Que ator, em sã consciência, não gostaria de levar um Oscar para casa? As categorias relativas à interpretação estão no patamar das mais nobres da festa hollywoodiana da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. É inegável que contar com um Oscar no currículo coloca artistas em outras instâncias, inclusive financeiras, pois os cachês dos vitoriosos invariavelmente aumentam. Mas, fora a questão monetária, há também o orgulho de vencer uma láurea com esse considerável peso simbólico. Claro que nem todos utilizaram o Oscar como catapulta para uma carreira ilibada, recheada de papeis inquestionáveis a partir de então – alguém aí se lembrou de Nicolas Cage, Halle Berry ou Mira Sorvino?. Mas, em se tratando da disputa deste ano, dá para imaginar que, fora os já consagrados medalhões no páreo (Daniel Day-Lewis, Gary Oldman e Denzel Washington), apenas o fato de participar da briga já fará muita diferença ao futuro dos novatos (Timothée Chalamet,  e Daniel Kaluuya). Sem mais delongas, no fim das contas, que são os favoritos, os azarões, os esnobados e queridinhos na disputa? Tudo isso você confere, agora, no nosso especial sobre a categoria Melhor Ator.  

 

Indicados

 

FAVORITO: Gary Oldman, por O Destino de uma Nação
Não adianta. A estatueta de Melhor Ator já tem dono. Gary Oldman só não leva o carequinha dourado para casa se uma zebra do tamanho do Godzilla desfilar no palco da premiação. É a segunda indicação do artista ao Oscar nesta categoria – a primeira foi com O Espião Que Sabia Demais (2012). Indícios de uma vitória não faltam. Oldman ganhou disputas importantes, como o Globo de Ouro, o Critics Choice Awards, o Screen Actor Guild Awards e foi indicado ao BAFTA. Isso sem contar as diversas associações de críticos mundo afora que reconheceram a excelência do trabalho do britânico que encarna seu compatriota Winston Churchill em O Destino de Uma Nação. O filme remonta ao momento histórico em que o primeiro-ministro inglês precisou decidir entre apoiar o ou se opor ao Terceiro Reich que vinha crescendo na Europa. Torcedores dos outros concorrentes: aceitem que dói menos, pois Gary Oldman será o vencedor do Oscar 2018 de Melhor Ator, isso, claro, se tudo correr como o esperado.

 

COM CHANCES: Timothée Chalamet, por Me Chame Pelo Seu Nome
Embora apostar na vitória de Gary Oldman seja realmente uma barbada, não dá para excluir totalmente a possibilidade de alguém tomar o Oscar do britânico. E o norte-americano Timothée Chalamet é quem mais tem chance de eventualmente colocar água no chopp de Oldman. No quesito prêmios, Chalamet vai muito bem, obrigado. Foi apontado pelos votantes do National Board of Review como Revelação do Ano, foi eleito o Melhor Ator do ano pelos críticos de importantes praças, como as de Nova York, Chicago e Flórida, além de ser indicado ao Globo de Ouro e ao BAFTA. O jovem ator, que interpreta Elio em Me Chame Pelo Seu Nome, realmente surpreendeu com um dos trabalhos mais sensíveis e consistentes da temporada, adquirindo status de novo queridinho – ele é um dos destaques do elenco do novo filme de Woody Allen, A Rainy Day in New York. É bom lembrar que Timothée Chalamet é o mais jovem indicado na categoria Melhor Ator desde 1939, por si só, uma conquista e tanto, principalmente para alguém que até ontem era reconhecido globalmente apenas como o ex-namorado da filha da Madonna.

 

AZARÃO: Daniel Kaluuya, por Corra!
Se Emma Stone, na festa do dia 4 de março, disser “and the Oscar goes to… Daniel Kaluuya, podem crer, será uma surpresa daquelas. E o susto nada terá a ver com falta de merecimento. Quem conferiu Corra! sabe que o ator e roteirista britânico, que já havia despontado como um dos protagonistas da primeira temporada de Black Mirror, mereceria ser ovacionado pelos presentes e levar para casa essa honraria. Todavia, mesmo eleito o melhor do ano pelos críticos de Boston e Las Vegas, garantido o troféu da Sociedade Nacional dos Críticos dos EUA e indicado ao Screen Actors Guild Awards, ao Globo de Ouro e ao BAFTA, Kaluuya é uma aposta improvável, daquelas que pagam bem nas bolsas, aliás. Seria bonito ver novamente um ator negro ganhar o Oscar de Melhor Ator depois de mais de 10 anos – o último foi Forest Whitaker, por O Último Rei da Escócia, em 2007. Mas, infelizmente, é improvável que isso aconteça. Bom, independentemente das chances, Kaluuya já “ganhou”. Nós também.

