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Sinopse

Os Croods estão querendo um novo lar. Durante a jornada de busca, se deparam com uma família moderna que vive em meio a inovações tecnológicas e muito mais segurança.

Crítica

É curioso que essa sequência tardia – e inesperada (afinal, alguém pediu por mais?) – de Os Croods (2013) tenha ganho um subtítulo no batismo (cuja tradução é literal, ou seja, não se trata de um invencionismo brasileiro) que deveria indicar algo de inédito a ser apresentado. No entanto, Os Croods 2: Uma Nova Era é tão calcado, seja em sua estrutura ou mesmo na narrativa, em outros sucessos do gênero, que a impressão é de se estar diante de uma grande reciclagem, como se a única coisa realmente a faltar em cena fosse originalidade. Afinal, trata-se de uma família de cinco pessoas (pai, mãe, filha maior, filho de meio e bebê selvagem, exatamente como em Os Incríveis, 2004) que precisa lidar com recém-chegados em um mundo à beira de um cataclismo pré-histórico (como na saga A Era do Gelo). Sem falar da repetição dos próprios temas: se antes o pai sentia ciúmes da filha, que estava descobrindo o amor, o mesmo acontece por aqui, agora pela proximidade do jovem casal em abandonar as asas paternas para se tornarem independentes. Não chega a nem ser mais do mesmo: é só o que já foi visto, com pouco a se acrescentar.

O longa do novato Joel Crawford – que até então havia participado das equipes de filmes como Kung Fu Panda (2008) e Uma Aventura Lego 2 (2019) – se desenvolve durante três atos bem estabelecidos. No primeiro, o conflito se estabelece de maneira óbvia: Guy (voz de Ryan Reynolds) tem certeza do amor por Eep (Emma Stone), e está decidido a partir em uma vida a dois, o que desperta insegurança no pai da garota, Grug (Nicolas Cage). Os jovens se gostam, o homem mais velho está com medo de perder a filha, mas sabe que é o processo natural, e até sua esposa, Ugga (Catherine Keener), o aconselha a respeito. Mas eis que começa o segundo segmento, quando os andarilhos – eles perderam o abrigo onde se escondiam, e estão em busca de um lugar paradisíaco, chamado de “Amanhã” pelos falecidos pais de Guy – enfim encontram o destino pelo qual tanto ansiavam. E lá se deparam também com ideias diferentes das quais estavam acostumados.

Essas chegam por intermédio dos Betterman (Melhores, em bom português). Phil (Peter Dinklage) e Hope (Leslie Mann) construíram um lugar seguro e muito belo, mas, acima de tudo, domesticado: há comida em abundância, muitas oportunidades de lazer e descanso, mas sempre sob controle. Tudo para garantir a segurança deles e da filha, a adolescente Dawn (Kelly Marie Tran, a dubladora da protagonista de Raya e o Último Dragão, 2021). Acontece, também, de o casal conhecer Guy desde pequeno, e quer tê-lo de volta, mas não sem segundas intenções: desejam vê-lo como par da única herdeira. O que, se por um lado agrada aos instintos de Grug, irá provocar uma tragédia nos sentimentos dos demais familiares, bastante apegados ao rapaz. É nesse ponto em que o terceiro momento tem início, e de uma forma quase aleatória, envolvendo um monstro gigante, frutas proibidas, gangues selvagens e uma legítima, ainda que improvisada, mensagem de “a união faz a força”.

E se tudo se dá conforme a cartilha, um olhar atento irá perceber a inclusão de pautas contemporâneas, como empoderamento feminino e uma masculinidade que tentar deixar de ser tóxica, mas encontra dificuldade em estabelecer com precisão um limite entre a fragilidade e um homoerotismo latente, ainda que enclausurado. Guy passa mais tempo sendo disputado pelos pais – Grug e Phil – do que pelas suas pares, a namorada Eep e a amiga Dawn. Essas, por sua vez, preferem se ocupar entre elas, dando início a uma amizade poderosa e muito bem-vinda, tanto pela mudança de foco como pela quebra de estereótipos, aqueles que sempre colocaram mulheres umas contra as outras na conquista de um companheiro. Mas é na relação que se estabelece entre os adultos que Os Croods 2: Uma Nova Era parece estar mais interessado. Grug e Phil, uma vez antagonistas, logo deixam isso de lado, abrindo as portas para uma proximidade que permite um vislumbre de outras possibilidades. O fato de ambos brigarem pela posse de um alimento fálico e, após toda a tormenta, escolherem para si mesmos o apelido bastante sugestivo de “irmãos da banana”, acaba por oferecer ao conjunto uma leitura mais sexual do que o recente Luca (2021), por exemplo.

Mas, apesar das inquietações propostas pelo roteiro escrito a oito mãos por Paul Fisher, Bob Logan, Kevin e Dan Hageman (o mesmo quarteto de Lego Ninjago: O Filme, 2017), falta coragem aos realizadores de optarem por um caminho ou outro. O que se verifica é uma necessidade constante de entreter, ao mesmo tempo em que flerta com questões pontuais, porém sem o devido aprofundamento. O pior, no entanto, é a absoluta falta de graça da história, que se conforma em reprisar velhas piadas – a inadequação da vida nas cavernas estava presente no primeiro filme – ou circular por outras opções, como uma aventura descontrolada (a conclusão é tão apoteótica quanto desprovida de consequências) ou um conflito familiar que nunca chega a ser explorado a contento. Os Croods 2: Uma Nova Era possui a vantagem de poder ser visto sem a necessidade de qualquer tipo de conhecimento prévio – é mais uma refilmagem do que uma sequência. Ou seja, um começo para muita gente. E para os demais iniciados nesse universo, o que se confirma é uma ausência de atrativos que justifique essa visita.

 

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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