Antigamente, esta categoria do Oscar era chamada de Direção de Arte. As figuras encarregadas de chefiar tal departamento, grosso modo, ajudam a conceber visualmente toda a produção, supervisionando mais tarde a disposição dos móveis, objetos e até dos atores nos cenários, sendo, assim, extremamente importantes para o equilíbrio dos elementos em cena, até porque faz parte também de suas atribuições balancear a equação que ainda conta com figurinos e possíveis efeitos visuais. Há boa dose de artesania nesse processo complexo. Os impulsos criativos são imprescindíveis para o sucesso de determinados trabalhos. Todos os profissionais que concorrem ao Oscar de Melhor Design de Produção em 2018 são bastante experientes, mas apenas um deles já possui uma cobiçada estatueta dourada em casa para chamar de sua. O que nos deixa com uma grande possibilidade de termos estreantes subindo ao palco da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, com o discurso em punho. Vamos saber, então, quais são os favoritos, os azarões e quem ainda pode surpreender nesta categoria? Confira.

 

Indicados

 

FAVORITO/TORCIDA: A Forma da Água (Paul Denham Austerberry, Shane Vieau e Jeff Melvin)
Aqui o favoritismo é determinado, principalmente, por duas coisas. Primeira delas: a vitória de Paul Denham Austerberry na categoria Filme de Época do Art Directors Guild Awards, prêmio conferido pelo Sindicato dos Diretores de Arte dos Estados Unidos. Segunda delas: a própria força de A Forma da Água na temporada de prêmios, que certamente influencia os votantes. Paul, Shane e Jeff nunca haviam sido indicados antes ao Oscar, e é grande a possibilidade deles transformarem tal nominação em vitória. Além disso, esse trabalho venceu o Critics Choice Awards e foi eleito o melhor do ano pelos críticos de Nevada, Phoenix, San Diego, San Francisco e St. Louis. Promete não ser um êxito dos mais fáceis, até porque temos um concorrente na cola do favorito, mas é bastante provável que o filme de Del Toro leve mais essa estatueta.  

 

NOS CALCANHARES DO FAVORITO: Blade Runner 2049 (Dennis Gassner e Alessandra Querzola)
Vencedor na categoria Filme de Fantasia do Art Directors Guild Awards, Dennis Gassner, que no Oscar é indicado em dupla com Alessandra Querzola, poderia muito bem incomodar os concorrentes da turma de Del Toro, isso não fosse o relativo fracasso de Blade Runner 2049. O longa-metragem de Denis Villeneuve não “aconteceu” de fato na temporada de prêmios, ganhando prioritariamente láureas técnicas. Mas, não se deve subestimar o histórico de Dennis, que soma, com esta, seis indicações ao Oscar e uma vitória pelo trabalho em Bugsy (1991), quando a categoria ainda se chamava Direção de Arte. Já Alessandra, embora debutando na briga pelo careca dourado da Academia, é uma profissional experiente, com indicações ao BAFTA e ao Emmy no seu vasto currículo. A colaboração deles foi escolhida a melhor pelos críticos da Flórida, de Las Vegas, Seatle e Washington. Estão, definitivamente, no páreo.

 

NADAR E MORRER, NA BEIRA DA PRAIA: O Destino de Uma Nação (Sarah Greenwood e Katie Spencer)
Derrotada pela galera de A Forma da Água no Art Directors Guild Awards, a dupla responsável pelo design da produção do longa-metragem dirigido por Joe Wright é tão competente que concorre consigo mesma no Oscar 2018, já que também é dela a função em A Bela e a Fera. Sempre juntas, ambas foram indicadas, no total, por seis longas-metragens diferentes. Colaboradoras contumazes de Wright, Sarah e Katie não ganharam algo significativo, além das indicações, claro, reconhecimentos ao esmero visto na produção do filme protagonizado por Gary Oldman. Não é, portanto, muito recomendável marcar uma eventual vitória delas no seu bolão, pois, ainda que sejam profissionais altamente gabaritadas e reconhecidas pelo mercado, há poucos indicativos concretos de uma possibilidade de vê-las, pela primeira vez, discursando como ganhadoras.

 

NADAR E MORRER, NA BEIRA DA PRAIA 2: O RETORNO DOS QUE NÃO FORAM: A Bela e a Fera (Sarah Greenwood e Katie Spencer)
Por todos os motivos explicados na análise das (poucas) chances de O Destino de Uma Nação nesta categoria, afinal a dupla responsável pelo design de produção aqui é a mesma, dá para dizer que só com uma boa surpresa A Bela e a Fera leva esse Oscar para casa. O longa-metragem de Bill Condon foi derrotado no Art Directors Guild Awards pelo time de Blade Runner 2049, o que reduziu ainda mais as suas possibilidades. Por A Bela e a Fera, Sarah Greenwood e Katie Spencer ainda tiveram uma indicação ao BAFTA, mas nem mesmo as associações de críticos, que, por serem muitas, acabam contemplando boa parte dos concorrentes do ano, elegeram a versão live-action da fábula como a portadora do melhor design de produção do ano. Ou seja, diante de tudo isso, dá para realmente imaginar que a probabilidade de uma vitória aqui é pequena.

 

SE GANHAR, É ZEBRA: Dunkirk (Nathan Crowley e Gary Fettis)
Dois artistas altamente conceituados são os responsáveis pelo design de produção de Dunkirk. Ambos possuem outras três indicações ao Oscar. Nenhuma vitória. No Art Directors Guild Awards perderam para o grupo de A Forma da Água. O drama de guerra de Christopher Nolan, cineasta com o qual a dupla colabora frequentemente, não foi agraciado com qualquer grande láurea nesta categoria. Portanto, fica bem complicado pegar o nosso suado dinheirinho e apostar no êxito de Nathan Crowley e Gary Fettis. Uma pena, na verdade, pois Dunkirk se beneficia sobremaneira da tarimba de ambos. Um filme de poucos cenários fechados, em que a experiência de Nathan e Gary é posta à prova, inclusive por se tratar de algo de época. É, gurizada, não vai ser desta vez que vocês poderão chamar de seu o carequinha da Academia.

 

ESNOBADO: The Post: A Guerra Secreta (Rick Carter, Kim Jennings e Deborah Jensen)
Escrutinando outras premiações, a gente perceber que, com poucas variações, os mesmos filmes acabaram sendo destacados na categoria Design de Produção. Mas, vamos pensar bem, não está faltando o trio de The Post: A Guerra Secreta entre os indicados ao Oscar? Rick Carter é um veterano da festa da Academia, já tendo duas estatuetas em sua estante, por Avatar (2009) e Lincoln (2013). Kim Jennings e Deborah Jensen estreariam no Oscar, afinal nunca foram lembradas. É, cá para nós, o trabalho dessa trinca é digno de reconhecimento, pela maneira como articula os elementos para criar uma ambiência de importância capital ao êxito do longa-metragem de Steven Spielberg. Uma pena, contudo, que não os veremos sentados na plateia, torcendo pela própria vitória no dia 4 de março.

:: Confira aqui as nossas análises das demais categorias ::

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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