Adriana Esteves é um rosto para lá de conhecido. Com décadas de carreira, se tornou, incontestavelmente, uma estrela de primeira grandeza. Intérprete de alguns personagens icônicos da recente teledramaturgia brasileira – alô, alô Carminha –, a atriz tem marcado, também, presença nas telonas. De volta à serra gaúcha para apresentar Benzinho (2018), ela recebeu o Papo de Cinema para esta conversa no hall do hotel em que está hospedada. Não foi uma missão fácil, por conta do carinho dos fãs que a abordaram sucessivamente nos dez minutos em que a nosso bate-papo durou. Solícita e simpática, atendeu a todos e, concomitantemente, conversou conosco sobre seu papel no filme de Gustavo Pizzi, em que interpreta a irmã da protagonista. Sônia é uma mulher constantemente posta à prova pela violência do ex-marido. Enquanto dá aparo à irmã e lida com o filho de um casamento falido, ela precisa se resguardar dos rompantes de agressividade de Alan (César Troncoso). Sem mais delongas, confira o nosso Papo de Cinema com a atriz Adriana Esteves, um das presenças ilustres do 46º Festival de Gramado.

 

Adriana, o que lhe motivou a aceitar o papel em Benzinho?
Foi a relação familiar, sobretudo a das duas irmãs. Sou muito mãezona. Minha visão da maternidade já teve várias perspectivas. Lidei antes com os pequenos, e depois com eles maiores. Isso de um filho ir morar no exterior não é bem assim, principalmente para uma família classe média como a do filme. É uma baita aposta. Há uns anos, quando não havia internet, então, deveria ser um sofrimento maior. Hoje lidamos com isso de maneira praticamente natural. Tenho sobrinhos, filhos da minha irmã, que foram estudar fora, um com 15 e o outro com 18 anos. No início, disse a ela: “Nossa, como você é louca”. Mas, na verdade, a relação é um barato. Eles veem ao Brasil duas vezes ao ano. Acabo conversando com ambos mais do que com os sobrinhos e afilhados que moram na mesma cidade que eu.

 

Sua personagem é marcada pela violência doméstica. Chegou a fazer alguma preparação para abordar isso ou foi basicamente guiada pela orientação do diretor?
Esse é um assunto bastante atual e importante. Imprescindível que seja discutido. Além do que vinha do roteiro e das indicações do diretor, utilizei coisas que estavam no meu coração e em minha opinião para abordar esse viés.

 

Em Benzinho você é coadjuvante, aliás, como em vários de seus filmes recentes. Como você vê essa condição?
Isso de ser a protagonista não é relevante para mim. Quero contar grandes histórias com pessoas queridas. Assim que o Gustavo me mandou o roteiro, fui assistir ao seu filme anterior, o Riscado (2010). Vi essa baita atriz que é a Karine Teles. São pessoas que me interessam, lugares em que desejo estar. Além disso, estava ali novamente o Otávio Müller, responsável pela minha ponte com o Gustavo e a Karine. Independentemente de ser muito meu amigo, ele é um baita ator, um cara das artes, do cinema e do teatro, que está unindo as pessoas em projetos. O Otávio tem um pensamento bem parecido com o meu, justamente o de não se importar com isso de protagonismo e coadjuvância. Exercer a profissão numa obra assim é mais importante, pois tão gratificante.

 

Pelo que percebemos nos bastidores, o time de Benzinho formou uma família, mesmo…
Tivemos 15 ou 20 dias de preparação e cerca de um mês de filmagem. Para ter uma ideia dessa união que você menciona, as pessoas faziam questão de estar nas filmagens, mesmo as das cenas em que não tinham participação. De fato, formamos um grupão de gente com o mesmo intuito. Nos apegamos a todos.

Chegando com a equipe para apresentar “Benzinho” no Festival de Gramado – Foto: Edison Vara

Ultimamente você tem dedicado bastante tempo ao cinema. É uma redescoberta de sua paixão pela telona?
Sempre foi uma enorme paixão. Quero ter cada vez mais oportunidades de fazer cinema, de poder aceitar os convites. Curiosamente, estava saindo de grandes papeis televisivos quando aceitei participar de meus três últimos filmes – Canastra Suja (2018), Benzinho e Marighella (ainda inédito). Eram momentos em que eu desejava descansar e ficar em casa. Mas, vieram esses convites lindos e topei de cara. Nunca aceitei algo que ficou perambulando na minha mesa. Se não me apaixono de cara, não rola. Quero estar aberta a determinadas joias do cinema. Não posso deixar a televisão me exaurir, de maneira nenhuma. Nessas três situações o cinema me reabasteceu e me permitiu renovação.

 

Como percebe essa recente valorização das narrativas e das personagens femininas pelo cinema brasileiro?
Acredito que o cinema brasileiro exponha o que o povo precisa falar. O cinema acompanha, carrega e grita junto. Nada mais é do que um grande engajamento, necessário e urgente.

No Festival de Gramado – Foto: Edison Vara

O que você pode nos adiantar de Marighella?
Foi realmente lindo ter conhecido o meu grande amigo Wagner Moura como diretor. Ótimo ter trabalhado com Seu Jorge, por quem tenho admiração muito forte. Interpreto a Dona Clara Charf, o grande amor da vida de Marighella, sua viúva. Conhecê-la foi muito importante também. Nesse ofício, alguns personagens propiciam isso de ter contato com um pouco mais da nossa História. Eles nos dão a oportunidade de um crescimento pessoal grande que, por sua vez, alimenta nosso trabalho no cinema.

 

(Entrevista concedida no Festival de Gramado, em agosto de 2018)

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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