Gavião Arqueiro :: T01
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Tanner Bean, Jonathan Igla, Katrina Mathewson
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Hawkeye T01
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2021
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EUA
Crítica
Leitores
Sinopse
Clint Barton, ex-vingador, deseja apenas voltar para casa de sua família durante as festas de fim de ano. A tarefa se mostra mais difícil do que ele imaginava, porém o super-herói tem a ajuda da jovem arqueira Kate Bishop. A parceria com ela se torna essencial quando Barton passa a ser ameaçado por entidades do passado.
Crítica
O Universo Cinematográfico Marvel, graças ao sucesso imenso dos seus diversos longas, tem se expandido mais e mais, indo além dos personagens populares – Homem de Ferro, Capitão América, Homem-Aranha – e abrindo espaço para outros não tão conhecidos – Guardiões da Galáxia, Eternos – mas igualmente bem-sucedidos na tela grande. Com a aquisição pela Disney e o consequente lançamento de uma plataforma de streaming própria, percebeu-se a necessidade de produção de conteúdo específico para essa outra mídia. Só que ao invés de simplesmente reinventar a roda e pensar em algo novo, o que se fez foi aproveitar um conceito que estava dando certo – porém, na concorrência. Demolidor, Jessica Jones, Luke Cage e Punho de Ferro ganharam programas próprios na Netflix, e após essa experiência, a Disney/Marvel deu início, com WandaVision (2021), a uma nova linha de atrações similares. Na sequência vieram Falcão e Soldado Invernal (2021) e Loki (2021). Ao contrário dos anteriores, mais obscuros, os escolhidos nessa segunda leva ou são coadjuvantes de peso, ou figuras bastante carismáticas. Exatamente onde se encaixa o protagonista de Gavião Arqueiro.
Pensado inicialmente como um longa-metragem, a trama dedicada ao herói com arco e flechas talvez tivesse o mesmo destino de Viúva Negra (2021), servindo para prestar uma homenagem “por serviços prestados”, e não tanto com o que agregar ao cenário no qual se passa. No entanto, o que os dois projetos possuem em comum, assim como o citado Falcão e o Soldado Invernal, é servir como “passagem de bastão”. Ou seja, são programas feitos especificamente para apresentar os substitutos de velhos heróis. Se um introduziu a nova Viúva (afinal, a anterior está literalmente morta), e o outro serviu para testar um Capitão América negro, é chegada a vez do Gavião Arqueiro ganhar sua versão “feminina”. A questão é de ordem prática: Scarlett Johansson, Chris Evans e Jeremy Renner estão nessa de “mocinho e bandido” há mais de uma década, seus contratos iniciais foram cumpridos e agora, após tal fenômeno, se tornaram “caros”, mesmo para os padrões Disney. O mesmo se deu com Robert Downey Jr e seu Homem de Ferro: afinal, o Homem-Aranha de Tom Holland tem toda a pinta de assumir a liderança da equipe num futuro próximo.
Pois bem, quem esperava uma história solo de Clint Bartow, irá se decepcionar diante da minissérie Gavião Arqueiro (não foi confirmada se haverá, ou não, uma segunda temporada). Nesse sentido, o melhor seria estar atento ao título original: Hawkeye, que não possui gênero (ao contrário do batismo nacional, que aponta, ainda que equivocadamente, para o masculino). Nesse sentido, o nome tanto poderia ser uma referência ao herói de Renner, como também à personagem Kate Bishop, interpretada com uma jovialidade contagiante por Hailee Steinfeld. Aliás, a história começa não com ele, mas centrada nela, apresentando-a num ambiente colegial, partindo para um flashback com o intento de mostrar sua infância – e a origem do seu interesse pela atividade de arqueira, em uma emocionante ponte com o primeiro Os Vingadores (2012) – e, só depois, entrando aos poucos no estado atual de Bartow. Não seria, portanto, mais apropriado o título Gaviã Arqueira (sic)?
O Blip de Thanos é passado, os Vingadores salvaram a humanidade, mas nem por isso deixam de carregar suas cicatrizes. E a de Bartow é uma das mais profundas: a morte da colega e melhor amiga Natasha Romanoff. A despeito do que acontece em apenas seis episódios de Gavião Arqueiro, talvez a presença mais constante seja, justamente, a da Viúva. São feitas referências a ela em cada um dos capítulos, e é o pesar por sua partida que move muitas das ações do Gavião, mas não somente dele: Yelena Romanoff (Florence Pugh, apresentada em Viúva Negra, 2021) está de volta, e com sede de sangue – como boa assassina sob contrato, quer se vingar da morte da irmã, tendo sido levada a acreditar que o herói seria o real culpado. Mas esta não é a única dor de cabeça dele: há essa novata que não sei do seu pé (Kate, que insiste em se ver como sua “parceira”), uma gangue de bandidos um tanto atrapalhados (os “Agasalhos”) e a líder deles, uma irascível lutadora surda-muda e com um pé prostético que, a despeito de sua condição, o enfrenta de igual para igual. Há espaço até mesmo para um poderoso empresário, já visto anteriormente, que volta para cobrar antigas dívidas (sua aparição é uma das melhores surpresas da trama).
Além do que fora descrito acima, Bartow precisa, ainda, cumprir a promessa familiar de estar de volta em casa a tempo do Natal – e faltam menos de cinco dias para a data festiva. É nesse período que a trama desenvolvida por Jonathan Igla (indicado ao Emmy por Bridgerton, 2020) se concentra. A escolha temporal não é ao acaso: há um tom cômico, por vezes ingênuo, na maior parte das vezes quase infantil, dominando a narrativa. Mesmo quando presos, os protagonistas são colocados em cavalos de carrossel, e quando escapam, e pelo meio de camas de bolinhas e árvores natalinas. A ambientação é proposital para tornar natural a presença de uma adolescente (embora a atriz esteja com 25 anos). Steinfeld, que fora indicada ao Oscar por sua estreia no cinema (Bravura Indômita, 2010), oferece uma vivacidade e um desprendimento que funciona com precisão como contraponto à tristeza e desilusão daquele que acaba lhe servindo como mentor. É o ânimo necessário até mesmo para lhe injetar disposição para tanto corrigir erros do passado (Ronin?) como também aparar arestas para o futuro (Yelena, quem mais?).
Feitas as devidas apresentações e superada uma inadequação proposital, Clint Bartow e Kate Bishop se mostram como uma dupla dinâmica que remete direto a uma famosa parceria da editora concorrente (curiosamente, também desprovida de poderes, mas igualmente dotada de astúcia e engenhosa artilharia). Se as cenas de ação deixam a desejar – e nem mesmo os efeitos visuais se mostram impressionantes – isso é porque as séries anteriores do estúdio se encarregaram desses atrativos. Em Gavião Arqueiro, o interesse está naqueles responsáveis pelos atos em curso, sejam em sua grande maioria heróis – ou vilões – em potencial. Essa presença tanto pode ser concreta, como também na forma de escapismo fantasioso de jogos de amigos ou da alegria musical dos palcos. Jeremy Renner fez mais do que se esperava como uma figura desprovida de atrativos óbvios em sua manifestação cinematográfica, ganhando histórico e muito pelo que lutar, mas é sabido que sua jornada está completa. E se “rei morto, rei posto”, que Hailee Steinfeld seja bem-vinda. O aperitivo que aqui oferece pode não ser o bastante para satisfazer as expectativas, mas é suficiente para aumentar o empenho das apostas.
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