 

NÃO LEVA NEM COM REZA BRABA: Denzel Washington, por Roman J. Israel, Esq
Nem com mandinga Denzel leva o seu terceiro Oscar para casa em 2018. Em 1990, ele ganhou a estatueta de Melhor Ator Coadjuvante por Tempo de Glória. Em 2002, foi a vez do prêmio de Melhor Ator por Dia de Treinamento. Portanto, o homem está sossegado, olhando para a concorrência com a sensação de “o que vier é lucro”. Até porque o longa-metragem pelo qual concorre, Roman J. Israel, Esq., não “aconteceu” na temporada, ao contrário dos protagonizados por seus concorrentes. Embora tenha sido indicado ao Globo de Ouro e ao Screen Actor Guild Awards, dois termômetros importantes, Denzel tem chances quase nulas de vencer no dia 4 de março. Na verdade, ele é tão bom no que faz, demonstrando, além de outros predicados, versatilidade e competência em semelhante medida, que poderia ser indicado ao Oscar anualmente, de maneira automática. Estar ao lado dele na disputa já é sinal de grandeza para jovens como Kaluuya e Chalamet, por exemplo.

 

TÁ PASSEANDO NA LISTA: Daniel Day-Lewis, por Trama Fantasma
Daniel Day-Lewis está entre os cinco indicados ao Oscar a passeio. Embora seu desempenho como o protagonista de Trama Fantasma o tenha levado a indicações, também, nos prestigiados Globo de Ouro, BAFTA e Critics Choice Award, vitória, mesmo, ele somente teve em premiações de associações de críticos, como as da Filadélfia, de Seatle, de Toronto e Vancouver. Tendo em consideração os chamados termômetros, é bastante difícil que Daniel Day-Lewis leve mais um Oscar para casa, naquele que, segundo o próprio, é seu último trabalho no cinema (esperamos, bastante, que esse seja apenas um desejo momentâneo). Ao todo, Day-Lewis possui seis indicações ao Oscar de Melhor Ator e impressionantes três vitórias – por Meu Pé Esquerdo, 1990; Sangue Negro, 2008; e Lincoln, 2013. É outro que dignifica a disputa com sua presença, elevando o nível da peleja. Daniel Day-Lewis vai poderá ser visto na festa, provavelmente se tornando o centro das atenções em dado momento, como convém às lendas-vivas, mas subir ao palco para pegar a quarta estatueta, já é sonhar demais. Quem sabe noutra hora. Para que isso aconteça, todavia, ele deve arquivar essa vontade de se aposentar.

 

ESNOBADO: James Franco, por Artista do Desastre
Quando a lista com os cinco indicados foi divulgada, deu para imaginar James Franco soltando em alto e bom som um: “mas que p*rra é essa? Isso porque poucos duvidavam que seu nome constaria lá. Era aposta certa. Franco ganhou o Globo de Ouro Melhor Ator Comédia/Musical, o Critics Choice de Melhor Ator em Comédia, levou para casa os troféus dos críticos de Detroit, Houston, “jantou” o Gothan Award, além de ser nominado ao Independ Spirit Award e ao Screen Actor Guild Awards. Ou seja, era quase “batata” que sua elogiada atuação em Artista do Desastre, filme que ele também dirige, lhe traria, ao menos, a consagração da indicação. Mas, Franco não contava com o retorno à tona das denúncias de assédio sexual que recaíram sobre ele no passado. Certamente a recordação pública desses episódios minou as chances do ator, excluindo-o da festa da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Do ponto de vista meramente artístico, é uma pena. Pois, a interpretação de Franco de Tommy Wiseau, excêntrico personagem que realizou o pior filme do mundo, merecia tal reconhecimento.

:: Confira aqui as nossas análises das demais categorias ::

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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