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Sinopse

Os pequeninos descobrem que há outros mundos Troll além do deles. As diferenças criam enormes barreiras entre as duas tribos. Quando uma força misteriosa coloca todos em perigo, será preciso harmonia para derrubar o mal maior.

Crítica

Deixando de lado os monstruosos Bergen ou qualquer referência ao canibalismo (elementos que marcaram o primeiro Trolls, 2016), essa continuação se mostra mais perspicaz do que se poderia imaginar num primeiro momento. Afinal, é fato conhecido que se trata de um filme cujo principal objetivo é incrementar a venda de brinquedos – se muitos longas geram bonecos inspirados nos personagens, aqui se deu o contrário, pois foi a obra que surgiu a partir dos colecionáveis. Com isso em mente, o diretor Walt Dohrn – em seu primeiro projeto solo, após ter co-dirigido o anterior – se ocupa em apenas fazer o básico, sem buscar fórmulas rebuscadas nem se desgastar atrás de tentativas de redescobrir a roda. Se o que deu certo antes foram as músicas e o visual hiper-colorido, Trolls 2 é nada mais do que isso: uma explosão de cores embalada por um videoclipe de 90 minutos, entrecortado por um momento ou outro de rápidos diálogos que servem apenas para ligar uma sequência à outra. E o mais engraçado de tudo isso? A mistura não chega a ser indigesta – ainda que longe de espetacular.

Poppy é a nova rainha e tudo o que os trolls querem no dia-a-dia é de cantar, dançar e dar muitos abraços. Bom, quase todos, pois Tronco não é tão cigarra assim, e seu lado formiga insiste em colocar em debate questões como provisões, planejamentos e relações pessoais. Como o sentimento que percebe crescer dentro de si em relação a melhor amiga – que, para ele, já é mais do que isso. Mas a garota parece não perceber essa mudança do parte do colega de aventuras, e segue na busca por mais motivos de diversão. Algo que não escapa do olhar – e, principalmente, do ouvido – mais atento, é que as canções que embalaram a trilha-sonora do outro longa – como The Sound of Silence, I’m Coming Out, True Colors e a indicada ao Oscar Can’t Stop the Feeling – são todas músicas pop. O primeiro passo, portanto, dá conta da expansão dessa universo, abraçando outros gênero musicais.

O embate entre essas diferenças poderia ser riquíssimo, mas os roteiristas Jonathan Aibel e Glenn Berger (responsáveis também pela saga Kung Fu Panda) optam por seguir um caminho mais óbvio – e não menos ruidoso (no pior sentido). Isso porque se deixam levar por estereótipos desgastados, fora de sintonia com uma mensagem que teria tudo para ser melhor explorada. Na necessidade de um vilão, opta-se pelos roqueiros. Há aqueles preconceituosos? Esses são os sertanejos. Os requintados só tocam música clássica, e assim por diante. Ao invés de integrar, portanto, a divisão acaba se dando de forma ainda mais consolidada. Porém, se parece ser a vez da tempestade, como bem se sabe, depois dessa é a bonança que surge. Se a rainha dos roqueiros quer reunir todos os demais sob seu comando – para tanto, precisa reunir as “cordas” identificadas com cada um, uma ideia vai direto de encontro com as Joias do Infinito do Universo Cinematográfico Marvel – logo se descobre que ela não foi a primeira a pensar nessa possibilidade. Ou seja, o absolutismo pode estar muito mais perto do que imaginavam.

É nesse ponto que Trolls 2 ganha força, ao mostrar que mesmo os maiores defensores da justiça e igualdade também podem se ver obrigados a lidar com os esqueletos do próprio armário. É aquele velho ditado: antes de apontar os dedos para os outros, é bom prestar atenção em tudo aquilo que diz respeito a você mesmo. Enquanto Tronco fica reduzido ao papel do Grilo Falante, servindo apenas de alerta para Poppy, ao mesmo tempo em que precisa descobrir o que fazer com a nova afeição que vai descobrindo em si, é nela que o processo de transformação se dará com maior força. A rainha que acha que tudo são flores, aos poucos irá perceber os espinhos que fazem parte. Nesse sentido, é importante também estar atento ao desenvolvimento da trilha sonora, eficaz em combinar momentos de pura descontração com outros mais reflexivos e poéticos, sem deixar de lado a possível identificação com cada um dos gêneros pelos quais os personagens vão transitando.

Se por um lado há avanços significativos em cena – é particularmente interessante a abordagem que o filme oferece a respeito das novas formações familiares, desde o destaque dado à necessidade de pertencimento (como visto naquele que parte em busca das suas origens) como também na situação do pai solteiro, ele por si mesmo encarregado de dar à luz e criar seu novo filho, reluzente como diamante. E quando esse espectro se amplia ao ponto de se visualizar a grande nação troll como uma única e diversa família, os entendimentos a partir desse cenário podem não ser inéditos, mas também não deixam de ser estimulantes. E é por isso, combinado a um visual e um ritmo contagiante, que Trolls 2 acaba encontrando seu lugar, longe de ser original ou inovador, mas ainda assim digno do espaço que ocupa.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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