A segunda noite da mostra competitiva na 6ª Mostra de Cinema de Gostoso ampliou a quantidade de filmes exibidos: foram três curtas-metragens e dois longas-metragens projetados na Praia de Maceió.

O curta-metragem Labirinteiras (2019), de Renata Alves, dá continuidade às exibições do coletivo Nós do Audiovisual. O projeto resgata a tradição das artistas locais com “labirintos” em renda. Estas mulheres idosas demonstram tanta paixão por esta arte quanto preocupação com o possível desaparecimento da mesma. Apesar da empatia com as costureiras, o filme se revela frágil pelo aspecto puramente descritivo da narrativa.

Dentro da mostra competitiva, Plano Controle (2018) foi certamente o filme mais aplaudido até agora. O curta-metragem dirigido por Juliana Antunes mistura a premissa fantástica da viagem pelo espaço-tempo com a política brasileira e os instantes icônicos da cultura televisiva brasileira, atingindo um resultado hilário e questionador. Ele desponta como forte candidato ao prêmio do público. Leia a nossa crítica.

Plano Controle

O segundo curta-metragem em competição da noite, A Parteira (2018), apresentou a figura popular de Donana, parteira e pescadora da região, que trabalha há décadas com esta atividade enquanto apresenta uma mentalidade mais progressista que a maioria da população local. Apesar de não ousar muito em termos estéticos, e romantizar um pouco sua personagem rumo ao final, a diretora Catarina Doolan efetua um retrato bastante respeitoso desta mulher.

Junto de Labirinteiras e Júlia Porrada (2019)A Parteira compõe uma bela trinca destinada a valorizar a cultura tradicional do Rio Grande do Norte, especialmente em torno de figuras femininas de idade avançada, o que tem se tornado um tema central da curadoria da 6ª Mostra de Cinema de Gostoso.

O segundo longa-metragem em competição por prêmios, após Pacarrete (2019), foi Casa (2019), documentário dirigido por Letícia Simões. A cineasta se coloca em cena ao relatar o relacionamento com a mãe bipolar e a avó, de passado violento. Os encontros entre as três mulheres fornecem instantes muito potentes enquanto cinema, embora despertem questionamentos quanto à ética da representação imagética de si e de pessoas próximas.

Casa

Simões apresenta, em especial, uma longa cena filmada em plano único, na qual a briga entre as três mulheres parece provocada ou intensificada para a câmera, ou seja, para efeito fílmico. Por mais forte que seja o momento, ela incomoda por expor as fragilidades destas mulheres que não podem controlar suas próprias imagens no mesmo nível que a diretora faz consigo própria. Em outras palavras, o projeto não parece feito com estas mulheres, e sim sobre elas, transparecendo afeto e julgamento moral em mesma medida. Em conjunção com algumas narrações de si mesma em terceira pessoa, e curiosas imagens poéticas de fotografias familiares mergulhadas na água, o resultado chama mais atenção por sua ética do que por sua estética.

Após Casa, a sessão mais cheia da noite veio com Bacurau (2019), premiado longa-metragem dirigido por Juliano Dornelles e Kleber Mendonça Filho. Em presença de Dornelles e da atriz Karine Teles, o filme foi apresentado a um cinema completamente lotado, apesar do horário avançado. Mesmo fora de competição, a ampla repercussão cultural nos últimos meses em torno de Bacurau tornaram o faroeste/ficção científica brasileiro um dos títulos mais buscados na sexta edição da Mostra.

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Crítico de cinema desde 2004, membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema). Mestre em teoria de cinema pela Universidade Sorbonne Nouvelle - Paris III. Passagem por veículos como AdoroCinema, Le Monde Diplomatique Brasil e Rua - Revista Universitária do Audiovisual. Professor de cursos sobre o audiovisual e autor de artigos sobre o cinema. Editor do Papo de Cinema.
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