O ano de 2009 foi o último que contou com apenas cinco indicados na categoria de Melhor Filme. Em 2010 e 2011 era regra selecionar 10 concorrentes – curiosamente, foram as últimas ocasiões nas quais um longa de animação (Up: Altas Aventuras e Toy Story 3, respectivamente) concorreram na disputa principal. A partir de 2012, a lógica foi novamente modificada, agora para um resultado intermediário de até 10 indicados (ou seja, seriam mais de cinco, mas no máximo 10 – provavelmente menos, como se viu nas edições seguintes). Apenas nas festas de 2015, 2016 e 2019 contou com apenas oito finalistas, mesmo número dessa vez. Numa temporada que ficará marcada pelos cinemas fechados – em decorrência da pandemia de Covid-19 – três dos selecionados foram produzidos por gigantes do streaming (dois da Netflix, um da Amazon), número nunca antes alcançado (em 2020 eram apenas dois, em 2019 somente um, e só). Dos outros cinco, no entanto, somente um chegou a estrear comercialmente – e por poucos dias, apenas, antes das salas fecharem novamente – e mais um tem data certa para ser lançado (em vídeo on demand). Portanto, três seguem absolutamente inéditos – isso é, claro, pelas vias legais de acesso. Confira, a seguir, as chances de cada um de levar para casa o cobiçado “ouro hollywoodiano”:
Indicados
- Meu Pai (David Parfitt, Jean-Louis Livi, Philippe Carcassonne)
- Judas e o Messias Negro (Shaka King, Charles D. King, Ryan Coogler)
- Mank (Ceán Chaffin, Eric Roth, Douglas Urbanski)
- Minari: Em Busca da Felicidade (Christina Oh)
- Nomadland (Frances McDormand, Peter Spears, Mollye Asher, Dan Janvey, Chloé Zhao)
- Bela Vingança (Ben Browning, Ashley Fox, Emerald Fennell, Josey McNamara)
- O Som do Silêncio (Bert Hamelinck, Sacha Ben Harroche)
- Os 7 de Chicago (Marc Platt, Stuart Besser)
FAVORITO
Nomadland
Duas mulheres estão à frente do título mais badalado desta temporada: Chloé Zhao e Frances McDormand. Ambas produziram juntas o longa dirigido pela primeira e estrelado pela segunda. Desde que ganhou o Leão de Ouro como Melhor Filme no Festival de Veneza, Nomadland já acumulou mais de duas centenas (isso mesmo, mais de 200!) troféus, sendo mais de 50 (ou seja, um quarto do total) apenas na categoria de “Melhor Filme”! É, portanto, e indiscutivelmente, o longa mais premiado do ano, tendo recebido, entre outros, reconhecimentos do Globo de Ouro, Sociedade Nacional dos Críticos de Cinema dos EUA, Critics Choice e Satellite. Mais importante do que todos esses, foi considerado também o melhor pelo Sindicato dos Produtores da América – o mais forte indicativo dessa categoria em Hollywood! Ou seja, as chances dos demais são praticamente nulas – e quem já viu, afirma: a estatueta dourada estará em boas mãos!
Indicações: concorre ainda a Melhor Direção, Atriz, Roteiro Adaptado, Montagem e Fotografia (06 ao todo)
Onde assistir? Em breve nos cinemas (sem previsão em streaming)
MERECE
O Som do Silêncio
Uma das boas surpresas desta temporada foi o longa de estreia do diretor Darius Marder. Considerado um dos “dez filmes do ano” pelo American Film Institute e pelo National Board of Review, foi indicado ao Critics Choice e ao Film Independent Spirit Award (nesse caso, como “Filme de Estreante”), além de ter concorrido também ao PGA (Sindicato dos Produtores). Mas ficou de fora dos finalistas do Globo de Ouro e do Bafta, por exemplo, o que prejudicou bastante suas chances – que já eram pequenas, e agora são praticamente nulas. Isso significa que não merecia estar entre os grandes da temporada? Muito pelo contrário. Tem-se aqui uma obra sensível e emocionante, interpretada com afinco por grandes atores – Riz Ahmed e Paul Raci estão também indicados – e que faz jus a todo reconhecimento obtido até o momento (e mais). Primeiro longa produzido pela Amazon Prime a conseguir essa honraria, merecia muito a vitória por lembrar do básico no cinema: o poder de contar uma história calcada mais nas imagens do que nas palavras.
