Crítica
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Sinopse
Moradora de uma cidade do sertão pernambucano, a jovem Jéssica decide fugir para o Recife após ser violentada pelo padrasto, sob o olhar cúmplice de sua mãe. Ao chegar na cidade ela passa a trabalhar no turismo sexual, até conhecer o afeto através de Mark, um turista alemão.
Crítica
Um dos filmes mais comentados da mostra competitiva do Festival de Cinema de Gramado de 2007, Deserto Feliz chegou às telas aqui no Rio Grande do Sul somente dois anos depois! E valeu a espera. Estreia do diretor Paulo Caldas no comando solitário de um longa, após ter realizado os elogiados Baile Perfumado, ao lado de Lírio Ferreira, e O Rap do Pequeno Príncipe contra as Almas Sebosas, com Marcelo Luna, este trabalho gerou polêmica pelo tema que aborda – a exploração sexual no Nordeste brasileiro e o tráfico de meninas para a Europa – e sobre o resultado levado às telas: enquanto uns amaram, outros ficaram no meio do caminho desta compreensão, achando que a aridez de relações e diálogos não foi tão positiva quando uma primeira impressão poderia acusar. Mas no final o saldo é superior, e os seis kikitos conquistados na Serra Gaúcha – Melhor Filme pelo Júri Popular, Prêmio da Crítica, Direção, Fotografia, Música e Direção de Arte – são uma bela prova disso.
A protagonista de Deserto Feliz é uma adolescente de 14 anos (Nash Laila) que vive no meio do sertão pernambucano. Após ser violentada sexualmente pelo padrasto, sob o olhar cúmplice da própria mãe, a menina decide abandonar aquela vida infeliz e medíocre e seguir para Recife. Seu destino? Se tornar mais uma prostituta na cidade grande. Mas tudo parece mudar ao conhecer um turista alemão (Peter Ketnath, de Cinema, Aspirinas e Urubus), o primeiro homem em sua vida a lhe ensinar quantas mudanças o amor e o afeto verdadeiro podem provocar na vida de uma pessoa.
Outros desempenhos notáveis do elenco conciso são João Miguel (Estômago) e da veterana Zeze Motta (que chegou a ser indicada como Coadjuvante ao Grande Prêmio de Cinema Brasileiro). Mas a grande força deste filme está mesmo é no enredo enxuto, que preenche através de elipses uma trama de desilusões e esperanças, em que um Brasil desacreditado pode servir como trampolim para um mundo novo e atraente, mas ao mesmo tempo assustador e repleto de desafios. Caldas (também autor do roteiro, ao lado de Marcelo Gomes, Manoela Dias e Xico Sá) diz muito falando pouco, trabalhando as expressões dos intérpretes e o vazio de suas emoções, refletindo estes sentimentos nos cenários pelos quais eles se deslocam, como se o ambiente fosse um indicativo de tudo que se passa com cada um.
Deserto Feliz teve parte de suas cenas filmadas na Alemanha, e chegou a ser exibido, como convidado, no Festival de Berlim. Elementos como uma trilha sonora discreta, uma fotografia ousada e uma direção segura de suas intenções colaboram na sensação geral de que este é, sim, uma trabalho acima da média dentro do cenário nacional. Premiado ainda no Festival de Cinema Brasileiro de Paris (Filme e Atriz), de Guadalajara (Direção) e de Santa Maria da Feira (Atriz), este é um trabalho para ser absorvido com cuidado, possibilitando a reflexão e o estímulo dos sentimentos. O objetivo talvez não seja incomodar, mas também não pretende deixar ninguém acomodado. Serão as reações que surgirão lentamente, no decorrer do processo e após o término da exibição, que farão toda a diferença. E será possível concluir que nada é absoluto, seja a felicidade ou o desespero. Afinal, até no meio do deserto mais cruel é possível encontrar um oásis.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 8 |
Chico Fireman | 5 |
Francisco Carbone | 9 |
Alysson Oliveira | 6 |
MÉDIA | 7 |
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