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Sinopse

Bugsy deveria apenas viajar de Nova Iorque, nos Estado Unidos, para Los Angeles a fim de descobrir como dividir o território com o chefão local. Mas, ele acaba se apaixonando pela cidade, pelos filmes e sobretudo por Virginia.

Crítica

Quando Bugsy foi indicado a 10 Oscars na festa da Academia em 1992, muitos apontavam o longa-metragem como o bicho-papão da premiação. Afinal de contas, dentre seus concorrentes, um filme de terror ou uma animação Disney não seriam páreo para uma cinebiografia séria sobre um gângster que praticamente criou o conceito da Las Vegas que hoje conhecemos. Pois então. Quem conhece a história do Oscar sabe muito bem que O Silêncio dos Inocentes, mesmo lembrado em menor número de categorias, levou os cinco principais prêmios para casa. Das 10 indicações de Bugsy, apenas duas convertidas em louros (Direção de Arte e Figurino). Um banho de água fria para Warren Beatty que estava de aniversário naquele dia e, sendo produtor do filme, subiria ao palco caso Bugsy tivesse vencido.

Na trama, dirigida por Barry Levinson e escrita por James Toback, acompanhamos Benjamin “Bugsy” Siegel (Beatty) na principal empreitada de sua vida. Em viagem à Califórnia, longe dos olhos de sua esposa, Siegel se deleita com mulheres, gasta dinheiro adoidado e sonha em poder viver na capital do cinema. Quando conhece a bela atriz Virginia Hill (Annette Bening), sua vontade de mudança fica ainda maior. O relacionamento dos dois é explosivo – tanto pela paixão quanto pelas brigas – e durante uma viagem ao deserto de Nevada, Ben tem uma ideia maluca, porém genial: construir um cassino hotel, legitimando assim os seus negócios, bem como dos gângsteres com quem trabalha. Iniciando o projeto com US$ 1 milhão, a megalomania dos planos de Bugsy acaba inflacionando todo o empreendimento. Se a obra não der resultado, um dos melhores amigos de Siegel, o também gângster Meyer Lunsky (Ben Kingsley), terá de resolver a questão – de forma violenta, se necessário.

Visto em perspectiva, Bugsy se revela um veículo para Warren Beatty mostrar versatilidade como ator. Não é segredo que o eterno Clyde Barrow, de Bonnie e Clyde: Uma Rajada de Balas (1967), tem preferência por interpretar a si mesmo em cada novo trabalho, sendo duramente criticado por isso. Em Bugsy, a vontade era mudar. É verdade que Beatty acabou defendendo um personagem mulherengo e ególatra, características sempre associadas à persona do ator. Mas o temperamento explosivo mesclado ao bom coração daquele gângster seria material suficiente para mostrar a todos a grande paleta de emoções que ele poderia alcançar. Por um lado, deu certo: Warren Beatty foi indicado a vários prêmios por sua interpretação, ainda que não convença completamente em algumas cenas mais dramáticas. Por outro lado, a criação do personagem soa exageradamente falsa e, desde que o filme estreou, sempre existiu a dúvida se não pintavam Bugsy de forma romântica demais, esquecendo o fato de que ele fora responsável por muitas mortes a sangue frio.

Algumas destas mortes são mostradas, mas sempre com algum subterfúgio que o perdoasse. Seja a entrada brusca no escritório de um desafeto – que tem a violência minimizada com uma piada sobre camisas – seja a morte de um antigo amigo – que é “desculpada” pelo sujeito em questão ser um delator – muitas das ações de Ben são mascaradas pelo roteiro, que quer a todo custo que gostemos de Bugsy, que nos importemos com ele. Tarefa difícil quando vemos uma pessoa sendo jogada de uma vidraça por causa de um acesso de ciúme. O fato de o gângster oferecer um carro ao rapaz vítima da violência serve para lembrarmos como Bugsy é bacana – e não liga para dinheiro. O elenco de apoio é cheio de nomes conhecidos e com boas performances, com destaque para Joe Mantegna, Ben Kingsley e Harvey Keitel (estes dois últimos, indicados ao Oscar como coadjuvantes). Nenhum tem muito tempo para expandir seus personagens, mas suas boas interpretações acabam balanceando esta falha. Annette Bening é a única que ganha espaço para desenvolver sua inquieta personagem, mas não consegue sair da sombra de Warren Beatty. Se algo serviu para ambos, foi o casamento feliz que iniciou logo depois das filmagens de Bugsy e continua duradouro.

Apesar dos pesares, Barry Levinson consegue imprimir um bom ritmo ao filme, comanda bem o elenco e tem na premiada direção de arte uma aliada forte para transportar o espectador para a década de 40. A cena do primeiro beijo entre Bugsy e Virginia, com apenas suas silhuetas aparecendo na tela branca de um projetor, ou a sequência dos tiros no desfecho, com a mesma tela sendo alvejada, mostram um diretor competente e inventivo. Bugsy pode não ser o clássico instantâneo que os produtores procuraram conceber, mas é, tampouco, uma colossal perda de tempo para quem se aventura a conferir o longa-metragem. Apenas esperava-se mais dos talentos envolvidos.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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