Crítica


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Sinopse

Bernard e Ashley se infiltram num evento de caridade. Dolores e Caleb têm seus próprios planos. Enquanto isso, Maeve fica diante de um velho conhecido.

Crítica

Com dois episódios a menos (apenas 8, ao contrário de 10 dos anos anteriores), Westworld ainda desperdiçou os três capítulos inaugurais dessa terceira temporada apenas com uma ‘apresentação de personagens’, por assim dizer. É certo que o segundo tomo encerrou de modo catártico, e que nada mais seria como antes após tais eventos. No entanto, teria sido realmente necessário apenas explicar como as peças remanescentes iriam se posicionar nesse novo tabuleiro, ao invés de já oferecer indicativos das consequências dessas dinâmicas até então inéditas? Bom, essas percepções finalmente tomaram o centro da ação em The Mother of Exiles, o quarto segmento. E ainda que seja cedo para pareceres definitivos, é mais do que claro a falta de rumo dos realizadores, indecisos entre um pseudo aprofundamento psicológico, tão característico na narrativa (principalmente no segundo ano), ou um investimento mais pesado na ação e no avanço dos acontecimentos. Ou seja, é quase como um recomeçar, porém sem a coragem suficiente para deixar para trás o peso que tanto atrapalha.

Dolores (Evan Rachel Wood) e Maeve (Thandie Newton) se consolidaram como as duas forças remanescentes dos escombros do parque de diversão ultrarrealista Westworld. A primeira pode estar com mais aliados – como Charlotte (Tessa Thompson), sua agente infiltrada, ou o recém-chegado Caleb (Aaron Paul). A segunda, no entanto, tem como suporte os interesses de multimilionário Serac (Vincent Cassel), que aposta nela para conseguir ir adiante com seus planos de domínio global – além, é claro, de por um fim na ameaça representada pela outra. Ou seja, ele imagina que, contra fogo, apenas mais fogo poderá ser eficaz. Mas esquece que se trata de uma guerra de robôs contra humanos – e que apenas um lado está se preparando para o que irá acontecer, enquanto que o outro, ainda ignorante do avanço da situação, permanece acreditando estar no controle absoluto. Serac tem dinheiro, e está longe de ser um homem obtuso. Além do mais, é também paciente – há décadas vem preparando seu grande golpe. Mas colocar todas as suas fichas numa única casa nunca foi a jogada mais segura.

Paul Cameron (vencedor do Bafta pela fotografia de Colateral, 2004) estreia na direção alternando esses dois lados da moeda, mostrando que o roteiro de Jordan Goldberg (produtor de A Origem, 2010) e Lisa Joy (uma das criadoras da série) está se esforçando para fazer com que o programa volte aos eixos. Um dos maiores movimentos nesse sentido é a volta do Homem de Preto (Ed Harris, elevando o nível de atuação do conjunto). Esse, ludibriado pelo próprio ego na temporada anterior, se encontra em um caos pessoal ainda mais grave, como resultado dos seus atos. Talvez por isso, não perceberá o ataque que vem em sua direção – e justamente pela mão daquela que deveria ser de sua total confiança. Por outro lado, se Wood e Paul reforçam suas carências dramáticas preferindo colocar seus músculos em ação, Newton e Thompson comprovam estar um passo adiante em relação aos demais no que diz respeito à verossimilhança de suas performances.

Que mundo é esse, onde Paris não mais existe, Cingapura se tornou a nova capital do planeta e homens e mulheres não mais conseguem se diferenciar da tecnologia que eles próprio criaram? Mais do que nunca, a urgência desse questionamento permeia os eventos de Westworld, mostrando que a ‘mãe de todos os exílios’ é quando se pensa estar livre, mas mais encarcerado do que nunca é a sua real condição. E entre tanto tiroteio desgovernado, Bernard (Jeffrey Wright), dá cada vez mais sinais de ser o elo perdido entre um extremo e outro. Resta torcer para que ele consiga, no meio desse fogo cruzado, fazer o que nenhum extremista está conseguindo: vislumbrar a situação com clareza. E que seja na ficção, mas também reflita no lado de cá da telinha.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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