Indicações: concorre ainda a Melhor Ator, Ator Coadjuvante, Roteiro Original, Montagem e Som (06)
Onde assistir? Disponível na Amazon Prime Video
TORCIDA
Meu Pai
Um homem perdido dentro de si mesmo. E essa impotência, desesperadora, é compartilhada pela filha, que não sabe mais como lidar com ele. Esse é o drama vivido por Anthony Hopkins e Olivia Colman em Meu Pai. Ambos já vencedores do Oscar – ele ganhou por O Silêncio dos Inocentes (1991), ela por A Favorita (2018) – se encontram nessa que, se não é a melhor, certamente está entre as cinco mais complexas e intensas atuações de suas brilhantes carreiras. Mas, felizmente, o filme do diretor e roteirista Florian Zeller (ele também estreante no formato) é mais do que apenas o encontro de dois gigantes (como se isso fosse pouco): há um cineasta maduro (apesar da pouca experiência) na condução de uma trama sensível e delicada, que fala de pessoas comuns passando pelos momentos mais difíceis de suas existências. Indicado também ao Globo de Ouro, ao Bafta, ao Satellite e em dezenas de associações críticas por todos os Estados Unidos, não ganhou praticamente nada até o momento. Soma-se ao fato de não ter nem sido indicado ao PGA, e suas chances de vitória por aqui se tornaram praticamente nulas. Mas não custa nada sonhar – e torcer por uma das histórias mais tocantes da temporada.
Indicações: concorre ainda a Melhor Ator, Atriz Coadjuvante, Roteiro Adaptado, Montagem e Design de Produção (06)
Onde assistir? A partir de 09 de abril nas plataformas de VoD
AZARÃO
Mank
Como pode o campeão de indicações ser também considerado o “azarão” da temporada? Pois então, pode parecer estranho, mas é exatamente o que está acontecendo com Mank. Dono de dez indicações – o recordista desta temporada – não pode ser considerado carta fora do baralho (afinal, apreço pelo filme os membros da Academia já mostraram que possuem). No entanto, esse parece ser mais um candidato que fala à razão, não ao coração. Seus quesitos técnicos são irretocáveis, mas onde teria ficado a “alma” do projeto no meio de tanto detalhe? Indicado ao Globo de Ouro, Bafta, Critics Choice, ao PGA e em dezenas de associações de críticos por todos os EUA, não foi premiado em absolutamente nenhuma dessas disputas. Ou seja, se algo acontecer diferente do esperado, certamente será uma bela surpresa. Porém, este não é um jogo para novatos: O diretor David Fincher está em sua terceira indicação (concorreu antes por O Curioso Caso de Benjamin Button, 2008, e por A Rede Social, 2010), e esta é também a terceira indicação do protagonista, Gary Oldman (que foi premiado como Melhor Ator por O Destino de uma Nação, 2017).
Indicações: Concorre ainda a Melhor Direção, Ator, Atriz Coadjuvante, Som, Design de Produção, Trilha Sonora, Maquiagem & Cabelos, Figurino e Fotografia (10)
Onde assistir? Disponível na Netflix
SEM CHANCES
Os 7 de Chicago
Considerado um dos favoritos deste ano, viu suas chances minguarem quando o diretor Aaron Sorkin ficou de fora da categoria de Melhor Direção. Muito mais conhecido como roteirista – concorre a Melhor Roteiro Original, está em sua quarta indicação e foi premiado por A Rede Social (2010) – Sorkin criou um filme de elenco, além de contar com a relevância da história, baseada em um episódio real. Indicado ao Globo de Ouro, ao Bafta, ao Critics Choice e ao PGA, foi premiado como melhor do ano apenas pelos críticos de Denver e do Havaí, dentre dezenas de outras indicações nas associações regionais. Assim, criou-se a expectativa ao seu redor: se esse é um longa cujos méritos estão no elenco e no texto, e não no todo, suas chances – se é que existem – estão nessas categorias, e não na principal. Por fim, num ano que tem apregoado tanto um olhar voltado à diversidade e às mudanças, este é provavelmente o concorrente com mais cara de “velha Hollywood”, voltado ao passado em vez de vislumbrar o futuro.
Indicações: concorre ainda a Melhor Ator Coadjuvante, Roteiro Original, Montagem, Fotografia e Canção Original (06)
Onde assistir? Disponível na Netflix
POLÍTICO
Judas e o Messias Negro
O cinema negro se manifestou com força em 2020. Destacamento Blood foi premiado no National Board of Review, A Voz Suprema do Blues foi indicado ao Critics Choice e Uma Noite em Miami concorreu ao PGA – sem esquecer de Soul, favorito na categoria de Longa de Animação. Qualquer um desses quatro merecia com folga uma vaga por aqui, mas, como se a mentalidade apontasse que apenas um título com essas características pudesse ocupar esse espaço, quase como num regime de “cotas”, o escolhido foi Judas e o Messias Negro, do diretor e roteirista Shaka King. O curioso é que esse não alcançou nenhum dos reconhecimentos apontados acima – com exceção da indicação ao PGA, que nomeou entre os melhores do ano os cinco longas citados nesse parágrafo, dentro os dez destaques da temporada. Ignorado pelo Globo de Ouro, Bafta e Critics Choice, concorreu como Melhor Filme apenas na associação dos críticos de cinema de Las Vegas – e perdeu. Mas, foi lembrado pela Associação dos Críticos de Cinema Afro-Americanos dos EUA, pelo Círculo de Críticos Negros de Cinema dos EUA, no Black Reel Awards, premiado apenas no primeiro. Sua presença, portanto, é quase como um escudo para evitar acusações contra a Academia de racismo e visão estreita da realidade – mas é pouco, perto do muito que tem sido feito por cineastas de todo o mundo.
