu Era Vivo
5 – Inside Llewyn Davis: Balada de um Homem Comum
4 – Boyhood: Da Infância à Juventude
3 – Garota Exemplar 
2 – Ela
1 – Sob a Pele 


Marcelo Müller

10 – Boyhood: Da Infância à Juventude
9 – O Lobo Atrás da Porta
8 – Inside Llewyn Davis: Balada de um Homem Comum
7 – O Abutre
6 – Praia do Futuro
5 – Interestelar
4 – Nebraska
3 – Instinto Materno
2 – A Pedra de Paciência
1 – Mommy

 

Matheus Bonez

10 – Mommy
9 – Frozen: Uma Aventura Congelante
8 – O Lobo Atrás da Porta
7 – Sob a Pele
6 – Alabama Monroe
5 – Ela
4 – O Grande Hotel Budapeste
3 – Garota Exemplar 
2 – Relatos Selvagens
1 – O Passado

 

Renato Cabral

10 – Um Amor em Paris
9 – Castanha
8 – Uma Aventura LEGO
7 – Garota Exemplar 
6 – Ida
5 – Era Uma Vez em Nova York
4 – Sobre Sete Ondas Verdes Espumantes
3 – O Lobo Atrás da Porta
2 – Amantes Eternos
1 – Sob a Pele 

 

Rodrigo de Oliveira

10 – Capitão América 2: O Soldado Invernal
9 – O Mercado de Notícias
8 – Garota Exemplar
7 – O Grande Hotel Budapeste
6 – Inside Llewyn Davis: Balada de um Homem Comum
5 – Alabama Monroe
4 – Sob a Pele
3 – Boyhood: Da Infância à Juventude
2 – O Lobo de Wall Street
1 – Ela

 

Roberto Cunha

10 – The Lunchbox
9 – Guardiões da Galáxia
8 – O Lobo Atrás da Porta
7 – Relatos Selvagens
6 – Instinto Materno
5 – Garota Exemplar
4 – Homens, Mulheres e Filhos
3 – Nebraska
2 – Ela
1 – Mommy

 

Robledo Milani

10 – Hoje Eu Quero Voltar Sozinho
9 – Relatos Selvagens
8 – O Menino e o Mundo
7 – Garota Exemplar
6 – Interestelar
5 – O Lobo Atrás da Porta
4 – O Lobo de Wall Street
3 – O Grande Hotel Budapeste
2 – Praia do Futuro
1 – Mommy

 

Thomás Boeira

10 – X-Men: Dias de um Futuro Esquecido
9 – O Grande Hotel Budapeste
8 – Fruitvale Station: A Última Parada
7 – Ela
6 – O Lobo de Wall Street
5 – O Passado
4 – Garota Exemplar
3 – O Lobo Atrás da Porta
2 – Boyhood: Da Infância à Juventude
1 – O Homem Duplicado

 

Willian Silveira

10 – Versos de um Crime
9 – Saint Laurent
8 – Hélio Oiticica
7 – Hoje Eu Quero Voltar Sozinho
6 – O Grande Hotel Budapeste
5 – O Lobo de Wall Street
4 – Nebraska
3 – Garota Exemplar
2 – Boyhood: Da Infância à Juventude
1 – Ela

 

Yuri Correa 

10 – 12 Anos de Escravidão
9 – O Abutre
8 – O Homem Duplicado
7 – Frozen: Uma Aventura Congelante
6 – Ninfomaníaca: Parte 1
5 – O Lobo de Wall Street
4 – O Passado
3 – O Grande Hotel Budapeste
2 – Boyhood: Da Infância à Juventude
1 – Garota Exemplar

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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