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Sinopse

Um veterano da elite do serviço secreto inglês é chamado depois da morte de seu ex-chefe e de alguns fracassos retumbantes em missões internacionais. A missão desse agente experiente é desvendar quem faz jogo duplo.

Crítica

No final de 2011, quando foi lançado nos cinemas, O Espião que Sabia Demais tinha todo jeito de favorito ao próximo Oscar, tanto na categoria de Melhor Filme quanto, principalmente, na de Melhor Ator, para o elogiado desempenho de Gary Oldman. Com o passar das semanas, no entanto, os comentários a respeito do trabalho do intérprete inglês foram diminuindo, e atualmente ele nem consta entre os prováveis indicados. Uma terrível injustiça, no entanto. E duplamente, tanto se pensarmos somente no seu desempenho neste filme, de fato irrepreensível, quanto em relação ao seu histórico. É triste nos darmos conta que o homem que já fez Drácula de Bram Stocker (1992), séries como Harry Potter e Batman, JFK (1991) e Sid & Nancy (1986), entre tantos outros, não possui uma única indicação ao prêmio máximo do cinema mundial! Chega a ser vergonhoso! O que ele apresenta aqui é digno não só da indicação, como também da vitória! E, pelo jeito, será mais uma vez esnobado, cabendo somente aos que acreditarem neste talento único conferir mais essa impressionante atuação.

Assim como qualquer outra produção digna do gênero, em O Espião que Sabia Demais nada é o que aparenta ser num primeiro instante. Afinal, estamos diante uma obra baseada num romance de John Le Carré, um dos mestres do suspense investigativo literário. Seus livros já inspiraram diversas adaptações cinematográficas, até para o brasileiro Fernando Meirelles (O Jardineiro Fiel, 2005). Como Le Carré, dessa vez, não serviu apenas como inspiração, mas agiu também como produtor do longa, é mais do que natural que a fidelidade ao texto original seja, ao mesmo tempo, impressionante e limitadora. Está tudo lá: mentiras, títulos, confusões, mistérios, segredos. Somos levados a uma realidade de espiões ingleses que vivem desconfiando da própria sombra e que, após uma operação fracassada, se veem diante uma acusação muito grave: há um agente de duas faces entre eles, que estaria agindo de acordo com os interesses dos soviéticos. Essa desconfiança coloca a todos sob vigilância, e o homem que irá conduzir sigilosamente essa investigação será o mais astuto e menos provável deles: Mr. Smiley (Oldman), recentemente dispensado, que é chamado de volta às pressas para essa nova missão, uma vez que seus quatro ex-colegas são os principais suspeitos.

Aos poucos vamos percebendo – até que fique bastante evidente numa cena de forte apelo visual – que estamos diante um intrincado jogo de xadrez. A referência imediata é ao título original: tinker (funileiro), tailor (alfaiate), soldier (soldado), spy (espião). São quatro homens, quatro personalidades, quatro personagens. Qual deles está assumindo a faceta mais perigosa? Os intérpretes escolhidos para defender cada um destes elementos são um ganho à parte: Toby Jones (Confidencial, 2006), Colin Firth (O Discurso do Rei, 2010), Ciarán Hinds (Munique, 2005) e David Dencik (Os Homens que não Amavam as Mulheres, 2009) estão perfeitos, arrogantes e temerários num mesmo ponto. Cada um possui seus motivos tanto para um lado quanto para o outro, e caberá ao espectador mais atento tirar suas próprias conclusões. Ao menos até nos depararmos com a verdade única, diante de nossos olhos desde o início e que mesmo assim nos recusávamos em acreditar.

Selecionado para o Festival de Veneza e premiado em algumas associações de críticos de cinema, O Espião que Sabia Demais tem potencial para se transformar em um daqueles filmes de culto, indicado para os mais aficionados fãs deste estilo. Entre os demais, no entanto, deverá assustar com sua profusão de reviravoltas e nomes em demasia. Mas com esmero técnico e um elenco em grande forma, marca a estreia do diretor sueco Tomas Alfredson no cinema inglês – após o ótimo Deixe Ela Entrar (2008) – num trabalho que deve repercutir ainda bastante. Infelizmente, em círculos menores do que o merecido.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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