Crítica


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Sinopse

Estamos no ano de 2058, numa nova e moderna Los Angeles. Dolores tem uma missão muito clara pela frente, enquanto que Charlotte assume o controle da empresa responsável pelos parques adultos, entre eles o de Westworld. Bernard, por sua vez, tem sua identidade revelada, e decide não mais adiar a viagem pela qual ele há tanto aguarda.

Crítica

Antífona é uma melodia curta, executada em canto gregoriano, antes e depois da recitação de um salmo. Um dos antífonos católicos romanos mais emblemáticos chama-se Parce Domine, e diz o seguinte: “parce, domine, parce populo tuo: ne in aeternum irascaris nobis”. Isso, em tradução direta do latim, significa: “poupai, senhor, poupai o seu povo: não fique com raiva de nós para sempre”. Pois Parce Domine é também o nome do capítulo de estreia da terceira temporada de Westworld, que chega finalmente ao público quase dois anos após o término da segunda leva de episódios. E o programa criado por Jonathan Nolan (co-roteirista de alguns dos maiores sucessos do irmão, o cineasta Christopher Nolan, como Batman: O Cavaleiro das Trevas, 2008, e Interestelar, 2014) e Lisa Joy (responsável por séries como Pushing Daisies, 2008-2009, e Burn Notice, 2009-2011) não perde tempo em partir direto para a ação, deixando qualquer um que não tenha acompanhado o seriado até esse momento – e mesmo muitos dos que viram as mais de vinte horas anteriores – completamente perdidos. Não há tempo para explicações e redundâncias. O mundo agora é outro. E o modo de agir, também. Essa notícia não poderia indicar um melhor começo.

Sem perder tempo com tanta filosofia barata e voltas (e reviravoltas) que muito barulho faziam, mas pouco avançavam com o contexto geral da trama, Westworld T03 começa no ano de 2058. Muito tempo se passou desde a revolução que eliminou praticamente toda a diretoria da empresa que comandava os parques temáticos ultrarrealistas. Mas alguns seguem vivos, ainda que não por muito tempo. Afinal, estão no caminho de Dolores (Evan Rachel Wood, dominando o episódio, seja pelo tempo em cena como pela desenvoltura que demonstra na nova condição), que após um prólogo sangrento, deixa claro os modos que tem empregado para ir se mantendo – e se virando – durante todo esse período. Aliás, sabe-se que cinco identidades artificiais sobreviveram ao caos reinante na temporada anterior. Além dela, é certo que Maeve (Thandie Newton), Charlotte (Tessa Thompson), Bernard (Jeffrey Wright) e o Homem de Preto (Ed Harris) seguem na ativa. No entanto apenas três (ou – alerta de spoiler! – quatro) dão as caras em Parce Domine.

É curioso como Nolan, ao assumir também a direção, deixa de lado tantos becos sem saída e passa a se preocupar com uma narrativa mais linear, como se estivesse assumido mais uma vez o prumo de sua história para contextualizá-la com maior precisão – e menor interferência – dentro dessa nova realidade. Assim, é quase como se o espectador fosse colocado diante de uma série inédita, de uma história que está começando apenas agora, por mais que os laços com os eventos anteriores comecem a se tornar evidentes à medida que os acontecimentos passem a se acumular. E entre Bernard tentando levar uma vida incógnito como açougueiro e Charlotte assumindo o controle da empresa como uma CEO interina – sem revelar a ninguém, no entanto, que é apenas mais uma duplicata – há de se ficar atento à grande novidade deste ano: Caleb, personagem de Aaron Paul. E o tempo que é dedicado a ele – mais do que Bernard ou Charlotte recebem, por exemplo – é um forte indício da importância que ele terá nos próximos capítulos.

Se Dolores tem uma missão a ser cumprida – mesmo tendo afirmado que “está cansada de ferir tanta gente”, não será por remorso que deixará de fazer o que acredita ser necessário – e tanto Bernard quanto Charlotte querem apenas manter seus disfarces, está em Caleb os traumas do passado e também a possibilidade de um futuro mais auspicioso, ainda mais pela ligação que irá estabelecer com um desses três acima citados. Mas há mais em jogo, e como foi dito, a objetividade é a ordem do dia: em uma intrigante cena pós-crédito, Maeve não apenas justifica sua ausência nessa estreia, como mostra ter uma linha de incidentes muito própria a ser desenrolada. Qual a ligação dela com os demais? Por onde andará o Homem de Preto? E o que o misterioso Serac (que é apenas citado, mas já se sabe que será o papel do francês Vincent Cassel) tem a ver com tudo que foi visto até o momento? Westworld é ótima em levantar perguntas – ainda que nem sempre saiba respondê-las à contento. E com apenas oito segmentos dessa vez – dois a menos que nas temporadas anteriores – é de se esperar que as coisas mantenham esse ritmo e sejam, enfim, mais diretas e menos enroladas. A audiência agradece.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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