Crítica


4

Leitores


1 voto 8

Onde Assistir

Sinopse

De férias numa casa de veraneio à beira do lago, uma família é surpreendida pela visita de dois jovens que revelam gradativamente tendências sádicas. Os visitantes indesejados impõem jogos de perversão, violência e humilhações.

Crítica

Algumas refilmagens até são compreensíveis. Boas ideias podem ser desperdiçadas numa primeira investida, e um outro olhar pode resultar em algo completamente diferente. Mas se é pra refazer, por que não buscar algo novo? Esta é a grande indagação por trás do remake de Violência Gratuita (1997), que chega ao Brasil diretamente em DVD. Fracasso de público e de crítica nos Estados Unidos, esta versão americana refilmou quadro a quadro o original, além de contar com o mesmo diretor por trás das duas versões: o alemão Michael Haneke. O espaço de uma década entre os dois trabalhos não trouxe nenhuma melhora ao texto original – também de autoria dele.

É curioso pensar como a mesma mão e o mesmo olhar pode transformar um único argumento, seguindo idênticas intenções, em dois filmes tão opostos. E o mais desagradável é que nenhum dos dois chega a ser realmente bom. Se o primeiro tinha algum valor pelo pioneirismo da crítica que fazia ao excesso de violência e ao voyerismo do espectador, agora tudo o que resta é uma ode ao masoquismo, um exercício fútil e vazio de sofrimento alheio. Nem um pouco interessante e pertinente, tudo o que poderia levantar em termos de discussão se perdeu nos últimos anos, quando o próprio Haneke já levou às telas outros longas mais relevantes, como A Professora de Piano (2001) e Caché (2005), ambos europeus e que, sob certo aspecto, abordavam temas semelhantes. Agora, estreando na América, ele parece ter sido seduzido pelo sadismo do exagero e brincado com algo que ele mesmo costumava encarar de forma mais séria. O problema é que a graça, se é que esta havia, já se perdeu há muito.

Naomi Watts e Tim Roth são atores acostumados tanto com grandes produções (ela em King Kong, 2005, ele em O Incrível Hulk, 2008) quanto com projetos independentes (ela em Cidade dos Sonhos, 2001, ele em Cães de Aluguel1992). Ambos já foram indicados ao Oscar (ela por 21 Gramas, 2003, ele por Rob Roy1995), e possuem talentos superlativos. Pareciam, então, serem opções naturais para os protagonistas de Violência Gratuita. Só que ambos aparentam estar tão perdidos quanto os próprios personagens – talvez tenha sido esta a intenção. Os dois aparecem como um casal que, junto com o filho pequeno, decidem passar o final de semana na casa do lago. Assim que chegam, recebem a visita inesperada de dois jovens que afirmar serem hóspedes da casa vizinha. Só que logo essa mentira cai, e a verdade se revela: os estranhos são sequestradores com um único objetivo – torturá-los até o desfecho mais trágico possível.

As indagações são muitas, porém as respostas são escassas. Por que fazem isso? Serão doentes mentais, revoltados por natureza, serial killers? Há os que dizem se trata de um casal homossexual em busca de justiça contra a sociedade que os oprime e discrimina. E por que a obsessão pelo branco e pela limpeza? As opções são muitas, mas a única certeza que se pode ter é que representam um protesto já quase sem sentido do realizador, que tenta proferir contra as injustiças sociais e econômicas fazendo uso de um exemplo que não consegue se conectar com a audiência. E quando não há comunicação o discurso se perde.

Brady Corbet (da série 24 Horas) e, principalmente, Michael Pitt (Os Sonhadores2003) estão realmente perturbadores em suas composições como os sádicos assassinos. Watts, mesmo que em poucos momentos, consegue se destacar, com destaque para as cenas de maior desespero. Mas o filme todo carece de um direcionamento forte e de um embasamento sustentável. Afinal, metalinguagem não é algo realmente novo, e abusar de um controle remoto para reescrever o desenrolar da trama de acordo com os desejos de um dos personagens também não é das soluções mais originais – além de ser profundamente irritante. O novo Violência Gratuita, assim como a versão de Gus van Sant para o clássico Psicose (1960), de Hitchcock, se perde na ousadia e na arrogância de um cineasta que já falou alto, mas que agora parece se divertir com pouco.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
avatar

Últimos artigos deRobledo Milani (Ver Tudo)

Grade crítica

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *