Crítica


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Sinopse

Narra as lutas pessoais e políticas, avanços e retrocessos de uma família de homens e mulheres LGBT que ajudaram a fundar o movimento civil nos EUA, do turbulento início no século 20 até os dias atuais. Com sua luta, ajudaram a construir os direitos civis dos homossexuais, bissexuais e transgêneros através das décadas.

Crítica

As coisas começaram a ficar sérias no final do segundo episódio de When We Rise. Isso porque foi somente após quase 1h30min de história que os três protagonistas – Cleve Jones, Roma Guy e Ken Jones – finalmente se encontraram. Cada um com uma origem, uma vontade, uma luta. Estarão, enfim, unidos em nome de uma causa maior? Pois é justamente isso que os espectadores anseiam por descobrir no início deste novo capítulo. Mas, o que logo percebemos, é que ainda existem muitas arestas a serem ajustadas antes que formem um conjunto coeso – se é que um dia alcançarão esse status.

De início, encontramos Roma (Emily Skeggs) visitando sua família. Após uma cena durante o jantar, na qual se percebe a todo momento uma tensão de confrontamento entre ela e o pai, a vemos sozinha com a mãe. Essa afirma: “tudo o que sempre quis é que minhas filhas fossem felizes”, para logo em seguida completar: “você acha que algum dia poderá ser feliz, Roma, sendo do jeito que é?”. Este será o tom do episódio. Há muito pelo que lutar antes que seja possível desfrutar de um estado de plena e pura felicidade.

Diane (Fiona Douriff) foi o primeiro amor de Roma, mas desde que essa deixou a África, onde as duas atuavam juntas em um trabalho humanitário, ela acabou encontrando conforto nos braços de Jean (Caitlin Gerard). Porém Diane decidiu ir atrás da antiga namorada, que agora precisará decidir o que fazer – ou não? O modelo de relacionamento heterossexual passa a ser discutido por lésbicas – como Roma e suas duas amantes – e também por gays – como Cleve e seus dois melhores amigos, Marvin (Adam DiMarco) e Scott (Nick Eversman, de Livre, 2014), que decidem alugar um apartamento juntos, dividindo casa, comida e, quem sabe, amores.

Algo que chama atenção neste episódio é a impressionante montagem, que combina, em mais de um momento, cenas ficcionais com outras retiradas de documentários e reportagens da época, combinando fatos verídicos com alguns meramente dramatizados. É neste formato que a figura de Harvey Milk é introduzida. Aqui acompanhamos brevemente o que ele representou, a esperança por ele levantada e como sua presença inspirou a luta de tantos outros – e também represálias, sendo uma delas o ataque trágico que resultou na sua morte (ao lado do próprio prefeito de São Francisco). Este relato está melhor aprofundando no drama Milk: A Voz da Igualdade (2008), que rendeu o Oscar de Melhor Roteiro Original para Dustin Lance Black – não por menos, o criador de When We Rise.

A diretora Dee Rees (Bessie, 2015) também está preocupada com Ken Jones, aquele que enfrenta preconceito por ser gay, por ter sido militar e, também, pela cor de sua pele. Não é fácil ser negro em uma época como 1977, ainda mais compartilhando da realidade de outras minorias. Mas a voz dele começa a se levantar, revelando-se um líder nato. Sua ação – combinada com as de Cleve e Roma – se revelará fundamental para interromper a Proposta 6 (que impedia professores homossexuais – ou meramente apoiadores da causa – de seguirem exercendo suas profissões) e as visões retrógradas de nomes como John Briggs e Anita Bryant. Afinal, o sentimento de Ken não é mais singular, pois afeta também Richard (Sam Jaeger, de Sniper Americano, 2014), seu companheiro, um assistente social que leva um casamento de fachada com sua melhor amiga. As ruas estão fervendo, os protestos parecem ser a última solução, e estas vozes não serão mais caladas. Chegou o momento da virada, tanto para o bem, quanto para o mal.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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