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Sinopse

Aos 14 anos, Mattie Ross teve seu pai assassinado a sangue frio por Tom Shaney. Em busca de vingança, a jovem decide contratar um xerife beberão, homem temido no passado, para que ele consiga lavar com sangue a sua honra.  

Crítica

Joel e Ethan Coen sempre primaram em sua cinematografia – sempre trabalham juntos – por obras originais e inventivas. Esse foi o motivo da estranheza inicial gerada pela notícia de que eles iriam conduzir um remake, e ainda mais de um faroeste – gênero dado como morto em Hollywood há anos. Mas esse novo Bravura Indômita tem a marca dos irmãos do início ao fim, e isso é um ótimo sinal. E mais: os atentos já alertaram para o fato de que essa não é a primeira refilmagem de suas carreiras – Matadores de Velhinha, de 2004, é uma nova versão de Quinteto da Morte, de 1955. E não se trata, agora, de atualizar o que já foi feito antes. Este novo trabalho é muito mais fiel ao livro de Charles Portis do que o longa anterior. Isso sem falar na visão cínica, critica e irônica dos realizadores atuais. E isso faz toda a diferença.

Bravura Indômita começa com a pequena Mattie Ross decidida a vingar o pai, que foi morto de forma estúpida após uma briga de bar. Como o assassino (Josh Brolin, em sua segunda colaboração com os Coen, após o oscarizado Onde os Fracos Não Têm Vez) fugiu para um território indígena, ela não poderá contar com a ajuda do xerife municipal. Sua saída é contratar um policial federal, e o único que encontra disponível é o bêbado Rooster Cogburn (Jeff Bridges, também reprisando ao lado dos diretores, após ter dado vida ao genial e icônico protagonista de O Grande Lebowski). Assim, um oficial da lei decadente e uma menina inocente saem deserto adentro, tendo como única companhia um Texas ranger (Matt Damon, sem muito brilho) mais ingênuo do que competente.

O que temos pela frente é um road movie à cavalo, com tudo que isso possa significar de bom e de ruim. Sim, as paisagens são lindas, os cenários deslumbrantes e todo o tom do filme é épico e impressionante. Mas muito pouco acontece de fato, ao menos até o clímax final, realmente emocionante e dono de todas as surpresas aguardadas. E se ficamos atentos até esse momento isso se dá muito mais pelos diálogos inspirados e pelos personagens bem construídos do que pela trama em si, bastante simples e sem grandes novidades. Esse é um filme que assistimos com prazer muito mais pelo que traz de supérfluo, por seus adereços e detalhes, do que pelo conteúdo em si, que poucas vezes apresenta algo não visto – muitas – vezes antes.

As 10 indicações recebidas no Oscar 2011 – entre elas Melhor Filme, Direção, Ator (Bridges) e Atriz Coadjuvante (Steinfeld) – geraram grande espanto, ainda mais após a total esnobada que o filme recebeu no Globo de Ouro, ao não ter sido indicado em nenhuma categoria. Uma quantidade como essa obviamente impressiona, mas não significou nenhuma garantia – basta lembrar do não tão distante Gangues de Nova York, de 2002, que também foi lembrando em 10 categorias e, da mesma forma, saiu da festa de mãos abanando. Jeff Bridges é um ator fantástico e é, mais um vez, a presença mais marcante em cena, mas ganhou seu Oscar no ano passado (por Coração Louco), o que o deixa praticamente fora da disputa – é muito raro ganhar duas vezes em sequência. Os Coen já possuem 4 Oscars (roteiro por Fargo, direção, filme e roteiro por Onde os Fracos Não Têm Vez) e para muitos isso já é o bastante. E Steinfeld é um personagem principal, então sua indicação como coadjuvante não só foi um absurdo como um engano. Talvez a verdadeira chance de premiação fosse em Fotografia, já que esta era a nona indicação de Roger Deakins – que nunca ganhou! Um reconhecimento mais do que merecido e ainda assim tardio. Pena que não na opinião dos votantes.

Os três últimos longas dos irmãos Coen concorreram ao Oscar de Melhor Filme – Onde os Fracos Não Têm VezUm Homem SérioBravura Indômita – e um feito como esse não é qualquer cineasta que consegue. Ainda mais quando trabalham em dupla. Então, é muito provável que só essa lembrança já seja uma recompensa mais do que justa. Ainda mais porque estamos diante de um filme bom, porém nada inesquecível. Diverte, entretém e emociona, mas não irá mudar a vida de ninguém, e nem acrescenta nada de novo ou revigorante à temática. É uma obra com pedigree, digna de aplausos e com méritos óbvios. Mas nada além disso. E já está de bom tamanho.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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