O sindicato da categoria dos diretores de arte, o Art Directors Guild, em sua premiação, divide as produções para cinema em quatro categorias: Filme de Época, Filme de Fantasia, Filme Contemporâneo e Filme de Animação. Dos cinco indicados ao Oscar, quatro disputaram o ADG como Filme de Época, e apenas um como Filme Contemporâneo – ou seja, todos os indicados a Fantasia e Animação foram completamente ignorados. Como os votantes da Academia parecem não se impressionar com estas modalidades na hora de oferecer seus troféus, melhor focar as atenções na competição que realmente lhes interessa. E entre esses, os premiados saem à frente na disputa por aqui, enquanto que os demais viram suas chances serem diminuídas. Confira a seguir nossas apostas na categoria de Melhor Design de Produção.

Indicados

 

FAVORITO
Era uma Vez em…Hollywood
Esta é a primeira indicação ao Oscar de Barbara Ling, designer que possui no currículo produções duvidosas, como Batman & Robin (1997) e Um Homem de Sorte (2012). Praticamente aposentada – na última década ela trabalhou em apenas três filmes – foi redescoberta por Quentin Tarantino, que a chamou para assinar a reconstituição de época de Era uma Vez em…Hollywood. E o trabalho parece ter dado certo: tanto é que foi premiada no Art Directors Guild, no Critics Choice e junto aos críticos da Florida, Las Vegas, Londres, Los Angeles, Nevada, São Francisco, Seattle, St. Louis e Washington. Além disso, concorreu ao Bafta e ao Satellite. Sua colega, Nancy Haigh, por outro lado, é uma veterana na categoria – está em sua oitava indicação, e foi premiada por Bugsy (1991). Com o amparo dos colegas e também da crítica, é seguro afirmar que as duas são as mais próximas do ouro dentre todos os indicados deste ano.

 

AZARÃO
Parasita
Essas são as primeiras indicações ao Oscar e Lee Ha-jun e Cho won-woo. Os dois fazem parte da ‘Febre Parasita’, como já comentamos em outras ocasiões e que parecem ter tomado conta do Oscar e de Hollywood nesta temporada. O filme tem seis indicações à estatueta dourada. É pouco provável que saia da festa apenas com o prêmio de Melhor Filme Internacional. Aqui, portanto, parece ser um bom espaço para ocupar. Ainda mais depois do prêmio no ADG de Melhor Direção de Arte de Filme Contemporâneo. O grande problema, no entanto, é justamente esse – os votantes da Academia não costumam reconhecer trabalhos contemporâneos, preferindo privilegiar recriações de época (como é o caso de todos os outros quatro indicados). De qualquer forma, foram nominados também ao Critics Choice e premiados pelos críticos do Havaí e pela Sociedade dos Críticos de Cinema Online. E em mais lugar nenhum. Enfim, são uma boa possibilidade caso queiram sair do lugar comum. Mas é bom não se empolgar muito.

 

SEM CHANCES
Jojo Rabbit
Esta é a primeira indicação de Nora Sopková, enquanto que Ra Vincent está concorrendo pela segunda vez (foi indicado por O Hobbit: Uma Jornada Inesperada, 2012). Por Jojo Rabbit, ambos foram indicados também ao Bafta, ao ADG, ao prêmio dos críticos de Washington e ao da Sociedade dos Críticos de Cinema Online, tendo sido premiados apenas no Hollywood Film Awards. No entanto, ficaram de fora do Critics Choice, ao contrário dos colegas de O Irlandês (indicados a tudo) e de 1917 (estes, inclusive, foram premiados no Bafta). Na real, essa disputa está bem embolada, e fora os dois favoritos, nenhum parece ter muita chance. Nesse caso específico, a trama do filme do diretor Taika Waititi até possui belas cenas externas, mas a maior parte da sua ação se passa em interiores, diminuindo o alcance do trabalho dos diretores de arte – afinal, para piorar a situação, estamos falando de cenários afetados por uma guerra em pleno desenvolvimento, com escassez e racionamentos, mas sem estar, diretamente, no meio dos acontecimentos.

 

ESQUECIDO
Coringa
Vingadores: Ultimato (filme de fantasia) e Toy Story 4 (filme de animação) foram os outros dois vencedores do prêmio do Art Directors Guild. Seriam os dois, portanto, os “esquecidos” deste ano no Oscar? Pouco provável. Afinal, como dito acima, os votantes da Academia pouca importância dão aos títulos desses gêneros quando o assunto é direção de arte. Portanto, melhor direcionar a atenção aos que estavam na disputa de filmes de época, e entre esses, os esnobados no Oscar foram Ford vs Ferrari e Coringa. A situação de Mark Friedberg, responsável pelo último, é ainda mais grave, pois chegou a ser indicado também ao Bafta, ao Satellite e ao Critics Choice. A recriação de uma Nova Iorque decadente, corrompida, suja e violenta, palco para a demência e as loucuras de um homem à beira do abismo, é fundamental para que a trajetória do protagonista seja verossímil. Uma pena, portanto, não ter recebido esse justo reconhecimento.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.

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