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Sinopse

Luíza é uma roteirista brasileira e Adrian, um ator colombiano. Em um festival de cinema eles se conhecem e iniciam uma história de amor fragmentada, que só ganha continuidade conforme os dois vão se encontrando pelo mundo.

Crítica

Roteirista de carreira premiada tanto na televisão – pelo trabalho em minisséries como Justiça (2016) e Ligações Perigosas (2016) – quanto no cinema – tendo escrito Deserto Feliz (2007), Transeunte (2010) e A Hora e a Vez de Augusto Matraga (2011), por exemplo – a baiana Manuela Dias faz sua estreia como diretora num projeto de proposta peculiar e de prolongada gestação. Realizado no decorrer de seis anos, com filmagens ocorridas em quatro países – Portugal, Brasil, Colômbia e Estados Unidos – Love Film Festival apresenta o intenso, e atribulado, romance entre a roteirista brasileira Luzia (Leandra Leal) e o ator colombiano Adrián (Manolo Cardona), que se inicia durante o festival luso-brasileiro de Santa Maria da Feira e se desenrola através dos reencontros dos dois por diferentes mostras cinematográficas ao redor do mundo.

Contando com o auxílio de outros três cineastas – Bruno Safadi, Vinícius Coimbra e Juancho Cardona – cada qual responsável por rodar as cenas num dos países onde se passa a trama, Dias assume a direção geral, além das filmagens em território norte-americano, utilizando essas locações distintas como uma divisão em capítulos que acompanham estágios do envolvimento repleto de idas e vindas de Luzia e Adrián. Tendo uma história de amor ambientada no universo dos festivais de cinema, Dias adota um registro parcialmente documental, trazendo cenas reais dos eventos e participações de profissionais ilustres do meio – atores, diretores e roteiristas como Kleber Mendonça Filho, Helena Ignez, Cláudio Assis, Djin Sganzerla e Gustavo Machado – e estendendo a estética naturalista do mesmo, de câmera na mão e planos fechados quase sempre colados aos rostos e corpos dos protagonistas, ao conteúdo ficcional do longa.

A inserção dos personagens fictícios nesse contexto verídico, especialmente para a parcela do público familiarizada com os nomes e rostos vistos na tela, contudo, gera um leve estranhamento, com sua integração a esse ambiente não soando plenamente espontânea. Em seu roteiro, Dias se vale de uma fórmula narrativa cujos elementos se repetem a cada segmento. Há sempre a apresentação dos trabalhos de Luzia e Adrián nos festivais, bem como momentos que buscam explorar a paisagem e os aspectos culturais de cada cidade, mas que nem sempre chegam a acrescentar algo representativo ao desenvolvimento de conflitos ou personagens. A degustação de vinhos e pratos portugueses, a roda de samba carioca, as praias de Cartagena ou o frio de Chicago servem à tentativa de acentuar a experiência sensorial e por vezes refletem, ligeiramente, sentimentos ou o estado do relacionamento central, porém, sem maior incisividade.

Outro artifício narrativo recorrente está nos fragmentos em que os protagonistas reinterpretam diálogos românticos retirados de obras clássicas, como O Desprezo (1963), de Jean-Luc Godard, A Doce Vida (1960), de Federico Fellini, e Último Tango em Paris (1972), de Bernardo Bertolucci. Sequências que se revelam mais um fetiche referencial cinéfilo, um jogo de encenação agradável, mas deslocado, não incorporado organicamente ao tom geral do longa, que até consegue transmitir a urgência e a paixão existentes na história de Luzia e Adrián. A capacidade e a entrega de Leal e Cardona contribuem muito para que o espectador se relacione com os dramas que envolvem grande parte dos casos amorosos: a inquietação e o deslumbramento iniciais, o desejo, as crises, a infidelidade, as incertezas sobre o futuro, a necessidade de abrir mão de sonhos pela concretização do amor.

Essa conexão, contudo, funciona apenas numa esfera mais abrangente sobre tais temas, pois na construção das particularidades que poderiam enriquecer o romance de Luzia e Adrián, tornando-o especial, Dias não obtém o mesmo sucesso. Pouco se explora, para além daquilo que envolve suas profissões ou sua relação, a personalidade da dupla, mesmo quando outras figuras são adicionadas à trama, como o namorado brasileiro de Luzia, vivido por Eduardo Moscovis, a ex-namorada problemática do ator, as famílias de ambos, que aparecem brevemente, ou Camila (Nanda Costa), amiga e atriz que estrela o filme escrito por Luzia inspirado em seu romance com Adrián, e que também se apaixona pelo colombiano. No entanto, por mais que o triângulo amoroso possa agregar à carga dramática, assim como todos os outros conflitos, esse é tratado de forma incompleta, pouco aprofundada.

Mesmo que talvez não seja uma referência fundamental para Dias, o romance entre o casal de nacionalidades diferentes, iniciado em um país estrangeiro, inevitavelmente, remete à trilogia formada por Antes do Amanhecer (1995), Antes do Pôr-do-Sol (2004) e Antes da Meia-Noite (2013). Na prática, porém, Love Film Festival se distancia bastante do trabalho de Richard Linklater, carecendo justamente daquilo que a trajetória de Celine e Jesse tem de melhor: a noção de intimidade criada ao longo de três filmes, cada um representando um recorte de determinado momento da relação. Aqui, ao agrupar diversos recortes num único longa, a sensação que fica é a de que os fatos ocorrem apressados e superficiais, sem transmitir o peso da passagem do tempo ou oferecer a devida imersão, algo que nem mesmo a adesão à metalinguagem de seu desfecho é capaz de suprimir. Pois enquanto questiona a validade de um final aberto ou ressalta a qualidade subversiva de um final feliz, o filme de Dias se encerra com uma mistura pouco satisfatória dos dois.

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é formado em Publicidade e Propaganda pelo Mackenzie – SP. Escreve sobre cinema no blog Olhares em Película (olharesempelicula.wordpress.com) e para o site Cult Cultura (cultcultura.com.br).
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