O 70º Festival Internacional de Cinema de Berlim trouxe o melhor dia da mostra competitiva até o momento nesta terça-feira, com a exibição de três filmes inéditos. Dois deles, em especial, elevam o nível da busca pelo Urso de Ouro e se tornam fortes candidatos a prêmios: o norte-americano Never Rarely Sometimes Always (2020) e o sul-coreano The Woman Who Ran (2020). Além disso, o italiano Favolacce (2020) despertou controvérsias.

 

 

The Woman Who Ran constitui a nova comédia dramática do diretor sul-coreano Hong Sang-soo. Ele mantém os tradicionais planos fixos e diálogos cotidianos na história de uma jovem mulher (Kim Min-hee) que encontra três amigas por Seul, enquanto discute seu casamento e seus planos profissionais.

O cineasta apresenta um filme de excelente controle estético, tratando de ressignificar cada cena após vários minutos de conversa – quando descobrimos, por exemplo, que uma briga estava sendo secretamente observada por outra personagem. Com generosa dose de humor e uso interessante dos zooms, representa um dos melhores títulos da competição até agora. Leia a nossa crítica.

 

 

No entanto, talvez a maior surpresa tenha vindo de Never Rarely Sometimes Always. Dirigido por Eliza Hittman, uma cineasta ainda pouco conhecida no circuito de festivais, e contando com atrizes inexperientes, o drama acompanha a trajetória de uma adolescente que descobre uma gravidez indesejada e busca auxílio numa clínica de aborto.

O filme foge aos principais clichês do gênero – a personagem não se torna uma pobre vítima, nem uma guerreira – enquanto segue passo a passo desta jornada, desde as esperas na recepção da clínica até a busca de dinheiro para dormir num hotel fora da cidade. Contando com uma atriz excelente e um trabalho estético exemplar, ele seria uma bela escolha para os Ursos de Ouro ou Prata – a não ser que o prêmio recente em Sundance desencoraje o júri a entregar algum troféu no festival alemão. Leia a nossa crítica.

 

 

Enquanto isso, Favolacce trouxe o segundo representante italiano da competição oficial após Volevo Nascondermi (2020). Curiosamente, ambos são estrelados por Elio Germani, que desta vez compõe um dos pais violentos e abusivos que maltratam as crianças de um vilarejo, até conduzir a uma tragédia.

O projeto foi adorado por alguns críticos e detestados por outros ao fazer uma mistura de crônica sombria com comédia mordaz explorando o abuso sexual de menores, o suicídio e a alienação parental. Os diretores Damiano d’Innocenzo e Fabio d’Innocenzo nunca sabem ao certo se pretendem rir destas histórias ou levar a tragédia a sério, o que conduz a um impasse ético perigoso. Leia a nossa crítica.

 

Três novos títulos da mostra competitiva serão apresentados na quarta-feira, dia 26: a nova versão do épico alemão Berlin Alexanderplatz (2020), com mais de três horas de duração, o drama britânico-americano The Roads Not Taken (2020), estrelado por Javier Bardem e Elle Fanning, e o drama russo DAU. Natasha (2020).

 

:: Confira nosso especial com a cobertura completa da Berlinale 2020 :: 

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Crítico de cinema desde 2004, membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema). Mestre em teoria de cinema pela Universidade Sorbonne Nouvelle - Paris III. Passagem por veículos como AdoroCinema, Le Monde Diplomatique Brasil e Rua - Revista Universitária do Audiovisual. Professor de cursos sobre o audiovisual e autor de artigos sobre o cinema. Editor do Papo de Cinema.
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