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Sinopse

George e Anne formam um feliz casal parisiense de classe média. No entanto, começam a chegar à sua casa vídeos sem remetente que sugerem uma perseguição à família. O homem desconfia que pode ser seu passado retornando para cobrar velhas dívidas.

Crítica

O diretor austríaco Michael Haneke adora uma boa polêmica. Uma rápida olhada no currículo dele oferece uma evidente percepção desta “tendência”, que gerou resultados irregulares, como o perturbador Violência Gratuita (1997, e refilmado 10 anos depois nos Estados Unidos) e o provocador A Professora de Piano (2001). Em Caché o tom é novamente intrigante, porém irregular: apesar de começar de forma envolvente, a trama se desenvolve com intensidade morna, resgatada em certos – e isolados – momentos com exagero e desequilíbrio, apenas para gerar uma conclusão que mais indaga do que responde.

Um casal de intelectuais franceses – ele apresentador de um programa televisivo sobre literatura, ela editora literária – começam a receber pelo correio vídeos com imagens estáticas da frente da casa deles. Enquanto tentam descobrir quem os está vigiando, segredos do passado são revirados, pecados até então esquecidos vêm tona e outras tragédias anunciadas se confirmam. O problema não é o tema, quem os defende em cena ou a reflexão que intencionalmente provocam, mas sim a forma como se apresentam. E muito da culpa disso reside na mão do realizador, mais preocupado em jogar elementos no ar do que em oferecer argumentos. Ele questiona muito, mas não quer saber de respostas: cada espectador que forme a sua própria, portanto.

Daniel Auteuil e Juliette Binoche são os protagonistas. Ele entrega mais uma performance intensa e carregada de emoção, enquanto que ela parece estar em ponto-morto, um tanto apática demais diante das revelações que sua personagem enfrenta. Um desempenho aquém das qualidades que a atriz certamente possui e que já demonstrou em outras ocasiões. Entretanto, quando juntos, ambos funcionam melhor, com uma boa química. Por este trabalho ele ganhou o EuropeanFilmAwards de Melhor Ator. Nesta mesma ocasião, Caché foi escolhido como Melhor Filme, Direção, Montagem e Prêmio Especial do Júri. O longa ganhou também dois prêmios especiais do júri oficial no Festival de Cannes, além da Palma de Prata de Melhor Diretor. Foi eleito, ainda, o Melhor Filme Estrangeiro segundo os críticos de cinema de Chicago, de Los Angeles e de São Francisco, nos Estados Unidos.

Caché – “escondido”, em francês – apesar de ter sido filmado há alguns anos, segue sendo bastante atual agora. Abordando questões como a tolerância racial e a situação dos imigrantes ilegais na Europa, o filme se revela profético, principalmente diante das soluções que apresenta. Ao discutir um assunto como este justifica sua realização, mas ao mesmo tempo se confirma com uma obra que merece uma análise mais profunda, e nunca uma entrega imediata. O final em aberto incomoda, e talvez prejudique uma avaliação mais elaborada daqueles desavisados. Mesmo assim, é válido por buscar uma noção menos maniqueísta de mundo, o que contribui para elevar os méritos aqui reservados para aqueles que conseguirem vencer uma barreira inicial de decepção. Não serão todos os dispostos a percorrer este caminho, percurso que somente aquele por trás poderia oferecer melhor orientação. Mas quem disse que Haneke quer facilitar alguma coisa?

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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