29 abr

Universal Studios sofre boicote da maior rede de cinemas do mundo após lançar Trolls 2 em formato on demand

A indústria norte-americana sabia que a decisão dos estúdios Universal em lançar Trolls 2 (2020) diretamente em formatos digitais complicaria a relação entre os produtores e distribuidores de filmes, mas talvez não imaginasse que a resposta viria tão cedo. Logo após Jeff Shell, CEO da NBCUniversal, comentar o sucesso da empreitada e afirmar que pretende lançar seus próximos projetos tanto na sala de cinema quanto em versão on demand, a AMC, maior rede de cinemas do mundo, decidiu boicotar todas as produções da major.

A rede lançou um comunicado oficial no qual explica o descontentamento: “No Wall Street Journal de hoje, Jeff Shell afirma: ‘Os resultados de Trolls 2 superaram a nossa expectativa e demonstraram a viabilidade do PVoD. Assim que os cinemas abrirem de novo, pretendemos lançar filmes nestes dois formatos’. A mudança radical da Universal no que diz respeito aos termos de negócios que existem atualmente entre nossas duas empresas representa uma afronta para nós e é totalmente inaceitável pela AMC Entertainment, a maior rede de salas de cinema do mundo”.

“Por este motivo, AMC não distribuirá nenhum filme da Universal em nossas mais de mil salas de cinema pelo mundo inteiro enquanto estes termos se mantiverem. Queremos ser absolutamente claros, para não haver qualquer tipo de ambiguidade. A AMC acredita que a proposta de lançar filmes em casa e nos cinemas simultaneamente rompe o modelo de negócios e os contratos entre nossas duas empresas. Isso pressupõe que vamos simplesmente aceitar a mudança na interação entre estúdios e exibidores, sem preocupação com a maneira como as ações da Universal vão nos afetar. […] É decepcionante para nós, mas os comentários de Jeff sobre as ações unilaterais da Universal não nos deixaram outra escolha”.

 

Trolls 2

 

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O boicote possui efeito imediato, e vai afetar o lançamento de filmes como o próximo Velozes & Furiosos (2020). Focado nos Estados Unidos, Europa e Oriente Médio, o rompimento de relações com a AMC não deve afetar imediatamente o circuito exibidor brasileiro, onde as produções da Universal têm conquistado sucesso excepcional, sobretudo com as sagas Velozes & Furiosos, Minions, Meu Malvado Favorito e Cinquenta Tons de Cinza.

O caso de Trolls 2 colocou em prática um formato que os produtores cogitavam há anos: o PVoD, ou seja, Premium Video on Demand. O modelo consiste no lançamento de filmes muito esperados diretamente em casa durante pouco tempo – no caso de Trolls 2, 48h -, com um valor superior ao ingresso dos cinemas, para então retomar a distribuição tradicional em salas. A intenção seria dialogar diretamente com os fãs mais ávidos, dispostos a desembolsar o valor mais alto para assistir à produção antes dos espectadores nos cinemas. Obviamente, isso reduziria a frequentação das salas, visto que parte significativa do público já teria assistido à produção.

O PVoD representaria um golpe ainda maior às salas de cinema, profundamente afetadas pela pandemia de Covid-19, enquanto os serviços de streaming têm aproveitado o isolamento social para aumentar significativamente seu número de assinantes. De acordo com Jeff Shell, Trolls 2 faturou mais de US$100 milhões no lançamento em PVoD, sendo que o primeiro filme acumulou US$154 milhões em toda a sua carreira nos cinemas.

Você pagaria mais caro para assistir ao filme em casa, ou nada substitui a experiência da sala de cinema e da tela grande?

Bruno Carmelo

Crítico de cinema desde 2004, membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema). Mestre em teoria de cinema pela Universidade Sorbonne Nouvelle - Paris III. Passagem por veículos como AdoroCinema, Le Monde Diplomatique Brasil e Rua - Revista Universitária do Audiovisual. Professor de cursos sobre o audiovisual e autor de artigos sobre o cinema. Editor do Papo de Cinema.

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