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Sinopse

Buscando meios para recomeçar sua vida, Marion Crane rouba a empresa onde trabalha. Durante a fuga, uma tempestade a obriga a pernoitar num sinistro motel de beira de estrada administrado pelo estranho Norman Bates.

Crítica

Matar a protagonista nos quarenta primeiros minutos de um filme era algo inimaginável em 1960. No entanto, Alfred Hitchcock teimou com os estúdios da época, arcou os custos da produção do próprio bolso (pouco mais de 800 mil dólares), usou a equipe de filmagens de sua série televisiva The Alfred Hitchcock Presents e, ao final, teve o maior sucesso de sua carreira, com mais de 40 milhões de dólares arrecadados. Muito mais do que isso, Psicose é um clássico fundamental para qualquer um que se diz cinéfilo e serviu de inspiração para muitos outros cineastas mesmo 50 anos depois. Um roteiro inteligente aliado a intérpretes dirigidos de forma espetacular e, é claro, com uma montagem primorosa, especialmente a sempre citada cena do chuveiro.

A história chega a ser simples. Marion Crane (Janet Leigh) rouba 40 mil dólares do banco onde trabalha para poder viver com Sam (John Gavin), de quem é amante. Ela pega seu carro e dirige por um dia inteiro pela estrada até parar no Hotel Bates, de propriedade de Norman Bates (Anthony Perkins). Ela é assassinada no chuveiro pela mãe do dono do local (aparentemente) e seu sumiço leva sua irmã Lila (Vera Miles) e seu namorado a investigarem o que aconteceu. Mesmo que boa parte da audiência já deva saber o desfecho da história, é bom não revelar a grande revelação final para quem (ainda) não assistiu.

Hitchcock entrega uma grande trama de suspense desde o início. O caminho de Marion entre o banco e o motel é uma aula de direção claustrofóbica (no bom sentido). A personagem está consumida pela culpa desde o momento em que rouba o dinheiro, o que não a impede de seguir viagem. Porém, a todo momento ela é atordoada em sua mente com as consequências de seu ato criminoso, imaginando o que seu chefe, sua irmã e até seu próprio namorado falariam caso descobrissem o que ela fez. O pânico aumenta ainda mais quando ela é interceptada por um desconfiado policial que a interroga na estrada e também após, em um grande embate entre o desejo e a culpa.

A caracterização de Janet Leigh também deve ter um olhar mais atento. Se no primeiro momento que a vemos em trajes íntimos sua vestimenta é branca, como se retratasse uma certa pureza de sua personagem, após o roubo, ela veste tons escuros, o que indica sua opção pelo “mau caminho”, assim digamos. Sua redenção se dá no motel, quando se despe totalmente, rasga um bilhete comprometedor e o joga no vaso, como se livrasse de sua culpa. Nua, no chuveiro (momento fatídico), com a ducha jorrando água em seu rosto, é o momento de total liberdade. Uma liberdade, porém, que vai além da morte, explicitada pelo horror dos mais de 70 frames na montagem das facadas que dão fim à vida de Marion.

E aí há mais uma jogada genial de Hitchcock: a troca de protagonismo de Marion para Norman, o que Anthony Perkins carrega com muito louvor, apesar de ter ficado eclipsado por esta atuação e nunca mais ter conseguido outro papel relevante que não mostrasse alguém instável emocionalmente. Seu complexo de Édipo é um dos mais bem trabalhados da história do cinema, tornando o seu papel uma das personas mais inseguras e perigosas já vistas nas telas.

Detalhe que nas premiações da época Janet Leigh foi indicada como Melhor Atriz Coadjuvante. O que até é compreensível pelo tempo que ela tem em tela. Hitchcock foi indicado (merecidamente) à Melhor Direção no Oscar, mas não levou o prêmio para casa. Aliás, nunca ganhou. Só um Oscar honorário no fim de sua carreira. Outro detalhe interessante da produção é que o cineasta não queria utilizar trilha alguma na cena do chuveiro. Porém, a intensa e monstruosa composição que Bernard Hermann lhe ofereceu acabou se tornando uma das mais famosas e copiadas até hoje.

Se hoje Psicose é um dos thrillers mais queridos de todos os tempos, o mérito se deve principalmente à genialidade de seu realizador. Análises não faltam sobre a obra, seja em artigos, livros, documentários ou o que quer mais que seja. Porém, melhor do que falar sobre esta pérola de Hitchcock, é assisti-la várias e várias vezes. Além, é claro, de tomar cuidado ao entrar no chuveiro.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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