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Sinopse

O destino da humanidade está em jogo quando duas raças de robôs, os Autobots e os vilões Decepticons, chegam à Terra. Os robôs possuem a capacidade de se transformarem em diferentes objetos mecânicos enquanto buscam a chave do poder supremo com a ajuda do jovem Sam.

Crítica

Antes de mais nada, é importante ter algo bastante claro: poucos profissionais em Hollywood são mais atentos ao lado mercadológico da indústria do que Michael Bay! Ele é um diretor que representa bem muito do que há de desnecessário e exagerado nessa fábrica de fantasias: absurdos visuais, enredos vazios e histórias tolas. Por isso, tê-lo à frente da versão para a tela grande do popular brinquedo dos anos 1980, Transformers, não deve ter deixado ninguém com as expectativas nas alturas. Quando o primeiro trailer foi divulgado, o que temia se confirmou: muitas explosões, robôs tecnicamente perfeitos, porém nada atrativos, e uma história aparentemente repleta de clichês. Só que um detalhe havia sido esquecido no meio de tanto barulho: quem está sentado na cadeira de produtor executivo é ninguém menos do que Steven Spielberg. E, acreditem: isso faz a diferença!

Transformers é o filme que Spielberg dirigiria caso houvesse tecnologia disponível 20 ou 30 anos atrás. Já que não foi possível, ele aguardou e, como acredita estar numa idade mais "madura" para este tipo de passatempo, deixou a bola para o jovem Bay. Mas não se enganem: a mão do realizador de Os Caçadores da Arca Perdida (1981) e Jurassic Park (1993) está por todos os lados. Era de se esperar, no entanto, que o responsável por títulos descartáveis, como A Ilha (2005), tenha aprendido a lição de como combinar diversão de primeira com bom humor em uma trama que não desrespeite a inteligência do espectador. Não que a história de Transformers seja muito mirabolante. Pelo contrário, pode ser resumida em uma frase: duas raças de robôs extraterrestres - os "Autobots", do 'bem', e os "Decepticons", do 'mal' - fazem da Terra campo de batalha na busca por um Cubo milenar que pode decidir o futuro do Universo. Alguns humanos acabam no meio da briga - um adolescente que só quer pegar a garota mais gostosa do colégio, um grupo de militares, cientistas e o próprio governo norte-americano. Uma conspiração chega a se desenhar, porém sem muito impacto. Não há distração - vai-se logo ao que o público quer, gigantescos alienígenas robóticos destruindo meio mundo enquanto assistimos, confortavelmente, digerindo muita pipoca e refrigerante.

Alguns cuidados foram essenciais para o bom resultado do projeto: os roteiristas Alex Kurtzman e Roberto Orci (Missão: Impossível 3, 2006) simplificaram a narrativa, porém sem torná-la banal. Conseguimos nos identificar com os personagens de carne e osso, perdidos no meio de um duelo de gigantes. A fotografia do filme é feita sob o ponto de vista humano, o que contribui no nosso sentimento de estarmos, literalmente, dentro do filme - em alguns momentos vemos apenas as pernas dos robôs, em outros a explosão já em andamento! Os efeitos especiais são de primeiríssima linha - cortesia da Industrial Light & Magic, de George Lucas - e, na grande maioria, a ação transcorre em céu aberto, muito bem iluminada e perfeitamente visível. E, acima de tudo, há muito bom humor, ironia e auto-crítica durante todo o desenrolar dos acontecimentos - nenhuma piada é perdida, mantendo alto o astral.

Outro elemento que dá certo é a aposta dos realizadores no novato Shia LaBeouf. O rapaz foge do padrão consagrado de protagonista deste tipo de filme: não é particulamente bonito, nem musculoso ou descerebrado! Mas é, sim, muito simpático, engraçado e bom ator, conseguindo equilibrar a missão que acaba lhe sobrando com as tarefas de conquistar a mocinha e ainda livrar nosso planeta do extermínio. Simples, não? E o que se vê na tela foi tão positivo que o próprio Spielberg acabou escalando para o rapaz para o seu projeto seguinte como diretor: Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal (2008)!

Transformers é mais espetacular do que Armageddon (1998), mais romântico do que Pearl Harbor (2001) e mais dinâmico do que A Rocha (1996), para ficarmos em termos de comparação apenas com as frustrações anteriores de Michael Bay. Divertido, empolgante e competente no que se propõe, obteve bons resultados tanto junto à crítica - além de três indicações ao Oscar - quanto com o público (mais de US$ 700 milhões nas bilheterias ao redor do mundo). Frases feitas, clichês inevitáveis, muito barulho e pouco conteúdo? Sim, mas também entretenimento bem realizado. E vez que outra isso pode ser mais do que suficiente.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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