Crítica


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Sinopse

Castle Rock é uma cidade fictícia localizada em Maine, nos Estados Unidos. Lá, passado e presente se cruzam através das histórias de terror vividas e sentidas por seus moradores. Nesta estranha localidade, todo o universo de Stephen King se encontra.

Crítica

Como era de se esperar, pelo andar da carruagem no segundo episódio, Molly (Melanie Lynskey) ganha ainda mais representatividade neste terceiro fragmento. A começar pela rememoração estarrecedora do episódio que, ao mesmo tempo, esclarece determinadas circunstâncias capitais do passado e lança uma sombra de maior mistério sobre a personagem. Logo descobrimos que ela possui uma capacidade extraordinária de experienciar as sensações de outrem, chegando a ouvir vozes. Recorrer a remédios frequentemente é a forma encontrada para abafar esse traço inconveniente, que provavelmente a fez cometer uma atrocidade, cujos resquícios não foram devidamente mensurados. Aos poucos, Castle Rock vai colocando suas cartas na mesa, não se apegando estritamente aos enigmas, aparentemente os resolvendo para ora abrir espaço aos novos que vêm, ora investir no entrecruzamento de conjunturas que fogem ao racional, acrescentando tensão ao relacionamento das pessoas.

Investindo em menos focos de abordagens que seu predecessor, o terceiro episódio de Castle Rock é um pouco morno, mas não menos revelador de certos contornos. Resguardando um pouco a figura do prisioneiro misterioso (Bill Skarsgård), poupando-o para o, finalmente, encontro com Henry (André Holland), a trama é centralizada na mulher que, num primeiro momento, mente ao antigo amigo da infância, forjando uma indiferença para fugir da influência que ele tem sobre ela. Nos detalhes dá para perceber que Molly provavelmente agiu violentamente outrora para protegê-lo. Os mortos voltam para assombrar seu sono, protagonizando pesadelos encenados como se fossem um aviso do além. Daniel Attias, o diretor, garante a manutenção da atmosfera densa de tensão, tornando recorrentes os planos de casas antigas com telhados pontiagudos, revelando uma arquitetura bastante peculiar, própria para ambientar um enredo permeado por figuras tão pitorescas e próprias do horror.

Grande parte da duração do terceiro episódio se dá na deflagração de um vínculo entre Henry e Molly, com flashbacks apresentando a intimidade que os levava a frequentar a casa um do outro. O advogado é uma espécie de vértice, se nesta equação enigmática colocarmos o prisioneiro misterioso que repete o seu nome, cumprindo ordens do suicida ex-diretor de Shawshank. O vislumbre de um julgamento encenado por crianças utilizando máscaras de papelão ajuda a manter o decurso do enredo num terreno pantanoso, contrapondo-se a uma tendência aqui vigente de recorrer, como muleta, aos diálogos expositivos. Pode-se fazer um link entre a reunião estranha e a leitura do detento falecido anteriormente do romance O Senhor das Moscas, de William Golding. A ocorrência na televisão serve apenas para soterrar algumas pretensões e a fim de fornecer o subterfúgio necessário ao encontro do defensor com o sujeito sem nome que supostamente vai representar na ação contra a prisão agora privada.

Castle Rock segue ampliando seu escopo, assimilando novas informações e camadas de leitura possíveis. Acrescido de peso dramático pelo depoimento póstumo de seu captor no episódio passado, o personagem de Bill Skarsgård passa longe de ser entendido como vítima, a não ser pelos processos mundanos de uma legalidade que não leva em consideração a existência do bem e do mal. Embora não tache as coisas, a condução nos induz a entender que os esforços nobres do protagonista para garantir a soltura podem gerar efeitos absolutamente catastróficos. A série continua se ancorando com habilidade nesse jogo de ambiguidades, aqui levemente minimizado pela direção menos inspirada e o roteiro aquém dos predecessores, mas suficientemente substanciais para não deixar a peteca cair. Sobra espaço para Molly ser acossada por um fantasma de seus atos, figura não estrita à realidade. Mas, é provável que macabros espíritos vingativos também façam parte do cardápio saboroso dessa série ótima.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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