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Sinopse

Em 1987, refugiado num ferro-velho de uma pequena cidade praiana da Califórnia, Bumblebee, um fusca amarelo aos pedaços, machucado e sem condições de uso, é encontrado e consertado pela jovem Charlie, às vésperas dela completar 18 anos. Quando Bee ganha vida, ela enfim nota que seu novo amigo é bem mais do que um simples automóvel.

Crítica

O ano que 2017 não foi dos mais tranquilos em Hollywood. Vários títulos considerados apostas certas de bilheteria naufragaram junto ao público, como Liga da Justiça, Piratas do Caribe: A Maldição de Salazar e Carros 3, entre outros. Nenhum destes tombos, no entanto, ressonou tanto quanto o de Transformers: O Último Cavaleiro, que por pouco não colocou um ponto final da saga inspirada nos brinquedos tão populares desde os anos 1980. Mas não se joga para escanteio uma franquia de mais de US$ 4 bilhões sem pensar duas vezes. E foi justamente o que fizeram os produtores – entre eles, ninguém menos do que Steven Spielberg. E eis que a decisão foi de voltar às origens, apostando no básico e mais simples, longe das pirotecnias e grandiosidades perseguidas por Michael Bay. O resultado é esse Bumblebee, que serve tanto como spin off como reboot – ou, mais apropriadamente, como uma prequel – e parte do carisma natural do personagem mais simpático dessa mitologia para tentar renovar os ânimos do público. E como o investimento dessa vez é bem menor, a impressão é de que o resultado está dentro do esperado.

Sai Michael Bay, entra Travis Knight, animador indicado ao Oscar pelos simpáticos Os Boxtrolls (2014) e Kubo e as Cordas Mágicas (2016), aqui em sua primeira produção em live action. E se a mudança não é das mais drásticas – afinal, há muita animação digital envolvida – ele apostou em nomes garantidos para o lado humano da trama, por assim dizer. A protagonista é a jovem Hailee Steinfeld – indicada ao Oscar por Bravura Indômita (2010), quando tinha apenas 14 anos – e se ao seu lado está o simpático Jorge Lendeborg Jr. (Com Amor, Simon, 2018), servindo bem como parceiro de aventuras e interesse romântico, o lado forte da questão é defendido com competência pelo ex-lutador John Cena (que pouco tem a fazer além daquilo que construiu sua carreira). Os três respondem pelo que se pode esperar de um filme como esse: ação na medida certa, uma certa inadequação adolescente e um grau de autoridade que até impõe respeito, sem chegar a assustar ninguém, no entanto.

Rapidamente, ainda no prólogo, acompanhamos uma batalha espacial que termina com Bumblebee sendo enviado à Terra para proteger o planeta e preparar o terreno para o início de uma resistência – exatamente o que veremos com mais detalhes no primeiro Transformers (2007). Sim, pois a trama aqui se passa em plenos anos 1980, e muito do charme que é possível presenciar em cena se deve a essa escolha, seja pela trilha sonora acertada – é impossível não sorrir diante de tantos hinos oitentistas – como os cenários e figurinos que recriam com bastante humor algumas das principais tendências (e vergonhas) daquela época. É neste ambiente que o robô – agora disfarçado de fusquinha amarelo – é encontrado por Charlie (Steinfeld), uma garota que há pouco ficou órfã de pai e ainda não conseguiu se encaixar na nova família formada pelo segundo casamento da mãe. Ao mesmo tempo em que forma aliança com a jovem, ele descobre que há outras ameaças no seu caminho.

E é basicamente isso. Não há muito o que se elaborar a respeito de Bumblebee, filme que funciona mais ou menos como uma divertida montanha-russa: ou seja, emociona quando em movimento, mas assim que termina é logo trocado pela próxima sensação. Enquanto Cena corre de um lado para outro como o militar que primeiro desconfia do alienígena robótico, para só depois decidir apoiá-lo em sua luta, outros dois vilões chegam do espaço decididos a não apenas acabar com o inimigo remanescente, mas também em fazer uso da tecnologia terráquea a seu favor. Planos esses que parecem elaborados, mas são não mais do que desculpas para embates que não fazem feio aos já vistos nos melhores momentos da saga Transformers: robôs gigantescos destruindo tudo que veem pela frente, enquanto os humanos que por azar se encontram por perto tratam de se esconder na tentativa de escaparem ilesos.

E ao repetir sequências que provocarão dejà vú nos fãs do gênero, Bumblebee coloca em evidência o que tem de melhor: todo o resto. Hailee Steinfeld, ainda que comece um pouco chorosa demais, logo mostra sua força à frente do elenco, defendendo com prazer um tipo que não lhe é estranho – a outsider que por um jeito ou outro acaba mostrando seu valor, mais ou menos como foi em A Escolha Perfeita 2 (2015). As interações entre ela e o amigo robótico funcionam, e até os momentos dele sozinho – como quando tenta ser discreto na casa dela, e tudo que consegue é destruir tudo o que toca – são bem-humorados. No fim, ainda que de modo inesperado, o roteiro de Christina Hodson (a mesma do tenebroso Paixão Obsessiva, 2017) consegue se encaixar sem muito ruído ao mundo Transformers, funcionando como porta de entrada aos duelos futuros entre Autobots e Decepticons. E justamente por não prometer demais, é que o novo filme funciona. Afinal, quanto menores as expectativas, mais fácil é atingir um grau razoável de contentamento.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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