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Sinopse

Um criminoso, chamado Nando, retorna à sua terra natal, Colômbia, após 30 anos vivendo como imigrante nos Estados Unidos. Ele volta ao país para cumprir uma encomenda feita por um um importante cliente: contrabandear um rim para os EUA. No entanto, uma falha no roubo do órgão de uma vítima fará com que ele tenha que lidar com problemas ainda maiores.

Crítica

Uma mulher nua desperta na banheira de um quarto de hotel. Sentido dores, ela percebe uma cicatriz recente em seu abdômen e, ao tentar se levantar, encontra um bilhete pedindo apenas que ligue para a emergência. A montagem entrecorta a cena com fragmentos fora da ordem cronológica, que revelam a mesma mulher chegando ao hotel, sendo dopada por um homem e tendo seu fígado retirado por outros três indivíduos. Estas primeiras imagens de Humanpersons chegam a sugerir a possibilidade de algo intrigante. Infelizmente, tudo o que se sucede após a sequência inicial no longa do diretor panamenho Frank Spano se revela banal e incapaz de manter o interesse, então, despertado. A trama acompanha James (Luis Fernandez), homem que assume a responsabilidade pelo fracasso da operação mostrada – já que o fígado da garota não se encontrava nas condições esperadas – tendo que lidar com a insatisfação de seu chefe, que comanda um grande esquema de tráfico de órgãos nos Estados Unidos.

Pressionado, o protagonista é enviado para sua terra natal, a Colômbia, com o objetivo de conseguir um novo e saudável “produto” dentro do prazo de uma semana. Contudo, ao desembarcar no país que deixara ainda na infância, e ao qual não retornava há mais de trinta anos, as memórias de seu passado distante acabam interferindo no andamento da missão. Desde o princípio, Spano envolve seu longa, que pela premissa poderia facilmente originar uma fita B de ação despretensiosa, num tom oposto, sempre grave, oferecendo um registro que busca incessantemente criar uma aura trágica nunca, de fato, atingida. As altas ambições do cineasta podem ser percebidas especialmente no campo estético, com as inúmeras tomadas aéreas, que logo se mostram repetitivas e gratuitas, nos planos que acompanham James caminhando em câmera lenta, na montagem que segue o padrão do prólogo, alterando a ordem dos eventos e mesclando imagens de uma ação presente com o áudio de uma segunda ação futura ainda não revelada.

Todos esses artifícios visuais, contudo, acabam soando como mera afetação, utilizados para encobrir a falta de consistência do material e a incapacidade de Spano em dar peso real aos personagens e aos dramas que os envolvem. A construção do suspense é nula, fazendo com que a narrativa siga sem qualquer surpresa ou momentos marcantes. Igualmente falhas são as tentativas de criar cenas impactantes e que invariavelmente resultam caricaturais, esbarrando na comicidade involuntária, caso da sequência do jantar de James e o filho com o chefe – com todo o diálogo sobre homens e lobos – ou do encontro com o criminoso brasileiro, que toca samba numa caixa de fósforos enquanto ameaça seu capanga de morte. A artificialidade domina o longa, seja por conta da encenação frouxa ou mesmo pela condução do elenco – por mais que Luis Fernandez se esforce para compor o anti-herói trágico, o roteiro oferece pouca substância ao personagem. Os diálogos naturalmente triviais perdem ainda mais por serem majoritariamente em inglês, o que também prejudica a qualidade das interpretações, ficando nítido certo desconforto dos atores com uma língua que não a sua nativa.

Mas é mesmo no desenvolvimento anêmico dos conflitos que se encontra o ponto mais fraco de Humanpersons. Seja na dinâmica entre James e o chefe – uma figura paternal deturpada – na relação com a amiga de infância ou em toda a subtrama envolvendo o filho diabético, nada se sente real ou impele algum envolvimento emocional da parte do espectador. Esse vácuo dramático contrasta de modo gritante com a auto importância e a pretensão que exalam do trabalho de Spano – o melhor exemplo disso talvez seja o plano-sequência do tiroteio no estacionamento, uma demonstração de arrojo técnico que não apenas nada acrescenta à cena, como ainda dilui qualquer possibilidade de impacto que esta poderia ter. É a síntese de Humanpersons, que almeja a complexidade, mas resulta raso nos quesitos mais básicos.

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é formado em Publicidade e Propaganda pelo Mackenzie – SP. Escreve sobre cinema no blog Olhares em Película (olharesempelicula.wordpress.com) e para o site Cult Cultura (cultcultura.com.br).
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