Indicações: concorre ainda a Melhor Ator Coadjuvante, Ator Coadjuvante, Roteiro Original, Fotografia e Canção Original (06)
Onde assistir? Em exibição nos cinemas (que estiverem abertos). Ainda não possui previsão de lançamento em streaming
SURPRESA
Minari: Em Busca da Felicidade
O longa de Lee Isaac Chung, sobre uma família de imigrantes sul-coreanos que chegam aos Estados Unidos em busca de uma vida melhor, pode ser considerado uma “surpresa”? Tanto pelo sim, como pelo não. Afinal, um ano após o sucesso de Parasita (2019), o primeiro filme não norte-americano a ganhar a principal categoria do Oscar, será que a febre movida pelo cinema da Coreia do Sul segue em alta? Apesar de ser falado majoritariamente em uma língua “estrangeira”, esta é uma produção norte-americana, e é por isso que está indicada aqui, e não como “Melhor Filme Internacional” (novo nome da antiga Melhor Filme Estrangeiro). Ou seja, apesar de ter sido premiado como Melhor Filme em Língua Estrangeira no Globo de Ouro e no Critics Choice, era inelegível nessa categoria no Oscar – e por isso sua presença por aqui, onde tudo pode acontecer. Afinal, é um dos títulos mais elogiados dessa temporada, e foi escolhido o melhor do ano pelos críticos de Austin, Carolina do Norte, Oklahoma, Phoenix, Utah e Nova Iorque (online). Ou seja, talvez não seja o favorito, mas não pode ser apontado como o mais fraco dos concorrentes.
Indicações: concorre ainda a Melhor Ator, Atriz Coadjuvante, Direção, Roteiro Original e Trilha Sonora (06)
Onde assistir? Em breve nos cinemas (sem previsão em streaming)
CONTROVERSO
Bela Vingança
Um dos dois longas dirigidos por mulheres e concorrentes também na categoria de Melhor Direção, Bela Vingança entre com força na disputa. Emerald Fennell, até então mais conhecida como atriz (participou da série The Crown, 2019-2020), conseguiu um feito raro em Hollywood – e muitos podem dizer que este já é o seu prêmio. Ao contar a história de uma garota que, após sofrer um sério trauma, decide se vingar de todos aqueles que cruzarem pelo seu caminho, o filme tem sido apontado tanto como feminista quanto como violento em excesso, o que pode ferir a sensibilidade dos mais conservadores. Apresentando-se na corrida como um daqueles que é “indicado a tudo e premiado em nada”, concorreu ao Globo de Ouro, Bafta, Critics Choice e ao PGA, foi reconhecido apenas pelos críticos de Nevada e de San Diego, além de ter garantido algumas vitórias como “filme de estreia” (o que não chega a ser a mesma coisa). Com chances sólidas de êxito tanto como Melhor Atriz como em Roteiro Original, por aqui apenas a sua presença já pode ser considerada motivo de comemoração.
Indicações: concorre ainda a Melhor Atriz, Direção, Roteiro Original e Montagem (05)
Onde assistir? Em breve nos cinemas (sem previsão em streaming)
ESQUECIDO
Destacamento Blood
Na real, todos os quatro títulos apontados no tópico “POLÍTICO” poderiam ser lembrados, como afirmado lá em cima. Alguns dizem ainda que Relatos do Mundo (indicado ao Critics Choice) merecia uma vaga, assim como The Mauritanian (indicado ao Bafta) ou até mesmo o provocador Borat: Fita de Cinema Seguinte (vencedor do Globo de Ouro). Mas se Soul tem tudo para ser premiado como Melhor Longa de Animação (e talvez até como Trilha Sonora), A Voz Suprema do Blues chamou atenção pelo elenco (e deve ganhar como Melhor Ator) e Uma Noite em Miami tem tudo para ser premiado Canção Original, quem ficará de mãos abanando é Destacamento Blood – que recebeu apenas uma indicação, em Trilha Sonora! Escolhido como o melhor filme do ano no National Board of Review, viu suas chances irem minguando no decorrer das semanas e meses, até chegar ao Oscar quase sem forças – o que é uma tremenda injustiça. Grande trabalho do diretor Spike Lee, merecia estar presente em várias categorias – além de Filme, também em Direção, Ator, Ator Coadjuvante, Roteiro Original, Fotografia, Montagem e Figurino, por exemplo. Mesmo assim, foi ignorado pela maioria dos votantes. Que feio, Academia!
Indicações: concorre apenas a Melhor Trilha Sonora (01)
Onde assistir? Disponível na Netflix
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